ENTRE A TERRA E O INFERNO, AÉCIO, ROTULADO DE "O PRIMEIRO A SER COMIDO" FARÁ ESCALA NUMA PENITENCIÁRIA
Aécio, Odebrecht e Furnas: é impossível dissociar o tucano das denúncias na estatal mineira
A seguir, texto de Joaquim de Carvalho no DCM
A gigante de energia do Brasil
Furnas aparece de novo no centro de um escândalo de corrupção
relacionada ao senador Aécio Neves, presidente do PSDB.
E, de novo, o senador tenta se
desvincular da empresa e diz que são mentirosas as delações de que a
Odebrecht acertou com ele um pagamento de 50 milhões de reais pelo
contrato de construção de uma usina em Rondônia.
Ignorar a presença de Aécio nas
denúncias de corrupção de Furnas é como negar que a sede da empresa fica
na rua Real Grandeza, em Botafogo.
Simplesmente impossível.
O nome de Aécio aparece na
estrutura de engenharia de desvio de dinheiro de Furnas desde 2005,
quando o então deputado federal Roberto Jefferson denunciou o escândalo
do mensalão.
Aliás, um dos motivos da eclosão
do escândalo do mensalão é justamente a queda de braço pelo controle do
cofre de Furnas, que opôs de um lado Aécio Neves e, de outro,
Jefferson.
Sabe-se dessa história lendo os depoimentos de Jefferson da época e o seu livro “Nervos de Aço”.
O diretor de Engenharia de
Furnas, responsável pelas obras, era Dimas Toledo, que o governo Lula
herdou do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Segundo Jefferson, Lula ofereceu
o cargo ao seu partido, o PTB de Jefferson e o pressionou para que
nomeasse logo alguém “com currículo”, ou seja, qualificado.
Mas, dois anos depois da posse
de Lula, a nomeação não saiu, segundo Jefferson por resistência do então
chefe da Casa Civil, José Dirceu.
“Tem pressão do Aécio”, teria dito Dirceu a Jefferson.
Ceder a Aécio teria sido uma
estratégia de Dirceu: fortalecer o governador de Minas para enfraquecer
Serra, no território minado do PSDB.
Divergências como esta, entre
Jefferson e Dirceu, se acumularam até que o deputado denunciou o esquema
do mensalão – que, registre-se, era também uma herança do PSDB de Minas
Gerais que o governo do PT aceitou.
Nas disputas de bastidores pelo
controle da CPI do mensalão, apareceu a lista de Furnas, com o nome de
156 deputados financiado pelo caixa 2 da empresa nas eleições de 2002.
Aécio era a estrela da lista, e
para desqualificá-la entrou em operação o aparato
juidiciário-ministerial-policial sob a sua influência em Minas, que
prendeu o denunciante da lista.
Ao contrário do que sustentava o
aparato judiciário-ministerial-policial de Minas, a lista não é falsa,
mas a confusão em torno do denunciante anestesiou a repercussão do caso
durante alguns anos.
Até que o crime prescrevesse para alguns, entre eles o apadrinhado de Aécio, Dimas Toledo, que tem mais de 70 anos de idade.
Pode-se ligar Aécio a Dimas de
diferentes maneiras – por cima, ouvindo de novo o deputado Roberto
Jefferson, por exemplo, ou por baixo, aprofundando a investigação sobre
empresas que prestaram serviços no esquema de Furnas e admitem o
pagamento de propina.
Em 20 de dezembro de 2015,
quando eu finalizava uma das últimas reportagens da série sobre a Lista
de Furnas, recebi um e-mail de Renato Freire, que mais tarde vim a
descobrir que se trava de um empresário que fez negócios com Dimas
Toledo.
“Joaquim, se você realmente quer
chegar a fundo sobre a lista de Furnas, você tem que investigar o Sr.
Dimas Toledo”, começava ele.
Renato sugeria ir a Bocaina,
cidade de Dimas, e descobrir como duas propriedades de lá passaram para o
domínio da família do diretor de Furnas: um galpão na entrada da cidade
e a fazenda Jacuí, num município vizinho, Liberdade.
