Bolivariano, eu?
Simon Bolivar
Parafraseando Mino Carta - na CartaCapital
O besteirol anda solto a serviço do mofado
elitismo golpista e exibe o atraso cultural do País
A situação criada pelos derradeiros ruídos e
senhas da política nativa seria simplesmente cômica se não tivesse seu lado
dramático ao exibir primarismo, ignorância, grosseria, juntamente com
arrogância e prepotência. Não disse trágico porque a tragédia tem outra
dimensão, outra imponência em relação ao drama. Em todo caso, no palco estamos
credenciados à encenação da farsa, ou da ópera-bufa.
Entre as personagens na ribalta, grandioso o
desempenho de Gilmar Mendes, a prometer em memorável entrevista de página
inteira na Folha de S.Paulo de segunda 3 a iminente transformação do
STF em corte bolivariana. O que ele teme é a chegada ao Supremo dos novos
integrantes nomeados por Dilma Rousseff, esquecido talvez que outros indicados
anteriormente por Lula ou pela presidenta jamais aparentaram fé bolivariana.
O problema do STF é outro. Na cúspide da
pirâmide da Justiça brasileira, representa-a à perfeição na sua mediocridade a
serviço não da deusa vendada, e sim da casa-grande. É do conhecimento até do
mundo mineral que no País só a choldra da senzala vai para a cadeia. O que está
sempre em jogo são as consequências de três séculos e meio de escravidão, cujas
raízes permanecem difíceis de extirpar. Quem defendeu a erradicação faz tempo
era chamado de comunista, hoje a palavra mofada é substituída por bolivariano.
Estranho, muito estranho. Os caminhos da
inclusão foram perseguidos pelo capitalismo nas mais diversas latitudes, em
proveito da produção, ao sabor dos parâmetros éticos definidos por Adam Smith e
cultivados por empresários, em primeiro lugar para seu benefício, do calibre de
Henry Ford, o qual aumentava o salário dos seus empregados para habilitá-los a
adquirir os carros fabricados por eles próprios.
Esta forma de sabedoria, ou de esperteza, não
passou de mero esboço no Brasil, até o advento trágico, e aqui é tragédia
mesmo, do neoliberalismo que se incumbiu de pô-la em xeque.
Não me desagradaria, muito pelo contrário, se
um Bolívar campeasse na nossa história, em lugar, digamos, do Duque de Caxias.
Nada disso, contudo, faz de mim um bolivariano, a partir da percepção de que o
Brasil não precisa de um Chávez.
Em contrapartida, o Brasil não precisa de
quantos entre os graúdos ainda sonham com o golpe. Não me refiro à patética
passeata que recentemente percorreu ruas paulistanas, dividida na encruzilhada:
derrubada manu militari ou impeachment da
presidenta reeleita? Há mais senhores e senhores ainda reféns da mentalidade
golpista do que imagina a nossa vã filosofia. O que não deixa de ser normal no
país da casa-grande e da senzala, embora, na opinião de Carta Capital,
tudo não passe de devaneio.
Grave, acabrunhador, é que não faltem
entre quantos enxergam bolivarianos de tocaia atrás de cada esquina, prontos a
devorar criancinhas como os comunistas de antanho, rentistas notáveis e
pretensos intelectuais, de professores universitários a imortais da Academia.
Uma nata da nata ou leite talhado? Servem apenas para provar o atraso cultural
do País.
Arrisco-me a propor a fundação da Universidade
do Humorismo Nativo, e logo me arrependo e volto atrás. Não me surpreenderia se
a sugestão fosse aceita. Cuidado, recomendava Raymundo Faoro, refreie a sua
ironia, eles vão entender que você fala sério.
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot