DALLAGNOR - O FALSO PROFETA - E A LAVA-JATO, FAZEM NO BRASIL O QUE NÃO TERIAM CORAGEM DE FAZER NOS EUA
Num bom perfil de Deltan Dallagnol no Valor há um trecho que teve intensa repercussão. Reproduzo-o aqui:
“O coordenador da Lava-Jato tem uma interpretação culturalista da
história. Acha que foi a colonização portuguesa quem legou a corrupção à
terra natal. ‘Quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados,
criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas,
cristãs, que buscavam realizar seus sonhos, era um outro perfil de
colono’”.
Dallagnol tem mestrado em direito em Harvard e é americanófilo. Até
aí, ninguém tem nada com isso. Como ele, o juiz Sérgio Moro também
recorre muito aos EUA. Em audiência na Câmara sobre medidas contra a
corrupção, Moro mencionou quinze vezes aquele país,
citando especialmente a expressão “jurisprudência americana”.
A simplificação histórica ginasiana de Dallagnol, não totalmente
errada, não lhe deixa atentar para o seguinte: muito provavelmente, nem
ele e nem Moro fariam lá o que fazem aqui.
Em junho, um procurador de Orlando foi exonerado por fazer
comentários no Facebook sobre o atentado na boate Pulse. Kenneth Lewis,
eleitor de Trump, evangélico, escreveu que a cidade toda deveria se
sentir aliviada e que a região da Pulse era um “cadinho para descrentes
de terceiro mundo e valentões de gueto”. Dançou dias depois,
esperneando.
Dallagnol é fã de Martin Luther King, a quem homenageia em suas
apresentações em igrejas. A devoção vem principalmente do fato de que
King era pastor batista. Dallagnol é membro da Igreja Batista do
Bacacheri, em Curitiba.
É uma apropriação indevida. King, defensor dos direitos civis, foi
preso 30 vezes. Em 1964, quando ganhou o Nobel da Paz, falou que os
Estados Unidos teriam muito a aprender com o “socialismo democrático” da
Escandinávia. Era preciso encarar as “questões de classe” e o que ele
descreveu como “o fosso entre os que têm e o que não têm”.
Deltan usa bobagens de auto ajuda como esta: “As palavras de Martin
Luther King Jr nos inspiram e mostram que quem sonha tem o poder de
transformar o mundo”. É a versão pocket palatável de Luther King, falsa
como uma nota de 7 dólares.
Recursos que ele copia dos EUA são vistos com cada vez mais
resistência. Os powerpoints são pesadamente criticados na Justiça por
ser uma peça para manipular os jurados. O expediente é chamado de
“advocacia visual” por acadêmicos americanos da área de direito, como apontou o Paulo no DCM.
No que se refere a Moro, sua vida não seria fácil. O código de conduta
dos juízes americanos tem um capítulo sobre as “proibições gerais”. Uma
delas: “Um juiz não deve agir como líder ou ter cargo em organização
política; fazer pronunciamentos ou apoiar uma organização política ou
candidato”.
Como seriam vistas as palestras de Moro nos eventos do tucano João Doria?
Em julho, Ruth Bader Ginsburg, da Suprema Corte, teve de pedir
desculpas por causa de uma crítica a Donald Trump. “Juízes devem evitar
comentar a respeito de um candidato a cargo público. No futuro, serei
mais circunspecta”, declarou, depois da reprovação inclusive de
apoiadores de Hillary Clinton.
“Sem as desculpas dela, outros juízes poderiam tomar partido em
disputas políticas e usar o exemplo de Ginsburg”, disse o professor de
direito da Universidade de Nova York Stephen Gillers ao LA Times. “Eles
poderiam alegar: ‘Se é ok para ela, é ok para mim’. Agora não existe
mais esse precedente”.
Necessitamos da separação dos poderes, sem a qual, segundo
Montesquieu, “tudo estaria perdido”. No Brasil, é mais fácil vender
espelhinhos pros índios.
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