Escândalos na FIFA e na CBF: Agora falta explicar por que quem pagou menos transmitiu de forma exclusiva o futebol
Há mais em comum entre o ex-presidente do Clube dos 13 e o golfista Arnold Palmer do que você supõe, caro amigo navegante…
por
Luiz Carlos Azenha
Joseph Blatter caiu. Não foi para preservar a FIFA ou o
futebol, obviamente. Foi porque o braço direito dele, Jérôme Valcke — aquele
que pretendia dar um pontapé no traseiro dos brasileiros — se viu enredado na
investigação do FBI,como suposto remetente de uma propina de U$ 10 milhões disfarçada
de projeto benemerente.
Blatter
e o brasileiro João Havelange, flagrado no propinoduto da ISL para garantir à
empresa exclusividade nos direitos de transmissão e marketing da Copa, são
farinha do mesmo saco.
Ambos
foram “depositados” na FIFA pelo dono da Adidas, Horst Dassler, que inventou a
ISL e praticamente o marketing esportivo ao perceber que poderia promover
eventos para grandes audiências na televisão ao mesmo tempo bombando sua marca.
Quando Havelange presidia a FIFA, Blatter era o
secretário-geral. Embora recentemente, provavelmente orientado por alguma
assessoria de imagem, tenha se dedicado à “transparência”, Blatter atuou
eficazmente nestes anos todos para encobrir os malfeitos da cartolagem, como
descrevemos minuciosamente em O Lado Sujo do Futebol.
Exemplo?
Quando o promotor suiço Thomas Hildbrand pegou Havelange e seu ex-genro Ricardo
Teixeira com a boca na botija, a FIFA fez tudo o que estava ao seu alcance
institucional para livrar os cartolas brasileiros, chegando ao cúmulo de dizer
que as propinas na verdade eram comissões perfeitamente legais. Tentou bloquear
na Justiça a divulgação do devastador relatório do promotor que trouxe as
propinas à luz, na casa dos milhões e milhões de dólares.
Hildbrand,
a certa altura de seu relatório, diz que o papel de Teixeira era preservar o
status quo no que se refere aos contratos. Como sabemos, no Brasil FIFA e CBF
(Havelange e Teixeira) ajudavam a ISL, que vendia os direitos de transmissão à
Globo, que nunca foi incomodada pela concorrência.
Como
descrevemos na página 273 de nosso livro, na disputa pelas Copas de 2002 e 2006
a ISL enfrentou pela primeira vez a competição da empresa norte-americana IMG,
do lendário golfista Arnold Palmer. Ele fez uma oferta muito maior e prometeu
aumentar o valor — de U$ 1 bilhão — caso houvesse leilão. As duas propostas
foram a votação no Comitê Executivo da FIFA: a ISL teve 9 votos a 6, com três
abstenções e duas ausências.
Isso
foi antes de se descobrir o imenso propinoduto da ISL, que irrigou inclusive as
empresas de fachada de Ricardo Teixeira e João Havelange, Sanud e Renford.
E
o que Palmer, afinal, tem a ver com Fábio Koff, o ex-presidente do Clube dos
13? Muito.
Koff,
à frente da entidade, tentou promover no Brasil uma concorrência pública para
vender os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.
Em 2011, a RedeTV! venceu a concorrência com uma proposta de R$ 1.548.000,00
por três temporadas. Uma proposta que seria bem superior ao que a Globo vinha
pagando. Como narramos detalhadamente em nosso livro, por conta disso Ricardo
Teixeira se mexeu nos bastidores para destruir o Clube dos 13, o que
efetivamente conseguiu. Em consequência, a Globo passou a negociar diretamente
com os clubes. Teve de pagar mais do que pagava anteriormente, mas não correu o
risco de perder os direitos.
Para
quem despreza a RedeTV!, um lembrete: nos Estados Unidos, a Fox de Rupert
Murdoch estabeleceu-se como rede nacional de TV, competindo com ABC, CBS e NBC,
ao comprar por uma quantia estratosférica os direitos de transmissão do futebol
americano.
Meu
ponto: o esporte em geral — no Brasil, o futebol em particular — garante uma
retorno econômico extraordinário a qualquer emissora.
Porém,
aqui praticamos o capitalismo à brasileira: a Globo, campeã do discurso
sobre o livre mercado, sufoca a competição nos bastidores.
Na Argentina, o réu confesso J. Háwilla (de jaleco branco), o diretor da TV Globo Marcelo Campos Pinto e o indiciado Ricardo Teixeira: bons tempos
A pergunta que está na boca dos
internautas: foi de graça?
Um
deles, cujo nome decidimos manter no anonimato, nos escreveu:
Na
Estrada do Mata Porcos, bairro de Correas, em Petrópolis, a família Marinho,
mantém um sítio desde a década de 1950. O local foi transformado em um
condomínio de luxo que só é possível acessar depois de se identificar na
portaria. Um lugar idílico de poucas e refinadas Mansões.
Entre
os vizinhos há nomes como Ricardo Teixeira, Kleber Leite e empreiteiros
investigados pela Operação Lava-Jato que construíram estádios de futebol para a
Copa do Mundo. Há também barões da Stock Car, sendo que um deles a filha á
atriz global e namora um famoso jogador de futebol.
O
mais interessante é que a família Marinho comprou algumas casas no local e as
mantêm vazias, pois não gostam de vizinhos por perto. Será por medo dos
vizinhos ou será por causa das testemunhas?
Aguinaldo
Silva fez questão de fazer o homem de preto mergulhar em uma piscina de euros
na novela Império tendo como cenário a cidade de Petrópolis. Será que não foi
uma forma velada de falar de uma empresa lá nas Ilhas Virgens Britânicas?
Nada
como uma passada pelo registro de imóveis para mostrar porque uma empresa que
paga menos tem o direito de transmitir partidas de futebol, ao invés de quem
paga mais. Afinal, por que brigar com os vizinhos por tão pouca coisa?
Notem
que o internauta quer saber porque uma empresa que paga menos tem o direito de
transmitir partidas de futebol, ao invés de quem paga mais. No caso da ISL, que
atropelou Palmer, já sabemos.
Mas,
e aqui? Que milagre brasileiro é este?
Não
seria o caso do senador Romário convocar o ex-presidente do Clube dos 13 para
depor na CPI da CBF?
PS
do Viomundo: Dois dos autores do livro O Lado Sujo do Futebol,
Leandro Cipoloni e Tony Chastinet, decidiram preparar um dossiê de documentos
para encaminhar ao FBI. Vai que eles se interessam em traduzir a papelada do
português!
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