O BANCO DO "BRICS" - O Brasil não cedeu nada, como insinua a mídia abutre
Unidos contra o inimigo comum, que vai provar do seu próprio veneno.
Picuinhas, mesquinharia e
má-fé da mídia
por Luciano
Martins Costa, no Observatório da Imprensa
Na primeira página do Estado
de S. Paulo, a principal notícia de Política desta quinta-feira
(17/7) afirma que, de olho na eleição deste ano, a campanha da presidente Dilma
Rousseff vai adotar temas de seus principais adversários, o senador Aécio Neves
(PSDB) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB).
Na Folha
de S. Paulo, a principal chamada de Política na primeira página
anuncia que Aécio Neves pretende “aprimorar” os programas sociais criados pelos
governos do Partido dos Trabalhadores.
Como na canção popular,
“detalhes tão pequenos” e outros mais gritantes fazem a rotina da manipulação
de informações que caracteriza o noticiário da imprensa hegemônica. No caso em
questão, o Estado faz uma inversão de valores tão escandalosa que autoriza a
desconfiar que seus editores perderam completamente o respeito pelo leitor.
Tanto o Estado como
a Folha e
o Globo noticiam
que o candidato do PSDB pretende adotar e “melhorar” o programa Mais Médicos,
lançado no ano passado pelo governo federal sob críticas de entidades
representativas dos profissionais de saúde, que chegaram a fazer manifestações
de protesto nas grandes cidades contra a vinda de médicos estrangeiros.
Como é de conhecimento
geral, o então senador Aécio Neves e outros líderes de seu partido condenaram o
projeto. Nesta quinta-feira (17/7), ele recebeu o apoio da Associação Médica
Brasileira.
Ora, não é preciso ser o
gênio da estratégia em política para perceber que, em qualquer disputa
eleitoral, quem está na liderança tende a ser copiado, naquilo que dá certo,
pelos que tentam subir na escala das preferências.
Pode parecer mera picuinha
observar essas mesquinharias da cobertura jornalística, mas o fato é que,
obcecados em derrubar do poder o grupo que vence as eleições presidenciais
deste 2002, os principais meios de comunicação do País têm se especializado
exatamente nisso: picuinhas e mesquinharias.
A mesma vira-latice
Observe-se, por exemplo, a
cobertura dos jornais genéricos de circulação nacional sobre a reunião dos
líderes de países emergentes e o movimento de aproximação com a América Latina,
patrocinado pelo governo brasileiro. Usando a Copa do Mundo como oportunidade
para reunir dirigentes dos países que formam o bloco conhecido como Brics, a
presidente da República protagoniza um evento importante na busca do equilíbrio
entre as forças econômicas e políticas do planeta.
Em qualquer outro país,
esse seria o tom predominante no noticiário sobre a 6ª Cúpula dos Brics,
encerrada nesta quinta-feira. Aliás, esse é o tom geral da mídia internacional,
desde a agência americana Bloomberg até chinesa Xinhua, ou Nova China.
Entre as principais
decisões anunciadas, certamente a criação de um banco a ser compartilhado entre
os países do bloco é a mais relevante, porque representa mais autonomia
econômica para o conjunto de nações emergentes, que passará a contar com uma
fonte de financiamento independente das instituições dominadas pelos Estados
Unidos e a Europa.
O evento marca outros
acontecimentos importantes, como a aproximação entre Rússia, Índia, China e
África do Sul e os latino-americanos liderados pelo Brasil, bem como contribui
para aliviar as tensões geopolíticas ao proporcionar uma janela de oportunidade
para os russos, cercados de sanções por parte de americanos e europeus em
função da crise na Ucrânia.
Em qualquer outro país, a
imprensa estaria propondo um debate interno sobre esse evento, que pode afetar
o desenrolar das relações internacionais.
Mas o que fazem os jornais
brasileiros?
Os editores dos diários de
circulação nacional parecem ter trocado figurinhas e, nas edições da
quinta-feira (17/7), as manchetes eram exatamente iguais:
* “Brasil cede e Índia vai
presidir banco dos Brics”, dizia o Estado de S. Paulo.
* “Brasil cede
presidência, e banco dos Brics é criado”, anunciava a Folha.
* “Brasil cede, e Índia
presidirá banco dos Brics”, afirmava o Globo.
Ora, o Brasil não cedeu
coisa alguma, não abaixou a cabeça, como insinuam os jornais – a criação do
Banco dos Brics havia sido proposta pela Índia desde a 4ª Cúpula, realizada em
Nova Delhi em 2012, quando se convencionou que o país proponente teria a
presidência executiva pelos primeiros cinco anos.
O cargo mais relevante na
fase de implantação da instituição é a presidência do conselho, e essa função
caberá ao Brasil.
O resto é a velha
viralatice da imprensa nacional.
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