POR QUE MICHEL TEMER QUER SE VINGAR DO BRASIL?
Arte do Bastidores
Por Bajonas Teixeira,
colunista de política do Cafezinho
Nada
é mais chocante que a ânsia do governo Temer por realizar intervenções brutais
que deixarão terríveis cicatrizes na face da sociedade brasileira. Seu governo
não tem legitimidade, sua duração será breve e qualquer política que aprove,
logo passará às mãos de um novo presidente.
Por
que então esse governo insiste tanto em realizar reformas profundas e dolorosas
para a sociedade brasileira, em especial para os mais pobres?
Porque
esse não é apenas um governo do golpe. Um governo nascido de um golpe poderia,
em certas condições, ser um governo de conciliação. Não é o caso do governo
Temer. Ao contrário. Ele é um governo de vingança que procura esquartejar os
arranjos das políticas estruturadas ao longo da trajetória do PT. É um governo
de terra arrasada, ou de guerra de extermínio.
E
que motivos o levam a tratorar quinze anos de políticas públicas mais ou menos
democráticas? O fato de que é um governo que, para abrir o saque dos recursos
públicos (leia-se PPI, Pré-Sal, etc.) necessita do beneplácito das elites. Como
conquistá-lo? Prestando o serviço de, da forma mais violenta e imediata, limpar
o país da herança do PT. Afastar das cercanias do poder a tiros os grupos
sociais beneficiados nesses anos, expulsá-los para as periferias e os guetos da
política brasileira.
Isso,
em primeiro lugar. De outro, se trata depositar sobre as costas, e os ombros,
desses grupos todo o peso da 'solução' da crise econômica, livrando as classes
ricas de qualquer ônus pela crise (impostos, CPMF progressiva, impostos sobre
heranças, etc). Nesse sentido, é um governo de massacre e de violação, que
devolverá o Brasil a situação de trinta anos atrás, isto é, a situação de país
mais desigual do mundo.
Será
responsabilizado? Não. Porque daqui há vinte e poucos meses não estará mais
aqui. É um governo de dias contados. O novo governo, vai manter e até reforçar
todas as políticas impostas por Temer, mas dirá da forma mais descarada que não
pode fazer diferente, que tem que seguir essa política que, se tivesse podido
escolher, nunca adotaria. Mas que agora é tarde.
Temer
se lança sobre os arranjos políticos democráticos do governo no qual ele era o
vice, como um jagunço ou um salteador feroz. Ele atua sobre a arquitetura legal
e institucional como um veterinário de guerra que, habituado a costurar
cavalos, de repente, é levado para uma sala de cirurgia plástica. Temer está
muito consciente que deixará cicatrizes profundas e desfiguradoras sobre o
tecido da sociedade brasileira.
Mas
isso não importa. O que importa é que receberá os aplausos da mídia, da classe
média e, sobretudo, do grande capital, dos grandes empresários, dos
latifundiários. Então, todas as chaves estarão graciosamente em suas mãos,
todas as portas serão abertas, e todas as PPIs serão aprovadas.
Espanta
a passividade da esquerda diante dessa estratégia óbvia. Quem olha para a
esquerda nesse momento, lânguida, prostrada em cava depressão, se pergunta se
essa a atitude não é a maior cumplicidade que o golpe poderia almejar. Não é
verdade, como um jornalista disse essa semana, que as manifestações nas ruas
ajudariam o golpe a instaurar um regime de exceção.
Ao
contrário. Em todos esses meses, foram sempre as mobilizações que fizeram o
golpe recuar, mesmo que momentaneamente, e reduzir o seu ritmo. Quando vão
recomeçar as mobilizações e manifestações de ruas? Logo, logo, será tarde
demais porque haverá gente de menos disposta a pisar no asfalto.
Caro
leitor, temos que multiplicar e fortalecer os fronts de batalha pela
democracia. O golpe gostaria de ter uma única mídia, totalitária, uma única
Globo, trabalhando para fabricar zumbis obedientes. Nós, ao contrário, só vamos
ganhar força através da diversificação dos meios e das chances de informação e
opinião.
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