AVIÃO E AEROPORTO GERAM “CAOS AÉREO” A MARINA E AÉCIO
Ameaçados por um avião e um aeroporto, Mariana e Aécio podem ter perdido o voo que conduziria um deles à Presidência da República. Mais ironia do que isso, impossível
EDUARDO GUIMARÃES
Não deixa de ser irônico
que se possa usar uma metáfora “aérea” para descrever o enrosco em que os dois
principais candidatos de oposição a presidente da República se meteram. Um
enrosco que pode lhes custar a derrota para Dilma Rousseff.
A
ironia, por óbvio, reside em que o setor aeroportuário foi, durante anos, um
dos principais cavalos-de-batalha da oposição a Lula e a Dilma. Devido à forte
inclusão social nos governos petistas, a “nova classe média” chegou a
aeroportos pensados exclusivamente para a elite e causou superlotação que a
mídia apelidou de “caos aéreo”.
A
Copa do Mundo de 2014 resolveu o problema. Hoje, o país tem aeroportos capazes
de atender a uma demanda vitaminada pela distribuição de renda da era petista,
ainda que a elite e a mídia se recusem a reconhecer os méritos da nova malha
aeroportuária.
Ironicamente,
porém, Aécio Neves e Marina Silva podem ser derrotados, respectivamente, por um
aeroporto e um avião. Está ficando claro ao país que o moralismo com que esses
dois atacam os governos petistas dos últimos 12 anos não passa da mais
deslavada hipocrisia.
A
candidatura de Aécio Neves foi praticamente inviabilizada por um fato que ele
achou que passaria batido: ter usado dinheiro público para construir um
aeroporto dentro de fazenda de sua família que ele frequenta o tempo todo.
Aécio
tentou fazer o país de trouxa ao negar o que só cego não enxerga: o seu
escandalosamente evidente interesse pessoal na execução da obra milionária.
Mídia
e aliados de Aécio disseram que as pesquisas não registraram prejuízo eleitoral
para ele por conta desse episódio, mas a rápida desintegração de sua
candidatura que pesquisas internas dos partidos (inclusive do PSDB) vêm
revelando, comprova esse prejuízo.
Aécio
pode até não ter perdido votos – a crer nas pesquisas e, sobretudo, em suas
“margens de erro” –, mas parou de ganhar. Estancou. Por conta disso, foi o
principal prejudicado pela morte de Eduardo Campos.
O
fato é que, à exceção da direita mais radical, todos estão vendo o pretenso
novo “príncipe da República” se esboroar contra o solo.
Eis
que surge Marina, herdeira política da “santificação” instantânea que a morte
concede no Brasil. Contudo, passados alguns dias a justificada gritaria dos que
perderam seus imóveis com a queda do avião de Campos começa a fazer as pessoas
acordarem.
Chega
a ser estupefaciente que, passados mais de dez dias, não se tenha chegado ao
dono de um avião que o político morto usava de modo tão intenso. O jogo de
empurra vai deixando claros os interesses obscuros que financiavam Campos e que
continuarão financiando Marina.
As
suspeitas de ilegalidade no uso da aeronave ainda não chegaram ao eleitorado,
mas já estão sob escrutínio da Polícia Federal e da Justiça Eleitoral. A cada
dia se entende cada vez menos a origem daquele avião e que tipo de acordos o
colocaram à disposição de Campos.
Mesmo
que os adversários de Marina não tenham coragem de explorar o escândalo que vai
nascendo – e, no que diz respeito ao PSDB, seus blogueiros e colunistas
amestrados já exploram o caso –, a Justiça Eleitoral dificilmente vai se
contentar com explicações vagas.
De
quem é o avião que Campos usava como seu? Quem pagou? Quanto foi pago? Foi
declarado à Justiça Eleitoral?
Marina,
segundo já admite a mídia, pode ter a candidatura impugnada por esse caso.
Mesmo
que a Justiça Eleitoral não tenha coragem de chegar a tanto, as obscuras contas
de campanha do PSB já revelam que Marina não tem as diferenças que apregoa em
relação a outros políticos.
Tanto
Marina quanto Aécio são daqueles políticos que quanto mais forem conhecidos,
pior para eles.
No
caso de Marina, até mesmo o tal “mercado” já começa a perceber que um seu
governo seria fraco por falta de base política sólida. Ela teria que bater às
portas do PSDB e do PMDB ou deste e do PT.
Estadão,
Época e Reinaldo Azevedo saíram na frente na pancadaria contra Marina. Ou seja,
o PSDB saiu na frente contra Marina – até por ela prejudicar mais os tucanos,
ao menos no momento.
O
PT parece menos preocupado com Marina do que com o bombardeio da mídia.
No
terceiro programa de Dilma no horário eleitoral, o PT alternou a estratégia de
acusar a mídia com a estratégia que esta chama de “nós contra eles”, ou seja,
mostrar como o povão passou a desfrutar do que antes era exclusividade da
elite, como acesso a universidades, a casa própria, a aeroportos.
Lula,
no horário eleitoral, é uma bomba atômica. Deve ser um dos políticos que menos
perdeu com as manifestações de junho do ano passado, apesar de Dilma ter sido
quem mais perdeu. O chamamento à reflexão que o ex-presidente tem feito
dificilmente deixará de produzir efeitos eleitorais.
A
vantagem de Dilma é a de que ela não precisa melhorar muito as suas intenções
de voto. Se ganhar meia dúzia de pontos nas pesquisas pode até liquidar a
fatura no primeiro turno. Já Marina e Aécio precisam de muito mais.
Ameaçados
por um avião e um aeroporto, Mariana e Aécio podem ter perdido o voo que
conduziria um deles à Presidência da República. Mais ironia do que isso,
impossível.
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