NOBEL DE ECONOMIA: “BRASIL NÃO ESTÁ NO DESESPERO”
Economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, diz em
entrevista que o Brasil, apesar da "bagunça política", tem
fundamentos econômicos que não estão "nem perto" das condições em que
estiveram em outras crises vividas pelo país, como na época de FHC.
Por Fernando Brito, do Tijolaço
Na Folha de hoje, em entrevista em que diz que
a economia global patina numa situação de "crescimento baixo, pressões
deflacionárias e desempenho decepcionante", o economista Paul Krugman,
Prêmio Nobel de 2008, diz que o Brasil, apesar da "bagunça política",
tem fundamentos econômicos que não estão "nem perto" das condições em
que estiveram em outras crises vividas pelo país.
"As
pessoas estão exagerando", diz Krugman, numa forma eufemística para
definir o clima de pessimismo que a mídia e a elite política atiram sobre o
país, claro que com o farto combustível que lhes fornece o monótono discurso do
"corta, corta, corta" do Ministro Joaquim Levy, incapaz de propor
qualquer linha de intervenção do Estado que possa, diante dos investidores,
apontar negócios promissores.
Leia
os trechos em que Krugman se refere ao Brasil.
"O Brasil não está nem
perto do que era antes"
Folha
– O Brasil enfrenta uma crise econômica, aliada a um cenário de incerteza
política que prejudica o ajuste fiscal. É uma das piores crises da história
recente do país?
Apesar
de o Brasil estar obviamente uma bagunça, do ponto de vista político, e mesmo
que a economia tenha sofrido um retrocesso perto de todo aquele otimismo de
alguns anos atrás, os fundamentos econômicos do país não chegam nem perto de estar
tão ruins quanto em episódios anteriores.
A
situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de um momento em que
precisaria imprimir dinheiro para pagar suas contas. A taxa de câmbio está
alta, mas nada perto dos níveis que associamos a crises graves.
Houve,
sim, impacto da queda nos preços das commodities, e isso é significativo. Mas o
Brasil de 2015 não é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um
problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo.
Mas as pessoas estão exagerando.
O
país perdeu o grau de investimento concedido pela agência de classificação de
risco Standard & Poor's em setembro, e um novo rebaixamento pode ocorrer
até o próximo ano. Qual poderia ser o efeito disso para o Brasil?
Nos
países avançados, as classificações de risco não têm efeito nenhum. Para o
Brasil e outras economias emergentes, isso ainda pode importar um pouco, mas
bem menos que antes. É importante dizer que não há informação nenhuma na nota,
as agências não têm nenhuma informação que as pessoas que acompanhem os dados e
os jornais não saibam.
Isso
pode ter algum efeito porque há alguns investidores institucionais que são
obrigados a considerar o rating para montar seus portfólios. Mas eu suspeito
que isso não seja grande coisa na situação atual. Isso gera manchetes, mas o
que importa mesmo é a percepção.
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