SEM FREIOS, MORO PERDE O MEDO E PODE PRENDER LULA
Prisão de Lula será o clímax do regime de exceção
Texto de JEFERSON MIOLA no 24/7
A coluna Painel da Folha de São Paulo de 10/10/2016 publicou: "Um
policial explica assim a multiplicação de investigações contra o
ex-presidente: 'Perdemos o medo'".
A justificativa para caçar Lula não é a existência de provas
concretas contra ele, mas a perda de temor e de pudor, pelos
procuradores, juízes e policiais da Lava Jato, de condená-lo à revelia.
Nada mais explícito sobre o regime de exceção jurídica, midiática e
policial que se vive no Brasil.
O resultado da eleição de 2 de outubro encorajou os golpistas. O
revés eleitoral do PT e da esquerda foi traduzido como sendo o fracasso
da narrativa do golpe. O usurpador Michel Temer apressou-se em
caracterizar o resultado da eleição como uma derrota da tese de golpe.
A leitura de que a urna diminuiu o tamanho da resistência
democrática, turbinou a execução selvagem do plano golpista, de implodir
o capítulo dos direitos sociais da Constituição, alienar a riqueza
nacional e hipotecar o país.
Os golpistas têm pressa; não desperdiçam tempo político. Sabem que a
ilegitimidade do governo usurpador encurta o prazo para conseguirem
impor os retrocessos anti-povo e anti-nação. Precisam consolidar
rapidamente a restauração neoliberal e o regresso da influência
perniciosa do FMI e do Banco Mundial no Brasil.
Por isso, aceleram a agenda regressiva em matéria de direitos sociais
e criam amarras institucionais, econômicas e financeiras de longo
prazo, que convertem a eleição em mera formalidade. Com o aprofundamento
do golpe, nas próximas décadas a sociedade não será governada por
governos eleitos, mas sim pelo deus-mercado, cujos interesses estão
sendo gravados e protegidos na Constituição, acima da soberania e dos
direitos do povo.
Em uma semana, a oligarquia golpista inviabilizou a Petrobrás e
entregou a exploração do petróleo de águas ultra-profundas para
petroleiras estrangeiras. A riqueza do pré-sal, estimada em mais de 30
trilhões de dólares, é quase duas vezes o PIB dos EUA. A subtração desta
renda interdita o futuro do Brasil, lesa o lucro da Petrobrás e
seqüestra os recursos previstos para ampliar o SUS [25%], a educação
pública [75%] e o avanço civilizatório ao longo do século.
Os deputados da base golpista também aprovaram, em primeira votação, a
PEC 241, que congela por 20 anos os gastos sociais para engordar
sobremaneira os juros e a dívida, hoje equivalente a R$ 900 bilhões ao
ano. Em 10 anos de vigência da emenda constitucional da morte e do
atraso, como é chamada esta PEC, mais de 1,5 trilhões de reais serão
desviados do SUS, da educação e dos programas sociais, para serem
transferidos à especulação financeira.
Inebriado com este sucesso parlamentar momentâneo, o governo
usurpador decidiu antecipar o ajuste neoliberal da Previdência. E, além
disso, prioriza a aprovação o Projeto de Lei nº 257/16, que condiciona a
ajuda financeira a Estados e Municípios à eliminação de direitos do
funcionalismo público, à promoção de arrocho salarial e ao desmonte de
políticas públicas.
Com as medidas impopulares e cujos efeitos serão sentidos
imediatamente, esta oligarquia colonizada dificilmente conseguirá vencer
a eleição de 2018. Apesar disso, todavia, poderá continuar exercendo o
poder real, porque já terá aprisionado o Estado com as reformas
liberais-conservadoras do Estado de Direito e da Constituição.
As políticas que fazem o Brasil retroceder mais de 50 anos são
operadas por um governo ilegítimo, reprovado por mais de 150 milhões de
brasileiros, porém sustentado pela tropa montada no Congresso por Temer
em sociedade com o gângster psicopata Eduardo Cunha.
Ao lado da modelagem neoliberal do Estado brasileiro, o regime de
exceção aperta o passo para prender o ex-presidente Lula, à revelia do
devido processo legal – afinal, admitem que "perderam o medo". Os
justiceiros já revelaram que na caçada do ex-presidente, provas são
dispensáveis, bastam "convicções".
A força-tarefa da Lava Jato e a mídia nem dissimulam: invalidam as
delações que citam políticos do PMDB, PSDB, PP, PTB, PSD [Temer, Cunha,
Aécio, Serra, Padilha, Gedel, Jucá etc] e induzem os delatores a
incriminarem falsamente o Lula e políticos petistas.
A prisão do Lula será o clímax do regime de exceção. Com o resultado
da eleição municipal, os golpistas se sentem autorizados a avançar o
ataque aos direitos sociais, à democracia e à principal liderança
popular do país.
Esta realidade fascista somente é viável com o posicionamento
homogêneo da mídia – Globo à frente – para legitimar a atuação de
procuradores, juízes e policiais que capturam o Estado e partidarizam o
cargo e a função pública para perseguir e liquidar os adversários
políticos.
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