SERRA DEIXOU A "PORCARIA" E SAIU DE FININHO
Algo de muito grave está para acontecer. Explicações como a de tratamento de próstata de Eliseu Padilha e a de depressão de Zé Serra não me convenceram mesmo. Abandonar o barco assim!...
A seguir, texto de Laurez Cerqueira no Brasil 247
O pedido de demissão de José Serra do cargo de ministro das Relações
Exteriores, alegando problemas na coluna, não convenceu muita gente que o
conhece de perto, em Brasília.
Ele volta para o Senado, mas lá a intensidade da agenda de trabalho não é muito diferente do Itamaraty.
Há hipótese de que a volta faz parte de um plano político que visa
posicionar-se melhor na volátil conjuntura política para eventual
candidatura à Presidência da República.
Muito experiente, Serra deve ter percebido que Temer, para dentro do
governo e do Congresso, vai muito bem com a entrega do que foi prometido
aos golpistas, mas na opinião pública está desabando, com perspectiva
de sucumbir rapidamente.
Caso Michel Temer seja cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral ou o
Supremo Tribunal Federal resolva tornarem públicas as delações
premiadas, haverá grande reboliço e novo arranjo de forças políticas
para as eleições é inevitável.
São nesses momentos que surgem as candidaturas, que podem se firmar
ou não. Vai depender, evidentemente, da capacidade de articulação de
quem deseja o posto.
Mesmo afundado na lama da Lava-Jato, tendo que explicar os R$ 23
milhões que a Odebretch disse ter depositados numa conta dele num banco
na Suíça, em 2010, quando foi candidato à Presidência da República, quem
conhece José Serra de perto sabe de sua velha e desmedida ambição pelo
poder, que é o motor de sua vida pública.
Pode ser também que esses R$ 23 milhões da campanha de 2010 não dê em
nada. A Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal
podem estar construindo entendimento de que as investigações da
Lava-Jato devam fazer um corte, não deixar chegar a 2010, e que essa
montanha de dinheiro não tem nada a ver com a Petrobras.
Ele está enrolado também no escândalo do metrô de São Paulo. Mas os
políticos tucanos têm tratamento diferenciado no judiciário. Eduardo
Azeredo, ex-presidente do PSDB, por exemplo, foi condenado em primeira
instância, no conhecido escândalo “mensalão do PSDB”, entrou com recurso
e aguarda até o final dos tempos o novo julgamento em liberdade. Não se
fala mais nesse assunto.
O PSDB está muito mal nas pesquisas de opinião pública e as possíveis candidaturas na lama.
Geraldo Alkmin está citado na Lava-Jato e enredado no escândalo do
metrô e da merenda escolar, mas não parece preocupado com isso.
Aécio, um dos conspiradores do golpe de Estado, está liquidado
moralmente e politicamente. Parece ter perdido o trem para sempre. Vai
depender, evidentemente, de como será tratado pelos magistrados.
Serra é muito amigo do ministro das comunicações Gilberto Kassab,
presidente do PSD, que, no apagar das luzes, no ano passado, montou uma
operação para passar aproximadamente R$ 105 bilhões, segundo o Tribunal
de Contas da União, às concessionárias de telefonia (Oi, Vivo, Claro,
Algar e Sercomtel), em troca de uma promessa de investimento em banda
larga.
Uma ação entre amigos de confiança, digamos. Ou seja, Serra é muito
ligado ao setor de telecomunicações desde quando as empresas estatais
foram privatizadas, no governo Fernando Henrique.
Ele tem amigo, partido e provavelmente dinheiro para a campanha. Se quiser, ele pode deixar o PSDB e ir para o PSD.
Mas o fator que deve ter pesado mais na decisão de José Serra de
deixar o Itamaraty foram tantos NÃOS recebidos em tentativas de agendas
com autoridades estrangeiras. A grande maioria das agendas era com
funcionários, numa demonstração de desprestígio. Isso virou folclore no
Itamaraty.
A ilegitimidade do governo de Michel Temer tem causado dificuldades na política externa do Brasil. Esfriaram muito as relações.
A gota dágua pode ter sido a decisão do Parlamento do Mercosul, de
manter a Venezuela no Mercosul. A investida de Serra pela exclusão foi
derrotada por unanimidade. Até a direita da Venezuela votou contra ele.
O golpe de Estado consumado no Brasil teve um forte repercussão
internacional. Não é comentado publicamente por autoridades de países
desenvolvidos, de democracia avançada, mas nos gabinetes de chefes de
Estado, a portas fechadas, a conversa é outra.
Os políticos e magistrados rastaqueras que agiram com ilusão de que
estavam conspirando para o golpe de Estado entre quatro paredes, não
mediram as consequências nem os danos institucionais que seriam causados
nas relações do país com as demais nações.
Agora estão se dando conta do isolamento enfrentado pelo Brasil. Um
isolamento que só será recuperado com eleições diretas e um governo
legítimo.
Tudo indica que Serra está saindo de fininho. Certamente o problema de coluna existe, mas pode ter sido usado como pretexto.
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