O que você precisa saber sobre as pedaladas fiscais e o TCU
Você que consome notícias nas grandes empresas de
jornalismo vai ouvir falar freneticamente do TCU nos próximos dias.
Já
está ouvindo, a rigor.
Não porque se trate de um assunto de extraordinária importância. Mas porque os
editores e colunistas da Globo, Veja e Folha acham que isto vai manter no ar a
palavra impeachment.
Eles pensam, assim, agradar a seus patrões, e na verdade
agradam mesmo.
Numa entrevista recente, o presidente da Globo, Roberto
Irineu Marinho, RIM para os que se comunicam com ele no correio eletrônico
global, afirmou que a empresa tem boas relações com o governo Dilma.
Caro RIM: como disse certa vez Wellington, quem acredita
nisso acredita em tudo. Boas relações a Globo teve com a ditadura e,
posteriormente, com os governos que ela controlava, de Sarney a FHC.
A questão do TCU não vai dar em nada, e os mais espertos
sabem disso, mesmos entre os que profetizam o fim de Dilma.
Mas é importante para manter Dilma na defensiva e, com ela,
Lula, o fantasma que apavora a direita para 2018.
(Para
quem quer detalhes, recomendo uma reportagem da BBC).
Se tribunais de contas fossem instâncias de vida e morte
para governantes, não sobraria nenhum governador tucano de São Paulo.
No Palácio dos Bandeirantes, Covas colocou, no TCE de SP,
seu braço direito, Robson Marinho.
A jornalistas que na época questionaram se haveria conflito
de interesses, ele respondeu que ninguém melhor que um amigo de confiança para
uma função tão vital como a de fiscalizar as contas do governo paulista. Vale
dizer, as dele próprio, na ocasião.
Robson Marinho enriqueceu, nestes anos todos. Mas está
impedido de desfrutar de parte da fortuna porque a Suíça congelou uma conta
milionária sua num banco local por entender que era abastecida por corrupção.
Mesmo diante da atitude da Suíça, Robson Marinho foi
mantido no TCE, do qual só há pouco tempo foi, enfim, afastado.
A
mídia jamais se
incomodou com sua permanência no TCE, e consequentemente nem Alckmin por não
sofrer nenhum tipo de pressão.
Mas agora, por uma mistura de hipocrisia e oportunismo, um
tribunal de contas vira uma preocupação monumental para quem enxerga nisso uma
chance de atazanar Dilma.
A tática é a de sempre: você mantém o assunto nas
manchetes, e ouve os políticos que você sabe que gritarão frases
pseudomoralistas.
A rigor, os jornalistas da grande mídia podem até economizar
um telefonema. Como Elio Gaspari
fazia
na Veja na década de 1980, podem inventar declarações. Porque as fontes toparão qualquer coisa,
num casamento obsceno de conveniência.
“Pedaladas fiscais”, o pecado do qual Dilma é acusada, é um
expediente comuníssimo nas corporações, incluídas, evidentemente, as
jornalísticas.
Em meus anos de executivo na Abril, cansei de ver isso
acontecer. Você segura alguns pagamentos, antecipa certas receitas – e acerta
tudo no exercício seguinte.
As
empresas usam este expediente para mostrar ao mercado que estão atentas à
coluna de gastos e ao chamado bottom line, a
linha que define lucro ou prejuízo.
Para os executivos das corporações, é uma manobra para
garantir ou aumentar bônus num determinado ano.
Mas, como se trata de pegar Dilma, vale tudo.
Alguém tem dúvida de que FHC pedalou em seus anos de
presidência? Apenas isso não era assunto porque FHC era um amigo fiel da
plutocracia.
Não vai acontecer nada agora, como não aconteceu antes.
Mas quem consome notícias das grandes empresas de mídia vai
ficar com o coração batendo rápido nas próximas semanas, caso tenha qualquer
simpatia por Dilma e os 54 milhões de votos que a reconduziram ao cargo no
final do ano passado.
Minha recomendação, neste caso, é a de sempre: fugir da
grande mídia em nome não da sanidade.
E
também para evitar que você fique muito mal-informado.
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