Gorilas, Chimpanzés e Orangotangos.

Por que os matamos ou enjaulamos?
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Ainda lembro da imensa alegria que senti quando, num artigo da Folha de São Paulo, tomei conhecimento da existência do contemporâneo filósofo australiano Peter Singer e de alguns dos seus melhores e mais provocantes escritos. Antes desse artigo, eu achava que estava sozinho no entendimento de alguns dos assuntos mais polêmicos da atualidade, tais como a maneira desonesta como tratamos todos os outros animais, a irresponsabilidade com o meio ambiente e a insistência em darmos ouvido a religiosos quanto a questões como o aborto, o infanticídio e a eutanásia. Claro que é um exagero dizer que me achava só no entendimento dessas questões, principalmente a do meio ambiente, mas, sempre que expunha meus pensamentos sobre esses temas, percebia inquietações no interlocutor. Saber da existência de um filósofo tão conceituado, há anos empenhado em defender a incomparável perspectiva dos fundamentos e das aplicações da filosofia que lhe orientava, surgiu como a mão amiga que é estendida ao náufrago. Resolvi comprar imediatamente o seu “Vida Ética” por oferecer uma coletânea bem abrangente dos seus melhores livros e escritos.

Em seu livro “Libertação Animal” a principal tese defendida por Singer é a de que o princípio fundamental de igualdade que nos autoriza a considerar como iguais todos os seres humanos – o princípio da igual consideração de interesses – deveria ser aplicado a todos os seres que têm interesses. Como todos os seres capazes de sentir prazer e dor têm interesses, aí estão incluídos todos os mamíferos; de fato, todos os vertebrados, e, provavelmente, muitos invertebrados também. O filósofo, admitindo a impossibilidade de se colocar em prática já, tais sugestões, principalmente por problemas econômicos e políticos, volta ao tema em “Vida Ética”, direcionando o foco ao seu Projeto dos Grandes Primatas.

O Projeto Grandes Primatas, criado por Singer e outros cientistas, sugere que chegou o momento de um novo olhar, de uma nova idéia sobre as relações entre humanos e os chimpanzés, orangotangos e gorilas, estendendo a comunidade moral para além dos seres humanos, de modo a abranger também esses animais.

A “comunidade de iguais” abarcaria todos os primatas de grande porte, e não apenas os membros de nossa própria espécie, querendo dizer que é uma comunidade moral no interior da qual os princípios éticos e legais mais fundamentais, se aplicariam a todos os membros.

No momento presente, em qualquer sociedade humana civilizada, somente os seres humanos são reconhecidos como detentores do direito à vida, do direito a não serem torturados e do direito a não serem presos sem a devida formação de culpa. Padrões éticos internacionalmente aceitos reconhecem que todos os seres humanos possuem esses mesmos direitos fundamentais - e que somente os seres humanos os possuem.

O princípio central do Projeto Grandes Primatas é o de que a recusa desses direitos básicos aos grandes primatas é indefensável do ponto de vista ético.

Claro que os menos sensíveis aos problemas alheios acham risíveis, idéias como a de estender direitos fundamentais “humanos” a chimpanzés, gorilas e orangotangos. Mas, o que uma geração acha ridículo, a geração seguinte aceita; e, ao olhar para trás e ver os atos da primeira, a terceira geração estremece. Conservo o hábito de me imaginar a quinhentos anos à frente passando um “rabo-de-olho” para os dias de hoje, e me vendo no cerne da polêmica que me inquieta. Este olhar pelo retrovisor não tem me decepcionado mas, confesso, tem-me levado em direção a uma abordagem mais generosa, deixando de lado posturas racistas, sexistas e especistas.

Com certeza, muitos aparecerão para considerar errada a preocupação em estender direitos aos macacos, quando tantos seres humanos não podem desfrutar dos direitos básicos que, segundo várias Declarações de Direitos das Nações Unidas, eles já possuem. É inegável que os seres humanos precisam de maior proteção em relação ao assassinato, ao encarceramento arbitrário e, principalmente, à tortura; mas, por que seria isso uma razão para não se fazer coisa alguma em relação aos direitos dos que estão fora de nossa espécie?

Quando se insiste em que as nações desenvolvidas deveriam estar dando uma ajuda muito maior aos que estão na iminência de morrer de fome nas nações do Terceiro Mundo e principalmente em países da África sub-saariana, frequentemente recebemos como resposta: “Será que já não temos bastante gente precisando de ajuda, aqui mesmo no país?” Sim, temos, mas se formos esperar até ficar tudo perfeito em nossa casa, nunca faremos nada por quem vive distante, onde a necessidade muitas vezes é mais aguda, e as soluções, mais evidentes.

O mesmo se aplica aos esforços de Peter Singer para impedir que os grandes símios sejam objeto de assassinato, de confinamento arbitrário e da imposição de dor e de doença.

Eles não podem ficar esperando até termos resolvido todos os problemas de abusos cometidos contra os seres humanos.

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Comentários

  1. Tão bom seria,acreditar nessa igualdade. Mas parece tão distante,as pessoas tornando-se cada vez mais mesquinhas e individualistas. É uma pena!
    Com carinho,
    Nadja.

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