“Efeito-Mídia” Não Tira Um Ponto de Dilma. Isto é o Sólido na Pesquisa Datafolha
Números da pesquisa Datafolha divulgada hoje, 18.08.14
Parafraseando texto de Fernando
Brito
O monstruoso volume de mídia gerado pela morte trágica de
Eduardo Campos, apresentado como um semi-deus sacrificado e tendo Marina
como sua ungida sucessora ia, como é natural, alçar a candidatura da ex-verde
aos níveis que a pesquisa Datafolha lhe dá.
Não apenas Marina Silva é personagem conhecida, sempre
glamourizada pelos meios de comunicação como, é obvio, tem ainda um recall de sua
candidatura anterior.
Ainda mais em uma coleta de dados feita nos dois dias seguintes à
tragédia, com as tevês transmitindo ininterruptamente o clima de comoção.
O que é significativo, na pesquisa, porém, é que isso não teve o
poder de tirar sequer um ponto nas intenções de voto de Dilma Rousseff, cujo
eleitorado – mais pobre, menos instruído e mais periférico que o de Aécio Neves
– estaria, em tese, mais sujeito ao bombardeio de mídia.
Ao contrário, as declarações de voto espontâneas dela sobem ( 24
para 26%) e seus números de segundo turno ficam nos mesmos patamares que tinham
na pesquisa anterior, até um pouco mais altos do que antes, em relação a Aécio.
O que se mostra é que os eleitores de Aécio votam em peso em Marina ou em
qualquer um contra Dilma. Não chega a ser novidade.
O que o Datafolha tenta nos convencer é de que Marina capturou todos os
votos das pessoas que estavam indecisas ou que iriam anular o voto e, agora,
com a sua presença, sentem-se de novo motivadas a escolher um candidato.
Esta parcela dos eleitores, que somaria 27%, agora estaria
reduzida a 17%, com todos os 10% que mudaram escolhendo Marina.
Que, de quebra, ainda leva o 1% de votos que tinham, cada um,
Luciana Genro (PSOL), de Rui Costa Pimenta (Partido Comunista Operário) e do
Ei-Ei-Eymael.
Aliás, os três, coitados, são os únicos que perdem votos no
Datafolha.
Desde o dia em que se anunciou esta pesquisa de alto índice de
insensatez, com os despojos do candidato morto ainda na cena do acidente,
diz-se aqui que seu valor científico é zero, a não ser para retratar o
que é uma avalanche de mídia mórbida.
A crer-se, com boa vontade, que não houve uso da “RESERVA técnica” representada pelo “não-voto”,
o que se prova, apenas, é o limite de manipulação da opinião pública pela
mídia.
Foi incapaz de mover um voto sequer daqueles que, ao lado do
governo ou da oposição de direita, haviam tomado partido.
E capaz, se tanto, de mexer com uma parcela de 10% dos brasileiros
menos definidos politicamente.
Desde ontem, porém, cessaram as condições objetivas para que
continue a avalanche de mídia mórbida, ou – no máximo – que ela tenha apenas
uma última “marola” com uma hipotética – e abominável – indicação da viúva como
vice de Marina.
É que, na noite de amanhã (hoje 18.08.14), acaba o monopólio midiático da oposição,
embora esteja longe de acabar-se o desequilíbrio nos meios de comunicação.
Começa o horário eleitoral e começarão a serem vistas as
realizações concretas de governo, o que Aécio tem parcamente e Marina não tem.
Não é possível, como em 2010, dizer se isso será o suficiente para
evitar um segundo turno.
Mas é exato dizer-se que a candidatura Dilma atravessou o deserto
de comunicação que lhe impôs o sistema de comunicação brasileiro – a mais forte
e orgânica máquina partidária deste país – sem maiores perdas.
As percentagens, agora, são valores apenas relativos.
Conta é cada decisão de voto, que é mais profunda e pessoal do que
qualquer “efeito-boiada” que os meios de comunicação sejam capazes de fazer.
O terreno a conquistar, o dos indecisos e, sobretudo, o do
não-motivados, é estreito porque, de fato, a negação da política representada
em Marina Silva há de ocupar certa parte dele, sobretudo na classe média-alta.
Já não se pode afirmar o mesmo dos ex-votos de Eduardo Campos no
Nordeste ou do voto da periferia das metrópoles,
onde pesa - e como - a palavra e a presença de Lula, o
fator mais importante desta eleição, como foi na passada.
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot