16 de julho de 2015: o dia em que o império de Eduardo Cunha (vulgo Cunhão) começou a cair
O
império de Eduardo Cunha começou, finalmente, a desmoronar. E ele tentará
dinamitar o governo federal antes.
Faz sete meses que o país é governado de fato por um cesarista que impôs
uma agenda retrógrada montado em bancadas antidemocráticas, insuflado pelo
populismo, tomando vantagem de um poder executivo acuado. Um déspota que, no
vácuo e com a cumplicidade e o auxílio dos suspeitos de sempre, virou o sonho
de consumo de uma direita indigente.
O depoimento do lobista Julio Camargo, avassalador, detalha
uma propina milionária envolvendo negócios com navios sondas da Petrobras.
Camargo se disse apreensivo quando se encontrou com Cunha.
Ele é, segundo o empresário, “conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso
que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal
contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era
merecedor de 5 milhões de dólares”. Fernando é Fernando Baiano, suposto sócio
oculto de Cunha, apontado como operador do PMDB.
Com todas as reservas, o retrato de Eduardo Cunha traçado
por Camargo casa perfeitamente com o personagem que se apresentou aos
brasileiros. “Agressivo não no tipo físico”, descreveu. “Diria mais sob o ponto
de vista verbal, uma pessoa que tenta lhe constranger, lhe colocar a corda no
pescoço, no sentido de possuir as ideias”.
Por que ele não fez essas denúncias em depoimento anterior?
Ele menciona que foi alertado, ao fechar o acordo de delação premiada
com o MP Federal do Paraná, que acusações contra políticos deveriam ser feitas
para a PGR por causa do foro privilegiado.
Mas não só. “Uma pessoa que ameaça você através de
terceiros é uma pessoa da qual se precisa ter cuidado”, alegou. Cunha teria lhe
garantido que estava “no comando de 260 deputados”.
“Fico preocupado”, contou. “O maior receio é com a família,
porque quem age desta maneira perfeitamente deve agir contra terceiros.”
Intimidação é uma especialidade. O doleiro Youssef afirmou
à Justiça no mesmo dia que um deputado federal que integra a CPI da
Petrobras o está pressionando. Não deu o nome, mas contou para quem ele
trabalha.
“Eu como réu colaborador quero deixar claro que eu estou
sendo intimidado pela CPI da Petrobras por um deputado, pau mandado do senhor
Eduardo Cunha”, disse.
Eduardo Cunha vinha nadando de braçada. O ápice de sua
cavalgada se deu no atropelamento regimental que fez com que a Câmara aprovasse
a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos para crimes hediondos.
Achacou, ameaçou, desdenhou das críticas. Arrogante,
sentindo-se acima da lei, lançou hoje mesmo uma bravata sobre a possibilidade
de uma diligência da polícia federal. “A porta da minha casa está aberta, vão a
hora que quiserem. Eu acordo às 6h, que não cheguem antes das 6h, para não me
acordar. Eu não sei o que eles querem buscar lá, mas se quiserem estou às
ordens”.
Na sexta feira, dia 17, ele tem marcado um pronunciamento
no rádio e na televisão. Oficialmente, o objetivo é apresentar um balanço
semestral do Legislativo. A intenção evidente é vitaminar sua projeção
nacional. O roteiro, agora, foi drasticamente alterado.
Um panelaço está marcado. Pode ser a trilha sonora do
início do fim do projeto de Eduardo Cunha. A corda está no pescoço dele.
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