Petrobras: a mídia esconde o debate real
Operação Lava Jato poderia desvendar
esquemas de aparelhamento do Estado praticados há décadas. Mas alvo eterno dos
jornais é Dilma, que tentou romper a prática
Por Luis Nassif, no GGN
A Operação
Lava Jato, que investiga esquemas que atuavam na Petrobras, provavelmente terá
um alcance e desdobramentos similares ao da CPI do Orçamento, no início dos
anos 90.
Dela, nasceu um conjunto de medidas –
das quais a mais ostensiva foi a Lei 8666, das licitações – que manietaram
completamente a administração pública, sem reduzir a corrupção.
De lá para cá, criou-se uma enorme
parafernália burocrática, que apenas especializou os esquemas existentes.
No seu depoimento, Paulo Roberto
Costa envolve outros diretores e informa que o aparelhamento da Petrobras
ocorreu ininterruptamente nos governos Sarney, Collor, Itamar, Fernando
Henrique Cardoso e Lula. E a conta recai sobre Dilma, a primeira a tentar
romper essa prática.
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Da CPI do Orçamento para cá houve
enorme sucessão de episódios, investigações, CPIs, todas varridas para baixo do
tapete pela enorme influência política dos corruptores.
Foi assim com a CPI do Banestado, com
a CPI dos Precatórios, com a CPI de Cachoeira – que, aliás, levantou esquemas
entre grupos de mídia e organizações criminosas – e com diversas operações da
Polícia Federal, como a Satiagraha – que envolvia o Banco Opportunity -, com a
Castelo de Areia – que flagrou a Construtora Camargo Correia em sua atividade
paulista.
As CPIs naufragaram devido a pactos
entre os partidos, já que praticamente todos tinham rabo preso; as Operações da
PF foram paralisadas devido à interpretação de determinados Ministros do STJ
(Superior Tribunal de Justiça) sobre aspectos formais das investigações.
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Agora, Lava Jato traz com riqueza de
detalhes algo que era nítido desde a CPI do Banestado, a enorme zona cinzenta
da economia que passa pelo caixa dois operador por doleiros, com a cumplicidade
de grandes bancos – como o Safra -, pelos operadores da máquina, pelos
tesoureiros dos partidos políticos e pelos governantes loteando os cargos atrás
da governabilidade.
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Trata-se de um jogo fundamentalmente
hipócrita. No poder, todos os partidos praticam as mesmas jogadas; na oposição,
as mesmas denúncias.
Do lado dos grupos de mídia, a
hipocrisia não é menor. A Operação Lava Jato recebe ampla visibilidade porque,
no momento, existe um objetivo político claro por trás da cobertura. Enquanto
perdurar o interesse político, haverá cobertura. Depois, o mesmo desinteresse
que levou ao engavetamento dos escândalos da Satiagraha e Castelos de Areia.
Do lado do MPF e da PF, quase tão
escandaloso quanto o próprio episódio é o vazamento seletivo de depoimentos, um
rodízio escancarado entre as diversas publicações, uma constante que parece não
ter sido interrompido com a nomeação do Procurador Geral da República Rodrigo
Janot.
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É importante entender que nesse jogo
não há santo.
Apesar da evidente má vontade da
mídia com o PT, é evidente que o partido permitiu a perpetuação desse modelo.
Apesar da evidente boa vontade da mídia com o PSDB, é evidente que o partido
também sempre recorreu a esses mesmos esquemas.
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A esperança é que desta vez o
Judiciário seja suficientemente rigoroso – e imparcial – para que se reduza da
vida política nacional essa excrescência, comum a todas as democracias mas que
no Brasil alcançou níveis intoleráveis.
E essa ação remete a outro problema:
a reforma política, como garantir a governabilidade sem entrar na lama até o
pescoço.
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