Feliz Aniversário, Meu Filho
Dei sinal de luz alta para acordar o porteiro do prédio
que cochilava na guarita de acesso ao prédio onde morávamos.
Eram três e meia da madrugada, e eu voltava de mais uma
noitada de trabalho intenso nos meus dois bares de então: O “El Bodegón” –
barzinho típico cubano, e o “El Paso Cabaret” – casa mexicana dançante na revitalização doRecife antigo.
Ao tomar o elevador,
entrou comigo uma amiga da família, Márcia, que devia estar esperando esta
oportunidade, já que não é afeita a noitadas.
Com a calma e simpatia
que lhe são características, falou: - “Rodolfo, eu preciso ir outra hora à sua
casa conversar com vocês.” Imediatamente me vieram à lembrança as traquinagens
do meu filho caçula, na época com oito anos.
Respondi rápido, torcendo para estar certo: - “Meu caçula aprontou
alguma!” E ela, apenas com a cabeça, respondeu que não. Agora tenso, passei à
segunda opção: “O meu 'mais velho' engravidou a namorada!” E Márcia, ainda com a
cabeça, mas agora contrariada, respondeu que sim...
Naquele tempo eu ainda
tomava uns drinques, e havia feito isso naquela noite. Sarei imediatamente.
Passei o resto da
madrugada em claro, e às seis acordei e fui ao quarto dos três filhos homens.
Encontrei-o ainda deitado mas acordado, de olhos fechados, balançando ansiosamente um dos pés, e
com o braço dobrado sobre os olhos. Ajoelhei-me ao seu lado e perguntei,
colocando minha mão sobre seu braço: “Está tudo bem, meu filho?” E ele, apenas
com a cabeça, respondeu que sim.
Eu sofria imensamente ao
imaginar o que ele estava sentindo, então não me conformei com a resposta e
insisti: “Está tudo bem mesmo, filho?” E ele, me convocando para dividir aquela angústia
com ele, respondeu que não.
Imediatamente, bati
rápida e suavemente com a mão sobre seu braço e assumi o comando: “Levante,
vamos para a praia, precisamos conversar.”
Poucos minutos depois
estávamos em Boa Viagem.
Com o braço sobre seu
ombro, perguntei: “Filho, é verdade que sua namorada está grávida de você?”
- É verdade, pai.
E chorou.
Choramos...
Abracei-o forte, e
perguntei: “Mas meu filho, por que não me disse antes. Por que carregou sozinho
um problema desses?” E ele, agora me olhando nos olhos, respondeu: “Você me
alertava todo dia para que tivesse cuidado com isso, daí eu fiquei receoso de
lhe contar”.
Realmente, todos os
dias, ao levá-los ao colégio (ele como mais velho ia ao meu lado, no carro),
pedia-lhe isso: “Cuidado, meu filho, para não engravidar ninguém. Você tem
apenas 15 anos e isso pode atrapalhar sua vida.”
Na verdade, essa minha preocupação
vinha de uma cena que observara da área de serviço do nosso
apartamento meses antes: sua namorada sentada em um dos bancos do mezanino, enquanto
ele deitado de costas e com a cabeça em seus braços era beijado
demorada e ardentemente. Minha nora tinha então 14 anos e seu pai não sabia sequer que ela já tinha namorado.
Foram dias muito
difíceis, de muitas incertezas, de mudanças de planos, mas não de rumo.
Esse acontecimento nos uniu a todos em torno daquelas duas crianças. A gravidez já estava no quinto mês, e minha primeira neta nasceu em meados de janeiro de 1995, me transformando no vovô mais jovem das redondezas.
Esse acontecimento nos uniu a todos em torno daquelas duas crianças. A gravidez já estava no quinto mês, e minha primeira neta nasceu em meados de janeiro de 1995, me transformando no vovô mais jovem das redondezas.
Nunca entregaram sua
filha para os avós e sairam para curtir a adolescência. Não a tiveram. Tornaram-se adultos num piscar de olhos. Minha nora é uma mulher admirável, de personalidade forte e marcante.
Costumo dizer a meu
filho que a vida o convocou para ser adulto quando ainda era criança, e ele, de
pronto, respondeu a ela: “PRESENTE!”
Casaram-se anos depois, com
as DUAS filhas como damas de honra a conduzir as alianças.
Todos chorávamos.
Agora são três filhas
lindas e saudáveis, e eles dois, quando nos reunimos mensalmente para um churrasco e comidinhas japonesas, ainda se beijam ardentemente, como naquela tarde, há dezoito
anos atrás.
Hoje é
aniversário dele...
Feliz aniversário, meu
filho.
ÊTA Paizão que ama imensamente os filhos!!! É muito bom ver, ler e conviver com isso. Não conheço, até agora, nenhuma outra pessoa que tenha tamanha dedicação, entusiasmo, generosidade, carinho e sobretudo respeito com os filhos do que você, Rodolfo.
ResponderExcluirSou sua fã demais por isso e tenho absoluta certeza, que o elo existente entre pais e filhos é uma das ligações mais fortes da natureza.
Nadja Rolim
Vasconcellos,como vc é abençoado!!!!Que história mais linda!.Que pai maravilhoso vc foi nesse momento tão difícil para o seu filho,sendo ainda adolescente e tendo que deixar muita coisa de lado,como os estudos,para enfrentar uma responsabilidade ainda precoce para os dois.Você me fez chorar.Consegui ler tudo, muito emocionada,parei várias vezes mas cheguei até o fim.Parabéns ao seu filho,que está aniversariando hoje,parabéns ao casal, que tenho certeza ,foi com muito sacrifício , chegaram até aqui.Parabéns ao VOVÔ,pela postura que teve ,dando o apoio e as palavras certas que ele estava esperando ouvir.Eu sempre falo para as minhas amigas quando isso acontece: "Fique feliz,antes Mais UM do que Menos UM".Um grande beijo Cris
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