Os jornais defendem o indefensável: as pesquisas eleitorais
Isto (era) mentira...
Pausa para
gargalhar antes mesmo de começar.
Leio que a Associação Nacional dos Jornais, a ANJ, está
inconformada com a possibilidade de que seja aprovada uma emenda que proíbe a
divulgação de pesquisas 15 dias antes do primeiro e do segundo turnos.
A emenda deve ser votada ainda esta semana no Senado.
“É um
retrocesso”, diz a nota.
A explicação para isso é hilariante. “A ANJ entende que as
pesquisas têm sido um fator que contribui para o debate político e para o
esclarecimento do eleitorado.”
Um momento.
Que contribuição é essa?
Me vêm algumas cenas marcantes sobre pesquisas nestas últimas
eleições.
A revista Época, do grupo Globo, por exemplo, divulgou com
alarido, nas redes sociais, que tinha a primeira pesquisa do segundo turno,
quando se confrontavam, afinal, Dilma e Aécio.
E tinha mesmo. Só que era uma pesquisa que fazia exatamente o
contrário do que afirma o ANJ: jogava os leitores numa escuridão absoluta.
Nesta pesquisa da Época, feita pelo Instituto Paraná, Aécio
aparecia com uma vantagem virtualmente intransponível sobre Dilma, coisa de
oito pontos porcentuais.
Aécio hoje estaria se preparando para subir a rampa do Planalto,
com seu melhor terno e uma tintura básica na cabeleira preservada com discreto
implante, caso houvesse qualquer coisa de verossímel na pesquisa que a Época
anunciou triunfalmente.
Não havia.
Bem perto da eleição, no dia 24, a revista Isto É, como fizera a rival
Época, também colocou Aécio na presidência. Apoiada no Instituto Sensus, a Isto
É deu 54,6% a 45,4% para Aécio.
Os decimais, imagino, se prestaram a dar aparência de realidade ao
trabalho fantasioso da Sensus e da Isto É.
Outro momento inesquecível no terreno das pesquisas se deu quando
o próprio estatístico de um instituto, o Veritás, admitiu que Aécio usara dados
“não representativos” para afirmar que estava à frente de Dilma em Minas – não
apenas em um, mas em dois debates.
A sorte dos institutos é que a cada eleição as pessoas esquecem os
erros grosseiros que cometeram na anterior, ou por incompetência ou por má fé.
Fora os números com frequência tão enganadores, há também o uso
que a mídia dá aos resultados.
Com que frequência colunistas como Merval Pereira não viram,
aspas, em dados de Dilma sinais inequívocos de um colapso iminente?
Isso não falar em coisas como dar manchete a uma pesquisa “amiga”,
em que o candidato da casa aparece bem, e esconder em algum canto uma pesquisa
“desagradável”.
Não.
As pesquisas têm servido muito mais para manobrar os eleitores do
que para esclarecê-los, ao contrário do que diz a ANJ.
Num mundo menos imperfeito, em vez de as grandes empresas de mídia
as defenderem sofregamente, as pesquisas estariam sendo investigadas com rigor.
Muitos institutos cometeram crimes eleitorais.
Não à toa, um dos próximos projetos de crowdfundind do DCM é
exatamente este: revelar o obscuro universo das pesquisas eleitorais.
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