SERÁ QUE O CUNHA DETONOU O CUNHÃO!?...
Por Tereza Cruvinel no 247
Título original: "Quem foi que detonou Cunha?"
Quem foi mesmo que detonou o poderoso Eduardo Cunha,
providenciando o depoimento em que o delator Júlio Camargo, consultor da
construtora Toyo, afirmou ter-lhe pago propina de US$ 5 milhões? A
resposta parece não despertar interesse pois tal como contada a história está
boa: turbina a crise e aumenta a confusão.
Para Cunha, acusar Rodrigo
Janot, Dilma e o PT de terem articulado a denúncia foi a melhor saída.
Defendeu-se negando tudo e desfechando um ataque que ampliou , pelo menos
momentaneamente, as dificuldades do governo. Tenta transformar a crise politica
numa crise institucional, compartilhando com Renan Calheiros o discurso de que
Congresso está sendo atacado e o Estado de Direito ameaçado por uma aliança
entre o Ministério Público e o Executivo.
Nos meandros da Lava Jato,
entretanto, chama-se atenção para o fato que deu origem ao depoimento em que
Camargo fez a denúncia. O vídeo do depoimento que circula pela Internet (http://www.ocafezinho.com/2015/07/16/o-video-que-detona-eduardo-cunha/)
e foi postado pela Vara Federal de Sergio Moro, mostram o início da
sessão, com a câmera focada em Camargo. Sem aparecer, Moro informa: “Senhor
Júlio. O senhor já foi ouvido neste processo mas houve um pedido de
reinquirição por parte da defesa do senhor Fernando Soares, então vamos
realizar esta reinquirição”. E informa que ele tem o direito de nada
responder e ficar calado se preferir.
Ora, Fernando Soares é tido
pela Lava Jato como operador do PMDB e até como sócio oculto de Cunha.
Por quê seu advogado, Nélio Machado, pediu a reinquirição de Júlio
Camargo? Teria esperado uma coisa e se deparado com o explosivo
depoimento que atingiu Cunha? Pode ter sido isso mas há quem pense que
partiu de Fernando Baiano - que até agora não fez acordo de delação premiada e
andaria dizendo sob reserva que recebe ameaças do PMDB para se manter calado –
a decisão de explodir seu suposto parceiro bem mais importante. Naquele mesmo
dia, Fernando Baiano também prestou depoimento a Sergio Moro e exerceu seu
direito de ficar calado, não respondendo a nenhuma pergunta. Calou-se mas criou
a oportunidade para Camargo falar.
E há também outra leitura, esta
bem mais maquiavélica. Em depoimento prestado em maio no âmbito dos
processos que correm no STF contra políticos, Júlio Camargo já havia citado
Cunha e a suposta propina mas isso não se tornara público. Não o citara
lá em Curitiba, na vara federal, de onde tudo vaza, por conta do acordo feito
no STF. Por tal leitura, o próprio Cunha estaria por detrás do pedido de
reinquirição de Júlio, feito pelo advogado de Baiano. Teria ele mesmo decidido
explodir o caso, antes de sofrer uma busca e apreensão ou mesmo de ser
denunciado por Janot ao STF. Antecipando-se, denunciado por um delator, no
momento por ele escolhido, Cunha teria conseguido o protagonismo desejado,
saindo como vítima de um complô ao qual reagiu com destemor, rompendo com o
governo. Seria muito maquiavelismo.
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