A LAVA-JATO E O COMÉRCIO DE VAZAMENTOS SELETIVOS
Em 17 de abril/15 escrevi em "Carta Aberta ao Juiz Sérgio Moro" já desconfiando que havia um comércio espúrio nos porões da Lava Jato:
"Há um ano, quase ninguém conhecia o Juiz Sérgio Moro; hoje, praticamente, o mundo inteiro já ouviu esse nome sempre atrelado a atitudes próprias de um paladino da moralidade ou do herói que enfrenta destemidamente os poderosos; sempre cercado de jovens Procuradores da República e arrojados Delegados da Polícia Federal.
(...)
Não vou questionar aspectos técnicos porque não me cabe, mas, explique Excelência:
1. Por que a citação do nome de Aécio Neves, pelo bandido Youssef, ainda antes do primeiro turno das eleições do ano passado não vazou para a imprensa, e o de Dilma vazou? Acredito que o vazamento não teve a participação de Vossa Excelência, mas por que não tratou de reparar o prejuízo à candidatura de Dilma Rousseff?"
E seguem outros questionamentos que você pode ler no link:
http://rodolfovasconcellos.blogspot.com.br/2015/04/carta-ao-juiz-sergio-moro.html
Por Tereza Cruvinel no 247
Há um ponto de
interrogação em negrito na trama que levou à prisão do senador Delcídio do
Amaral e do banqueiro André Esteves. Ele indaga sobre como o banqueiro teve
acesso a um rascunho de acordo de delação premiada no qual o ex-diretor da
Petrobrás Nestor Cerveró falaria de muita gente, incluindo os dois.
A
partir do momento em que teve acesso ao documento é que o banqueiro teria
decidido “tirar este assunto da frente até o final de novembro”, como diz
Delcídio na gravação. E o senador, também interessado em evitar a delação ou
ser poupado se ela viesse a ocorrer, entra como operador do mirabolante plano
de comprar o silêncio de Cerveró, com alternativa de obter do STF um Habeas
Corpus, o HC de que tanto falam na gravação, para libertar condicionalmente o
ex-diretor da Petrobrás e a seguir dar-lhe fuga do país.
O
pecado capital de Delcídio foi esta passagem em que insinua poder influenciar
ministros do Supremo neste sentido, diretamente ou com a ajuda de terceiros,
como Renan Calheiros e o vice-presidente Michel Temer. Seus colegas senadores
acham que ele bravateou para impressionar o filho de Cerveró, mas com isso
feriu os brios da corte, que respondeu com a medida nunca antes vista neste
país, a prisão de um senador não condenado no exercício do mandato. Aliás, os advogados
de réus da Lava Jato acham que agora ficará mais difícil obter HCs do STF para
seus clientes, o que já não era fácil.
Voltando
ao rascunho da delação que Cerveró tentava fazer mas não era levado a sério
pela cúpula da Lava Jato, ela acende uma luz vermelha na mesa do juiz Sergio
Moro. Agora ficou claro que ali ocorrem vazamentos de duas naturezas. Uns, os
chamados seletivos, para a imprensa, têm o objetivo de criar embaraços
políticos e alimentar a crise, que não pode amainar. E entre estes inscrevem-se
os vazamentos de informações sobre o ex-presidente Lula, como sua movimentação
financeira, violando seu sigilo bancário que nunca foi quebrado, pois não é
investigado nem processado.
De
outra natureza são vazamentos como este de que se valeu o banqueiro para tentar
calar Cerveró. Pode haver ali, em algum escalão da Lava Jato, um comércio de
informações e documentos entre agente da operação e suspeitos abonados como
Esteves. Para não desmoralizar “a voz que clama no deserto”, o juiz Moro
precisa colocar o assunto em sua pauta interna. Cabe sobretudo ao
procurador-geral Rodrigo Janot tirar a limpo este tráfico de documentos
sigilosos, que podem frustrar ações e procedimentos investigativos.
O
caso Delcídio-Cerveró explicita também que muitas delações premiadas podem ter
suas validades comprometidas caso fique provado provado que houve omissão
seletiva de informações por parte dos delatores. Fernando Baiano nada falou
sobre André Esteves mas as conversas gravadas sugerem que ele calou informações
sobre o banqueiro.
Coisa
parecida houve antes quando Júlio Camargo omitiu o suposto pagamento de propina
ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em sua primeira delação. Depois, o
advogado de Baiano, Nelio Machado, pediu a reinquirição de Camargo e ele falou
sobre os US$ 5 milhões que teriam sido pagos a Cunha pelo contrato de
navios-sonda. O novo depoimento foi vazado e começou o inferno para Eduardo
Cunha.
Em
seguida houve a nebulosa renúncia da advogada Cata Preta à defesa de seus
clientes alegando estar sendo ameaçada. Por quem, nunca disse. Saiu de cena.
Dizem que ela garantiu a omissão de clientes em relação a algumas pessoas e
eles acabaram abrindo o bico. Não entregou a mercadoria, ficou na corda bamba e
resolveu ir para Miami.
A
Lava Jato pode ser o farol que ilumina o escuro da corrupção, pode ser a voz
que clama no deserto, mas tem lá seus escurinhos, que o juiz Moro e o
procurador-geral precisam iluminar.
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