O IMPEACHMENT DESANDOU NAS RUAS. SAIBA PORQUÊ.
Por Tereza Cruvinel, em seu blog no 247
As
manifestações de ontem a favor do impeachment foram um anticlímax. Estão aí os
dados do Datafolha mostrando a curva descendente de participação e uma retração
superior a 70% em relação a março. É claro que isso pode mudar, tudo pode
mudar no processo social. Mas por que, justamente agora, com o processo aberto,
a ideia do impeachment desandou nas ruas?
Por
vários motivos, quase todos representados por erros da oposição.
1) O
primeiro e maior erro dos adversários de Dilma e do PT foi apostar num
impeachment liderado por Eduardo Cunha. Mesmo depois que ele começou a ser
investigado pela Lava Jato a oposição manteve a aposta. Ensaiou um rompimento
mas realinhou-se de forma ambígua depois que ele acolheu o pedido Bicudo/Reale.
O povo não é bobo. Entendeu que Cunha chantageou o PT para votar a seu favor e
vingou-se quando o partido tomou decisão oposição.
2) O
segundo erro foi tentar atropelar as regras e a própria Constituição. O povo
não é bobo. Sabe diferenciar um impeachment imperativo de uma armação golpista.
Afora a fragilidade jurídica da acusação, houve a tentativa de controlar a comissão
especial através de um inusitado “bate chapa” com voto secreto e até a
interpretação de que a Câmara, e não o Senado, terá o poder de tirar
Dilma do cargo se o julgamento dela for autorizado por 3/5 dos deputados.
3)
Ficou também explícita demais a ambição do vice-presidente Michel Temer pelo
cargo. As “caneladas” dentro do PMDB para empurrar o partido rumo ao
impeachment também foram muito bandeirosas e culminaram com a truculenta
derrubada do líder Picciani, que é contra o impeachment e continua sendo.
As articulações precipitadas do PSDB sobre a participação num eventual governo
Temer, da mesma forma, pegaram mal.
4)
Boa parte da inteligência nacional posicionou-se contra tal impeachment.
Artistas, juristas, intelectuais, sindicalistas, religiosos e reitores, entre
outros, são setores sociais que têm peso específico na formação da opinião
média. Daqueles que observam o rumo do vento antes de se posicionarem.
5)
Por fim, a narrativa do impeachment não colou, ao passo que a denúncia do
golpismo fez sentido e reverberou forte, afastando das manifestações aqueles
que não querem figurar numa história antidemocrática. A narrativa do
impeachment não colou, entre outros motivos, porque o discurso foi ambíguo. A
acusação formal a Dilma foi de crime de responsabilidade por conta de pedaladas
fiscais. Mas para a rua, a oposição falava em corrupção, mar de lama, pixuleco
e outras metáforas do grande escândalo em curso, que já atingiu tanta gente,
inclusive do PT, mas não chamuscou Dilma. Tanto que, no pedido formal, não foi
acusada de ato de improbidade mas de má gestão.
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