Marina Silva e sua nova política: Caiu na Rede é Peixe
Impressiona
a quantidade de eleitores que se dispõem a votar em Marina Silva por ela
supostamente representar a ‘nova política’. Pesquisas revelaram percentual
elevado de pessoas antes indecisas ou dispostas a anular o voto, que viram nela
uma opção.
Por Geraldo Galindo
E
esse enorme segmento do eleitorado - incluindo parcela considerável da
juventude - pensa que a ex-senadora seria uma alternativa à mesmice do cenário
político e a negação aos partidos políticos tradicionais. Deveríamos então
debater melhor se a acriana seria mesmo a representação da denominada ‘nova
política’.
Marina
iniciou sua militância política no PT, onde passou três décadas. Foi deputada
estadual, senadora e ministra nos dois mandatos de Lula. Do PT saiu para o PV
onde foi candidata a presidente. Do PV saiu e foi para a Rede, que não
conseguiu se legalizar. Assim, se filiou ao PSB onde entrou dizendo que
voltaria para a Rede. No PSB, onde se encontra momentaneamente, ela tem a
companhia de pessoas sérias e de esquerda como Lídice da Mata e Luíza Erundina,
mas a sigla abriga figuras abertamente direitistas, como os da família
Bornhausen (Veja a declaração de Erundina sobre
a negação aos partidos por parte de Marina)
O
candidato a vice de Marina, Beto Albuquerque, é tido como interlocutor dos
interesses da Monsanto, multinacional norte-americana de transgênicos, e foi
beneficiário em financiamento de campanhas da indústria armamentista e de
bebidas, de quem Marina jura não querer apoio algum.
Devemos
lembrar ainda que Marina era ministra do meio ambiente no governo Lula quando
eclodiu o chamado "mensalão", alvo constante da indignação desse
eleitorado descontente com a política, pois naquele episódio teriam sido
escancaradas as relações promíscuas entre os partidos da velha política. Era um
ótimo momento para que ela saísse do partido - saiu cinco anos depois - e
passasse a defender a ‘nova política’, mas preferiu ficar, talvez pensando que
Luiz Inácio a alçaria à condição de candidata à sua sucessão. E quando decidiu
sair em 2009, não devolveu o mandato que pertencia ao PT. Isso é um aspecto
importante. Os que defendem essa tese vaga da ‘nova política’ devem saber que
os mandatos pertencem aos partidos, tanto que veio depois a lei da fidelidade
partidária que dá às agremiações o direito de questionar na justiça as vagas
perdidas aos que usam os partidos para objetivos exclusivamente pessoais.
Portanto,
como uma pessoa que passou 30 anos num partido demonizado pela mídia e pelas
forças conservadores pode ser vista como uma alternativa nova? E cabe lembrar
que o marido dela ocupava cargo importante no governo do PT do Acre e só pediu
exoneração após o acidente com o avião fantasma.
Como
uma personalidade que transita por partidos ao sabor das conveniências pode
representar o novo? Figuras como FHC, Lula, Eduardo Campos, Michel Temer, ACM e
alguns outros líderes políticos nacionais e regionais, considerados por Marina
como representação de forma superada de fazer política, não passaram a carreira
política trocando de partidos - e neste aspecto, são mais coerentes do que a
ex-senadora.
Religiosidade
A
religiosidade Marina é também item a ser bem analisado pelos que nela veem o
novo. Neste ponto, ela defende teses abertamente reacionárias, como o ensino do
criacionismo nas escolas públicas, ou seja, pretende trazer para as nossas
crianças e adolescentes a versão bíblica da existência do mundo, um verdadeiro
atentado ao estado laico e à ciência. A outrora beata católica convertida ao
neopentecostalismo - sim, ela também muda de Igreja - tem até vídeo ao estilo
dos RR Soares e Edir Macedo propalando suposta cura de uma doença não resolvida
pela medicina por de um milagreiro da Assembleia de Deus. Isso demonstra a que
nível chegou o fundamentalismo da candidata. (Assista)
Aqui
cabe lembrar que quando ministra de Lula, Marina contratou como consultor do
ministério o preposto da Assembleia de Deus, Roberto Firmo Vieira, que
utilizava as instalações do ambiente de trabalho para realizar cultos que
incluía a presença da própria ministra e dos funcionários convocados. Pergunto:
é uma nova forma de fazer política usar o dinheiro do contribuinte para a contratação
de um pastor que vai usar a estrutura do Estado pra fazer pregação religiosa? E
se Marina tem certeza de que foi curada de uma doença incurável por um membro
de sua igreja, então seria simples pra ela resolver o problema da saúde no
Brasil: bastaria substituir o programa Mais Médicos por outro que se chamaria
‘Mais Pastores’.
Ademais,
as posições de Marina sobre o casamento entre os homossexuais, pesquisas com
células tronco e direito ao aborto são contaminadas pelo fervor religioso de
cunho conservador, posições frontalmente contrárias a quem almeja algo novo na
política.
Papel do Estado
Mas é
no terreno da economia e da visão do papel do estado que o eleitor em busca de
uma nova política deveria analisar com mais rigor o que a candidatura Marina
Silva significa. Os interlocutores escalados para tratar e falar do assunto são
dois próceres do neoliberalismo no Brasil: Otto Lara Rezende e Eduardo
Giannetti que defendem o estado mínimo, política já aplicada no Brasil nos oito
anos de FHC e que deixou o país em insolvência. A nova política econômica de Marina
é a velha política econômica dos desastrosos governos do neoliberalismo no
Brasil e na América Latina. E agravada: Marina já anunciou que se eleita
colocaria em lei a independência do Banco Central, uma antiga exigência dos
banqueiros e especuladores nacionais e internacionais, que nem FHC, submisso
que era aos rentistas, ousou implementar. Talvez essa proposta tenha sido uma
exigência de Neca Setúbal, herdeira dona do Banco Itaú, uma das mais influentes
formuladoras do estafe de Marina e principal financiadora da campanha.
Por
fim, temos a questão da chamada governabilidade. Os que querem uma nova
política devem ter em conta que é muito difícil - ou quase impossível -
governar sem uma razoável base parlamentar e social. Marina sabe disso e quando
integrante do governo Lula viu de perto como é necessário ter apoio no
Congresso Nacional para não incorrer em riscos institucionais. Pois eis que
agora, neste caso, efetivamente, Marina nos apresenta uma proposta de ‘nova
política’ ao afirmar que ela governará com os melhores quadros do PT e do PSDB.
Ela parte do ilusório pressuposto de que dois partidos com diferenças
programáticas tão marcantes conviveriam num eventual governo dando-lhe
sustentação. Esse pressuposto delirante não leva em conta o posicionamento dos
partidos, parte do princípio de que ambos aceitarão a miraculosa ideia sem
questionamentos. Deve ser por essas e por outras que o grupo que integra a Rede
é chamado de “sonhático” nos meios políticos.
Concluindo,
Marina não é nem representa nada que se possa chamar de ‘nova política’, no
sentido de inaugurar novas políticas em benefício da maioria de nosso povo. A
história política dela, as posições que vem adotando, as contradições entre seu
discurso e prática, como vimos, indicam o contrário. A incorporação no discurso
da velha política neoliberal de triste lembrança dos brasileiros, que resultou
na entrega do patrimônio público, arrocho salarial, taxas de juros elevadas,
baixo crescimento econômico menos investimento no social significa atraso,
retrocesso, ataque às conquistas recentes de nosso povo. Se engana quem pensa
ser ela uma terceira via na disputa eleitoral. Marina é no momento a segunda
via da direita brasileira.
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