OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA TAMBÉM CONDENA PESQUISA MANIPULADA NA FOLHA
Assim como Eduardo Guimarães e Janio de Freitas, o jornalista
Luciano Martins Costa também condenou a manipulação de uma pesquisa Datafolha,
publicada no último domingo, que responsabiliza a presidente Dilma Rousseff
pelos escândalos na Petrobras.
Coincidência ou não, dois dos
principais jornais de circulação nacional trataram, nos últimos dias, de
consultar os brasileiros sobre suas posições em relação ao regime democrático.
Aparentemente, a motivação da pauta é a sucessão de manifestações que quase
toda semana fecham a Avenida Paulista, pedindo o impeachment da presidente
reeleita em outubro ou um golpe militar.
No domingo (7/12), o Estado de S. Paulo publicou
pesquisa do Ibope revelando que a satisfação com a democracia subiu 13 pontos
em 2014. Nesta segunda-feira (8), a Folha de S. Paulo divulga pesquisa
Datafolha segundo a qual o índice de aprovação da democracia é o mais alto
desde 1989.
Segundo a interpretação da
pesquisa Ibope, apesar de um grande número de brasileiros ter dúvidas sobre a
vantagem de viver em uma democracia, aumentou a porcentagem daqueles que
defendem o regime de liberdade política em qualquer circunstância. Analistas
consultados pelo Estado
de S. Paulo acreditam que as dúvidas em relação ao regime
democrático são alimentadas pela avaliação negativa dos partidos políticos e do
Congresso Nacional e pela percepção de aumento da corrupção. Portanto, há uma
relação direta entre o modo como a imprensa noticia e comenta os escândalos
envolvendo políticos e partidos e o número de brasileiros que perdem a
confiança na democracia, como já se afirmou neste Observatório.
Curiosamente, a maior
concentração de cidadãos que prefere a ditadura ou acha que em algumas
circunstâncias uma ditadura é melhor que a democracia está no Sudeste, onde a maioria
dos eleitores optou pelo candidato derrotado na eleição presidencial de 2014. O
perfil típico do antidemocrata brasileiro é o jovem com escolaridade e renda
médias que vive em São Paulo
ou no Rio de Janeiro. Especialistas citados pelo jornal creditam esse fenômeno
ao fato de que os jovens tendem a emitir opiniões mais polarizadas, mas isso
não explica por que o recorte dos antidemocratas é principalmente geográfico,
uma vez que os jovens do Nordeste são mais favoráveis à democracia.
Convém lembrar que os
antidemocratas se concentram nas regiões onde é maior a influência da imprensa
hegemônica.
Aprovação
em alta
A pesquisa Datafolha,
interessante por relacionar a defesa da democracia diretamente à disputa
eleitoral acirrada, não mereceu da Folha de S. Paulo o mesmo cuidado.
O jornal paulista desprezou seu próprio instituto: embora tenha destacado o
tema na primeira página, dedica ao estudo apenas um quarto de página, com um
resumo dos dados gerais, sem especificar as nuances regionais ou por faixa de renda.
Ainda assim, esse quadro
genérico permite observar que os brasileiros mais instruídos têm uma convicção
mais sólida sobre a importância da democracia, com 80% afirmando que um regime
de liberdade política é sempre a melhor forma de governo. Entre os menos
escolarizados, que fizeram apenas o ensino fundamental, 57% têm a mesma opinião
e 19% dizem que tanto faz uma democracia ou uma ditadura.
Também é interessante observar
que, no domingo (7), a Folha havia publicado outra pesquisa na qual se
perguntava aos consultados sobre o que achavam das responsabilidades da
presidente Dilma Rousseff no escândalo da Petrobras. Segundo aFolha, nada
menos do que 68% responderam positivamente, ou seja, uma maioria significativa
entende que a presidente tem responsabilidade no caso.
Mas a edição distorce os
números. A manchete do jornal diz o seguinte: “Brasileiro responsabiliza Dilma
por caso Petrobras”. No entanto, a reportagem interna especifica que 48%
concordam em que a presidente tem “muita responsabilidade” e 25% acreditam que
ela tem “alguma responsabilidade” no escândalo. Paralelamente, 46% acham que o
atual governo foi o que mais investigou casos de corrupção, no período da
redemocratização, e 40% entendem que foi no governo de Dilma Rousseff que houve
mais punição a corruptos.
A mesma pesquisa mostra que o
noticiário sobre o pagamento de propinas na Petrobras não afetou a
credibilidade da presidente: ela continua com as altas taxas de aprovação
reveladas no dia 21 de outubro, antes da eleição em segundo turno: sua gestão é
considerada ótima ou boa por 42% dos entrevistados. Além disso, ela conta com
50% de expectativas positivas quanto ao seu segundo mandato, apesar do grande
esforço da mídia tradicional em baixar o nível de otimismo dos brasileiros.
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