O peculiar 'Rabo de Peixe' abre mostra Olhar de Cinema em Curitiba
Cena de 'Rabo de Peixe'
Rabo
de Peixe, o bonito documentário dos parceiros de vida e cinema
Joaquim Pinto e Nuno Leonel, abriu a quarta edição do Olhar de Cinema. Os realizadores portugueses não
vieram a Curitiba para prestigiar as sessões lotadas em três salas do shopping
que sediam o evento, mas enviaram um simpático vídeo para saudar os
espectadores, como fizeram no ano passado quando venceram o festival com E Agora? Lembra-me.
Neste, Joaquim narra em primeira pessoa seu padecimento por
ser soropositivo, as consequências e desafios da doença. É talvez uma das
razões por ele não ter ido também a Berlim, onde Rabo de Peixe estreou. Trata-se de longo projeto,
adiado em função de outros filmes e compromissos como técnicos em longas de
terceiros, e retomado 14 anos depois pela dupla. O hiato dá uma condição
interessante ao atual trabalho, pois registra-se a quase inexistência de
transformações significativas na aldeia de pescadores dos Açores onde se
acompanha a labuta no mar. Ali o tempo não passa.
Os diretores contam com a facilidade de ter um velho amigo
da comunidade para se aproximar dos homens que se lançam ainda de modo
primitivo e artesanal a busca do peixe-espada, por exemplo. Em especial
detalham o cotidiano de dois irmãos gêmeos, e Pedro acaba sendo um
protagonista. Contam com a sorte e o conhecimento do mar, em meio a
fortes tempestades e armadilhas do oceano. Adotam procedimentos rudimentares, e
a cena em que lançam as redes com os barcos em círculo é tão impactante como a
deTerra
Trema, de Visconti.
Mas além das imagens, temos essa espécie de crônica um tanto
piadista e irônica, uma autoironia por vezes, que marca a narração de Leonel e
seu parceiro, devota em grande parte de João Cesar Monteiro, com quem
trabalharam e a quem dedicam o filme. Numa segunda apreciação,o filme se mostra
um tanto reiterativo, com as várias saídas à pesca, e talvez pela falta agora
de um elemento surpreendente contido no texto.
Sem dúvida o cinema da dupla é muito peculiar, nos faz
sentirmos íntimos de seu universo, seu amor pelos cachorros, e um deles, Rufus,
se tornou personagem maior involuntário no vídeo de agradecimento, ao entrar em
cena mancando. Não deixa de ser curioso como essa aproximação pessoal do
cinema, com marca autoral e de memória, ocorre também com uma nova geração
formada por Miguel Gomes e João Nicolau.
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