O desespero impotente da ombudsman da Folha
Por Paulo Nogueira
A
coluna deste domingo da ombudsman Vera Guimarães antecipa, involuntariamente, a
morte da Folha.
Fico imaginando Vera tomando um Frontal para escrevê-la.
Vera, de certa forma, é a própria Folha, em sua dificuldade imensa de aceitar
que a Era Digital matou o papel.
Ela se queixa de uma nova redução do número de páginas da
Folha.
E reproduz a ira de leitores. “Vejo a FSP em estado
terminal, fininha e definhando a cada dia”, disse um deles. “É de dar pena e
sinto-me lesado.”
Outro notou que em pouco tempo o site do jornal será mais
importante que a edição impressa. “É isso que o jornal quer?”
É aí que Vera mostra sua dificuldade em enxergar o mundo
que a cerca.
Ela responde: “Certamente não. (…) O impresso ainda é a
joia da coroa em faturamente e prestígio, e isso é lembrado com frequência à
Redação.”
A resposta de Vera sugere que a Folha tem condições de
escolher o que quer.
Não tem.
O futuro da Folha ou está na internet ou não está em nada. O
papel, para todos os efeitos, está tecnicamente morto.
Quem lê jornal e revista hoje é um público velho. Não há
renovação. Jovens simplesmente ignoram coisas impressas.
Os próprios leitores citados por Vera são veteranos que
fizeram sua assinatura há 25, 30 anos.
Do
ponto de vista publicitário, é exatamente aquilo que os anunciantes não querem. São pessoas que deixaram para trás
o impulso consumista típico dos jovens.
Vera em busca de argumentos para sua tese sem sentido tenta
tudo. Diz que esse público veterano quer “um conteúdo selecionado, com menos
assuntos, mas maior profundidade, consistência noticiosa e muita análise”.
Francamente.
Por
que os editores do site da Folha não fazem exatamente o que sugere Vera? O que
os obriga a querer cobrirtodos os
assuntos e encher o site de coisas que ninguém vai ler?
A Folha impressa pode seguir exatamente a receita da
ombudsman. Não vai adiantar. Os leitores se informarão pela internet, assim
como num certo momento as pessoas deixaram de se locomover em carruagens e
passaram a usar carros.
O caminho para o fim é exatamente este que a Folha vem
trilhando.
Menos leitores, menos anunciantes, menos páginas, menos
jornalistas – e então, ao cabo de uma agonia insanável, o adeus.
Para complicar as coisas para a empresa, as marcas
tradicionais não têm nenhuma vantagem competitiva na Era Digital.
Ao contrário: são carruagens. Repare. Nenhum grande
fabricante ficou para contar a história depois que surgiram os automóveis.
Vera, pessoalmente, tem sorte.
Como ombudsman, ela tem emprego garantido por algum tempo
e, depois de terminado seu mandato, imunidade por mais um ano.
Mas se ela quiser ter futuro no jornalismo vai ter que
fazer a transição digital que ela diz não ser vital para seu jornal.
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot