SALMÃO E FILÉ-MIGNON PARA O LANCHINHO DOS JUÍZES E DESTITUIÇÃO PARA A SECRETÁRIA QUE LICITOU CUMPRINDO ÓRDENS
Do Estadão:
O
Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) exonerou na segunda-feira, 9, a
coordenadora do setor de Serviços Gerais, Valéria Márcia Carvalho Ildefonso,
uma das responsáveis por elaborar o polêmico edital que previa a compra de filé
mignon e salmão para os “lanches” dos juízes e desembargadores mineiros. A
decisão ocorreu após o Estado revelar
a polêmica licitação e o Conselho Nacional de Justiça abrir um procedimento
para cobrar explicações da corte e causou grande repercussão entre os
servidores do órgão.
Abalada
com o caso, a servidora procurou ajuda médica e não quis falar com a
reportagem. Valéria continua trabalhando na corte mineira em outra
função. Desde 2012 o nome dela aparece nos editais para o
fornecimento de lanches, feitos anualmente, como “apoio técnico” ao certame.
Toda a história nasceu do fato de ter sido a D. Valéria a
encarregada de fazer um “upgrade” nos lanches de Suas Excelências, com a posse
da nova gestão do Tribunal. O orçamento passou de pouco mais de R$ 700 mil por
ano para R$ 1,7 milhão, o que é natural, dadas as dificuldades por que passam
todas as administrações estaduais e, evidente, como os juízes e desembargadores
ganham pouco – em torno de R$ 27 mil – e mais uns complementozinhos (10% de
auxílio saúde, perto de R$ 5 mil de auxílio moradia, mais auxílio-alimentação,
creche e escola para os filhos) – era preciso dar-lhes um repasto à altura de
sua divindade.
Seria, só, mais um dos episódios de abuso, insensibilidade e
falta de austeridade. Não que os poderes não possam ter, nos seus órgãos
dirigentes – e sempre com moderação – com o que receber visitantes, autoridades
ou mesmo “enganar o estômago” durante reuniões prolongadas ou tardias. Ou até
que lhes sirvam, um dia ou outro um prosaico filé com fritas, no gabinete ,
para o Presidente e auxiliares, para que seu caro dia de trabalho
renda mais.
Ninguém está fazendo demagogia de pedir que Sua Excelência
vá ao botequim da esquina. Com parcimônia e austeridade, é natural o suporte
à função.
O que chama a atenção é a covardia de, diante de uma
repercussão negativa da compra de alimentos para o lanche, tomar a providência
de… demitir a subalterna a quem alguém mandou fazer a compra.
Se Suas Excelências são capazes de fazer isso com uma
funcionária, que está ali servindo-os e obedecendo as ordens que lhe dão, o que
serão capazes de fazer a uma pessoa humilde, do povo, na hora de julgar?
Porque o caráter de um homem – chato ter de
lembrá-los de que não têm a condição divina – é o mesmo em tudo o que
faz quando no exercício da autoridade.
E a autoridade sem caráter é o que de mais perigoso pode
haver para uma sociedade.
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