70 Anos do Bombardeio Sobre Guernica, Assim Como Um Dia Foi Sobre Varsóvia, Leningrado, Hiroshima, Nagasaki, Hanói... Faluja.

Montagem sobre "Guernica", de Pablo Picasso.
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Dedico esta publicação aos meus amigos Filipe e Renatinha Reis, conhecedores "in loco" da problemática basca.
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O que leva uma parte da população basca, através do ETA, a pegar em armas e cometer tantos atentados "bombistas" e bombásticos contra os seus “irmãos” espanhóis? Será que a luta pela separação da Espanha justifica tais atos? Ocorre que a autonomia que lhes foi concedida pelo Estado espanhol não a contentou. Afirmam que querem ser livres! Por isso sempre acreditei que liberdade não se dá a ninguém. Cada um que lute com todas as armas que dispuser e a conquiste, para que um dia, o “benfeitor” não reclame o presente para si. A luta do povo basco é contra o fim da sua própria existência e identidade como povo, a sua total castelhanização, o “etnocídio” que se propõe.
A barbárie que ocorre nesta região europeia, desde os finais do século XIX, é dificil de ser explicada se não levarmos em conta as causas mais profundas deste conflito que tantas mortes já provocou.
A mais brutal de todas, foi há setenta anos. Era uma 2ª feira, dia de feira-livre na pequena cidade da Biscaia. Das redondezas chegavam pelas suas estreitas ruas, os camponeses do vale de Guernica, no país dos bascos, trazendo seus produtos para o grande encontro semanal. A praça ainda estava bem movimentada quando, antes das cinco da tarde, os sinos começaram os seus badalos. Tratava-se de mais uma incursão aérea. Até aquele dia fatídico - 26 de abril de 1937 - Guernica só havia visto os aviões nazistas da Legião Condor passarem sobre ela em direção a alvos “mais importantes”, situados mais além, em Bilbao. Mas, aquela 2ª feira foi diferente: a primeira leva de Heinkels-11 nazistas despejou suas bombas sobre a cidadezinha precisamente às 16:45 horas. Durante as 2 horas e 45 minutos seguintes, os moradores viram o inferno desabar sobre eles. Estonteados e desesperados saíram para aos arredores do lugarejo onde mortíferas rajadas de metralhadoras disparadas pelos caças os mataram às centenas. No fim da jornada contaram-se 1.654 mortos e 889 feridos, numa população não superior a 7 mil habitantes. Quase 40% haviam sido mortos ou atingidos.
A escolha da pequena Guernica deveu-se a vários motivos. A cidade era um alvo fácil, sem proteção antiaérea, além de não ter uma população numerosa. Além disso abrigava um velho carvalho (Guernikako arbola) embaixo do qual os monarcas espanhóis ou seus legados, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e costumes dos bascos, bem como as decisões da batzarraks (o conselho basco). Como o levante de Franco foi também contra a autonomia regional, a destruição de Guernica serviria como uma lição a todos os que imaginavam uma Espanha federalista ou descentralizada.
Estéticamente quem melhor captou esse sentimento foi Pablo Picasso. Vivendo em Paris desde o início do século, já era uma celebridade quando o Governo da Frente Popular o procurou para que fizesse algumas telas para arrecadar fundos para a República. A violência e a indignação que causou o bombardeio fez com que ele se concentrasse por 5 meses numa grande tela, quase um mural (350,5 x 782,3). Sua primeira aparição deu-se numa Exposição Internacional sobre a Vida Moderna em Paris, no dia 4 de junho de 1937. O público virou-lhe as costas. Não era algo belo de ser visto. Picasso, para retratar o clima sombrio que envolvia o desastre, utilizou-se da cor negra, do cinza e do branco. Como nunca a máxima de Giulio Argan segundo a qual a "arte não é efusão lírica, é problema" tenha sido tão explicitada, como na composição de Picasso. O painel encontra-se dominado no alto pela luz de um olho-lâmpada - símbolo da mortífera tecnologia - seguida de duas figuras de animais. No centro um cavalo apavorado, em disparada, representa as forças irracionais da destruição. À direita dele, impassível, um perfil picassiano de um touro imóvel. Talvez simbolize a Espanha em guerra civil, impotente perante a destruição que a envolvia. Logo abaixo do touro, encontramos uma mãe com o filho morto no colo. Ela clama aos céus por uma intervenção. Trata-se da moderna Pietá de Picasso. Uma figura masculina, geometricamente esquartejada, domina as partes inferiores. À direita, uma mulher com seios expostos e grávida, voltada para a luz, implora pela vida, enquanto outra, incinerada, ergue inutilmente os braços para o vazio, enquanto uma casa arde em chamas. Naquele caos a tecnologia aparece esmagando a vida.

Guernica, de Pablo Picasso.
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