DELEGADO IGOR ROMÁRIO DE PAULA DESMORALIZOU DE VEZ A LAVA JATO - DIZ KAKAI
A
entrevista do delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, ao
portal Uol, nesta sexta-feira (27), na qual o policial prevê que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser preso num prazo entre
30 e 60 dias, é “tão desqualificada” que nem mereceria comentário.
“Ninguém fala de prisão em forma de ameaça. É a própria desqualificação
do instituto da prisão. Estou em Lisboa, trabalhando aqui, mas vi e
achei inacreditável. Prefiro não acreditar que seja verdade aquilo que
foi dito, prefiro acreditar que seja falso”, diz o advogado criminalista
Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
“É a desmoralização completa das
investigações, ao se utilizar a hipótese da prisão como instrumento de
intimidação”, acrescenta. “Tem que se discutir isso, esses abusos não
podem acontecer. Temos que ter uma sociedade de pesos e contrapesos. A
polícia não pode tudo, ninguém pode tudo, nem o Supremo Tribunal Federal
pode tudo. Vindo de um delegado, é gravíssimo.”
O delegado federal previu que o
"timing" para prender Lula pode surgir em "30 ou 60 dias". Kakay
concorda com a defesa de Lula, que, em nota, voltou a denunciar que o
ex-presidente é vítima de “perseguição, mesmo sem existir evidências de
delitos ou provas de qualquer tipo contra Lula”.
“Não tenho nenhuma dúvida de que as
prisões estão sendo feitas de formas ilegais e arbitrárias. A prisão
preventiva virou uma regra, quando tem que ser uma exceção. Uma
declaração como essa (do delegado Igor Romário de Paula)
fortalece imensamente a hipótese de uma perseguição, sem dúvida”, avalia
Kakay. A defesa de Lula afirma que o delegado "será objeto das
providências jurídicas adequadas".
Além de desmoralizar a própria
investigação, Kakay diz que a fala desmoraliza o próprio policial,
apesar de fazer efeito na mídia. “A sociedade ávida por
espetacularização vai achar bom, mas temos que manter uma sociedade que
pensa. Aqueles que pensam, que têm visão crítica, precisam ver que os
limites têm que ser preservados.”
Kakay afirma que a parcela crítica
da sociedade precisa resistir. “Contra o abuso, nós temos que resistir
de todas as formas, seja através da palavra, seja através das ações,
seja através da tristeza. Nós temos que resistir, porque o Brasil hoje
virou uma sociedade punitiva, onde só tem vez e voz, principalmente na
imprensa, quem trabalha pela punição.”
Na nota, o advogado de Lula
Cristiano Zanin Martins afirma que “a forma como o delegado Federal Igor
Romário de Paula se dirige ao ex-presidente Lula é incompatível com o
Código de Ética aprovado pela Polícia Federal”.
Segundo Zanin Martins, ao abordar a
“hipotética privação da liberdade” de Lula, o delegado “deixa
escancarada a natureza eminentemente política da operação no que diz
respeito a Lula”. Os defensores de Lula voltam a dizer no comunicado que
“há pré-julgamento, parcialidade, vazamentos e comportamentos que
violam a ética e a conduta profissional por parte de diversas
autoridades envolvidas nas investigações e processos referentes ao
ex-presidente”.
Zanin Martins voltou a citar o termo
lawfare para se referir aos métodos utilizados nas investigações contra
Lula. “É o ‘lawfare’, como uso da lei e dos procedimentos jurídicos
para fins de perseguição política.”
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