CARTA A EDUARDO CAMPOS - Já Não Íamos Mesmo Desistir do Brasil...
Eduardo, você não imagina o quanto eu e
todo povo pernambucano estamos lamentando a tua trágica e inesperada partida.
Temos muitos motivos para isso. Primeiro, pela falta que irás fazer a tua
família e aos teus amigos. Depois, pelo exemplo de homem público que
representavas para o nosso estado e para o Brasil.
No entanto, eu tenho um motivo particular para lamentar a tua morte.
Depois da tua entrevista no Jornal Nacional, eu fiquei com muita vontade de te
encontrar, de apertar a tua mão, olhar no teu olho e te perguntar: Quem disse
que eu desisti do Brasil, Eduardo? Infelizmente, no dia seguinte, ocorreu o
trágico acidente e eu nunca vou poder te dizer isso.
Eduardo, não fui eu, nem o povo brasileiro que desistimos do Brasil.
Quem desistiu do Brasil foram setores da política e da mídia brasileira,
quando promoveram o golpe militar de 1964 que mergulhou o nosso país em 21 anos
de ditadura militar e que submeteu o povo brasileiro aos anos mais difíceis de
nossa história. Inclusive, sua família foi vítima na carne daquele momento,
quando o seu avô e então governador de Pernambuco, o inesquecível Miguel
Arraes, foi retirado à força do Palácio do Campo das Princesas e levado ao
exílio.
Eduardo, você não imagina o que essa mesma mídia está fazendo com a
tragédia que marcou a queda do teu avião. Eu nunca pensei que um dia pudesse
ver carrascos do jornalismo político brasileiro como Willian Bonner, Patrícia
Poeta, Alexandre Garcia e Miriam Leitão falando tão bem de um homem público. Os
mesmos que, um dia antes do acidente, quiseram associar a tua imagem ao
nepotismo no Brasil choram agora a tua morte como se você fosse a última
esperança do povo brasileiro ver um Brasil melhor. Reconheço as tuas
qualidades, governador, mas não sou ingênuo para acreditar que sejam elas o
motivo de tanta comoção no noticiário político brasileiro.
A pauta dos veículos de comunicação conservadores do Brasil sempre foi e
vai continuar sendo a mesma: destruir o projeto político do partido dos
trabalhadores que ameaça por fim às concessões feitas até então a eles. O teu
acidente, Eduardo, é só mais uma circunstância explorada com esse fim, do mesmo
jeito que foi o mensalão, os protestos de julho e a refinaria de Pasádena. Se
amanhã surgir um escândalo “que dê mais ibope” e ameace a reeleição de Dilma, a
mídia não hesitará em enterrar você de uma vez por todas. Por enquanto, eles
vão disseminando as suposições de que foi Dilma quem sabotou o teu avião, e que
fez isso no dia 13 justamente pra dizer que quem manda é o PT. Pior do que isso
é que tem gente que acredita e multiplica mentiras e ódio nas redes sociais.
Lamentável! A REDE
GLOBO e
a Veja não estão nem aí para a dor da família, dos amigos e dos que, assim como
eu, acreditavam que você não desistiria do Brasil. Você é objeto midiático do
momento.
Eduardo, não fui eu quem desistiu do Brasil. Quem desistiu foi o PSDB,
que após o regime militar teve a oportunidade de construir um novo projeto de
nação soberana e, no entanto, preferiu entregar o Brasil ao FMI e ao
imperialismo norte americano, afundando o Brasil em dívidas, inflação,
concentração de renda e miséria. O mesmo PSDB que, antes do teu corpo ser
enterrado, já estava disseminando disputas entre o PSB e REDE para inviabilizar
a candidatura de Marina, aliança que custou tanto a você construir.
Eu não desisti do Brasil, Eduardo. Quem desistiu foi a classe média alta
que vaiou uma chefe de Estado num evento de dimensões como a abertura de uma COPA
DO MUNDO porque
não se conforma com o Brasil que distribui renda e possibilita a ricos e
pobres, negros e brancos as mesmas oportunidades.
E tem mais uma coisa, Governador. Se ao convocar o povo brasileiro para
não desistir do Brasil o senhor quis passar o recado de que quem desistiu foi
Lula e Dilma, eu gostaria muito de dizer que nem eu, nem o povo e, nem mesmo o
senhor, acredita nisso. Muito pelo contrário. A gente sabe que o PT resgatou o
Brasil do atraso imposto pelo nosso processo histórico de colonização, do
intervencionismo norte americano e da recessão dos governos tucanos. Ao
contrário de desistir do Brasil, Lula e Dilma se doaram ao nosso povo e
promoveram a maior política de distribuição de renda do mundo, através do bolsa
família. Lula e Dilma universalizaram o acesso às universidades públicas
através do PROUNI, do FIES e do ENEM. Estão criando novas oportunidades de
emprego e renda através do PRONATEC e estão revolucionando a saúde com o
programa mais médicos.
Eduardo, eu precisava te dizer: não fui eu, nem o povo brasileiro, nem
Lula, nem Dilma que desistimos do Brasil. Quem desistiu do Brasil, meu caro,
foram os mesmos que hoje estão chafurdando em cima das circunstâncias que
envolvem o acidente que de forma lamentável tirou você do nosso convívio. Fazem
isso com o motivo único e CLARO de
desgastar a reeleição de Dilma e entregar o país nas mãos de quem, de fato,
desistiu do Brasil.
Descanse em paz, Eduardo. Por aqui, apesar da falta que você vai fazer a
todo povo pernambucano, eu, Lula, Dilma e os brasileiros que acreditam no
futuro do Brasil vamos continuar na luta, porque NÓS NUNCA DESISTIREMOS DO
BRASIL.
Carlos Francisco da Silva, de Bezerros (PE)
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