Os “elos” de O Globo com o imperialismo
Calúnias contra o Hezbollah na imprensa brasileira fazem parte de uma
campanha internacional contra o partido da resistência libanesa e também visam
justificar a presença de bases militares americanas na América Latina.
Por: Natalia Forcat, no Oriente Mídia
No dia 09/11/2014 foi
publicado um artigo calunioso no jornal O Globo, assinado pelo jornalista
Francisco Leali, que além de apresentar contradições evidentes no próprio texto,
se engaja na campanha levada à cabo por EUA e Israel de caluniar a resistência
libanesa e criar o mito da existência de um perigo “terrorista” no Brasil com o
objetivo de, entre outras coisas, induzir a opinião pública a aceitar a
presença militar americana na América Latina.
A Tríplice Fronteira, alvo de EUA.
Estes ataques da mídia fazem parte de uma estratégia que combina campanhas de
propaganda (como a que fazem o jornal O Globo e outros veículos de mídia como a
revista Veja, no Brasil, e Infobae, na Argentina) com a pressão para conquistar
maior presença militar estadunidense na região.
O Congresso Americano, chegou aprovar, em 2006, uma resolução que solicitava ao
presidente americano (naquela época George Bush) que criasse uma força-tarefa
para atuar contra o “terrorismo na Tríplice Fronteira”. A resolução também
propunha que os países membros da OEA fossem pressionados para classificar o
Hamas e o Hezbollah como organizações terroristas.
Em 24 de fevereiro deste ano (2014) foi inaugurada uma base militar no
Paraguai, chamada de “Centro de Operações para Emergências”. Esta unidade foi
instalada pelo Comando Sul de EUA na cidade paraguaia de Santa Rosa del Araguay
com apoio do governo paraguaio eleito após o golpe de estado contra o
presidente Fernando Lugo. O Comando Sul é uma organização militar do
departamento de defesa dos Estados Unidos. Desta forma EUA pretende estimular a
troca de governos e abrir espaço para garantir a presença militar numa região
tão rica em recursos.
Quem é o terrorista?
Não é preciso muito esforço para perceber que os interesses de EUA estão bem
distantes da suposta “luta contra o terrorismo” que dizem promover. O Congresso
Americano aprovou, em setembro deste ano, um orçamento de 500 milhões de
dólares para financiar grupos armados que praticam todo tipo de atos
terroristas em Oriente Médio como o Exército Livre Sírio (ELS), o Harakat Hazm
(Movimento Hazm) e a Frente Revolucionária Síria (FRS), milícias armadas que
EUA classifica como “oposição moderada” ao governo sírio. As armas entregues a
estes grupos, incluindo armas de grosso calibre como mísseis anti-tanques TOW,
terminaram nas mãos da Frente Al Nusra (filiada a AlQaeda) e do Estado
Islâmico, sendo que, no terreno todos estes grupos têm cometido o mesmo tipo de
atrocidades como execuções em massa, sequestros, estupros, roubos e destruição
de patrimônio (particular, público e histórico).
O critério usado por EUA classificar um grupo como terrorista ou “moderado” não
tem qualquer relação com as práticas desses grupos mas com os próprios
interesses geopolíticos de EUA e dos seus aliados. Por isso para EUA Hezbollah
e Hamas são grupos terroristas mas o ELS, o Harakat Hazm ou a Frente
Revolucionária Síria são aliados.
Guerra ao terror estimulou o aumento do terrorismo
A mídia citada no começo deste texto tenta convencer os seus leitores que o
Hezbollah representa um risco para o Brasil mas quem realmente representa um
risco para a região: o partido político libanês, criado para defender o seu
território e sua população, ou EUA, país que mantém mais de 700 bases militares
(e outras tantas secretas) em território estrangeiro em todos os continentes
(com exceção da Antártica)?
A ampliação da estrutura bélica é uma questão de sobrevivência para EUA. A
indústria militar e a doutrina Bush de guerra ao terror, que foi desenvolvida
após o 11 de setembro, fazem parte de uma estratégia global que visa: o
controle de recursos naturais (gás, petróleo, água, etc.), a desarticulação da
oposição interna à política governamental através de leis como o Ato Patriótico
que limitam as liberdades individuais e violam a privacidade dos cidadãos
americanos e estrangeiros, o desrespeito à soberania nacional dos países que
tem recursos que interessam a EUA ou que tem importância geoestratégica, o
fomento da islamofobia estimulada principalmente pelo lobby sionista que age
dentro de EUA e que pretende criminalizar qualquer questionamento às políticas
de Estado israelenses, a manutenção da supremacia econômica, militar e política
americana e a expansão do lucro da indústria de armas e de segurança.
Guerra perpétua
Como resultado da doutrina Bush, descrita como uma espécie de “Operação Condor”
em escala global, o orçamento militar americano tem se expandido constantemente
mas não tem trazido mais segurança nem estabilidade ao mundo, muito pelo
contrário, o terrorismo tem crescido cada vez mais por causa da estratégia de
patrocínio de milícias armadas em países como Líbia, Síria, Iraque e outros, o
que tem levado a alguns dirigentes americanos a afirmar que a guerra contra o
terror será uma guerra “perpétua”.
A “guerra ao terror” serve, na prática, para EUA aumentar sua influência
militar através da implantação de bases e desta forma assegurar o controle dos
recursos naturais. No caso específico da Tríplice Fronteira não podemos
esquecer que essa região é rica num dos recursos mais importantes para a
sobrevivência humana: a água.
As calúnias de O Globo
Entendo o contexto em que surgem estes ataques da mídia contra o Hezbollah, não
temos mais que lamentar que jornalistas joguem seu prestígio no lixo assinando
um artigo claramente mentiroso e tendencioso que se desmente por si mesmo.
Basta ler com atenção para perceber as contradições no próprio artigo que
começa com uma chamada sensacionalista afirmando a existência de “documentos”
da Polícia Federal que apontariam um “elo entre o PCC e o Hezbollah”, que é
tratado como um “grupo criminoso” ignorando o prestígio e a importância que o
partido libanês possui. Mais adiante podemos ver que não existe qualquer
documento senão apenas “indícios” sem qualquer comprovação e que a matéria toda
não passa de um factoide construído em cima de notícias requentadas.
Além da calúnia cometida pelo jornal, há também a intenção clara de
criminalizar toda a comunidade árabe, uma comunidade que no Brasil já supera os
16 milhões de descendentes e que tem contribuído ativamente para o crescimento
e desenvolvimento do país atuando em diversas áreas como comércio, política,
construção, saúde, etc. De todos os pontos de vista possíveis o artigo
publicado pelo O Globo é lamentável e merece ser condenado por todos.
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