Também dava uma relação de nomes
que operam para ele e sugeria pesquisar a propriedade de imóveis em
Resende, no Estado do Rio de Janeiro, 50 quilômetros de distância de
Bocaina.
Em Resende, a mulher de Dimas é
sócia de um escritório de advocacia e dona de uma imobiliária, tantos
são os imóveis que a família tem para administrar.
Em Bocaina de Minas, o galpão na
entrada da cidade está em nome de Gabriel Toledo, sócio também de um
laticínio. A fazenda Jacuí é do filho, que também se chama Dimas, e é
deputado federal pelo PP.
Renato disse que tanto o galpão
quanto a fazenda eram dele e passaram para o nome de Dimas em razão de
um contrato que ele obteve como terceirizado da empreiteira Odebrecht,
contratada por Furnas, para a construção de usina no rio Madeira, em
Rondônia – usina que está no centro das novas delações contra Aécio.
Renato Freire também teve
máquinas pesadas, como tratores, que eram alugadas para a construtora
Delta, titular do contrato de pavimentação da estrada que liga Bocaina
de Minas a Liberdade, numa distância de aproximadamente 20 quilômetros.
O mais importante da história é
que a pavimentação da rodovia foi contratada pelo governo de Minas
Gerais, quando Aécio era o governador, mas quem colocou Renato no
negócio teria sido Dimas Toledo.
Renato diz que se recusou a
pagar propinas e começou a ter prejuízo. Foi obrigado a abandonar
Rondônia e teve que vender suas máquinas em Bocaina.
Dimas é quem teria intermediado a
venda, com a participação de dois parentes de Aécio, então governador:
Tancredo Tolentino, o Kedo — aquele que foi preso por negociar com um
desembargador, nomeado por Aécio Neves, um habeas corpus para tirar da
cadeia dois homens presos em flagrante por tráfico.
O outro parente de Aécio que
negociou com Renato é Frederico Pacheco de Medeiros, conhecido como
Fred, que foi secretário de Aécio.
Segundo Renato, os três se
reuniram na fazenda de Fred em Cláudio, a cidade de Aécio, e Kedo
negociou em nome da construtora Engetostes, que é de parentes de Kedo e
tem sede em Cláudio.
A Engetostes ficou com as máquinas de Renato por R$ 1 milhão, mas não teria quitado todas as parcelas.
Localizei o então prefeito de
Bocaina de Minas, Wilson Moreira Maciel, que hoje mora em Cachoeira
Paulista, e ele confirmou que Renato tinha mesmo uma empresa que fazia a
locação de máquinas e era dono de um galpão.
Segundo o ex-prefeito, Renato
também foi secretário de administração, “durante um período muito
pequeno”: 45 dias, segundo o próprio Renato, tempo suficiente para ele
descobrir irregularidades na gestão anterior e ser pressionado a deixar o
cargo. Quem o pressionou? Dimas.
Depois do primeiro e-mail, no
dia 20 de dezembro, troquei mais 47 mensagens com Renato, mas ele cessou
o contato, por temer pela segurança da sua família.
“Tenho informações pra você
derrubar o Dimas, que é um cara de R$ 100 milhões e pode chegar no
Aécio, que é um cara de R$ 10 bilhões, e eles podem me destruir… Já te
passei mais informações do que devia”, disse ele.
O empreiteiro Renato Freire é
nome a ser procurado agora pelo Ministério Público ou a Polícia Federal.
Mas será que existe mesmo disposição para investigar Aécio?
Quem conhece o esquema
judiciário-ministerial-policial para lavar mais branco personagens a
quem não se quer ou não se pode incomodar é dizer que decidiu ou
solicitou abertura de inquérito – caso de Furnas.
Inquérito tem, em tese, prato de
30 dias para conclusão, mas ele permanece aberto por anos, às vezes
mais de uma década. É o que aconteceu com a denúncia sobre a Lista de
Furnas.
O nome de Aécio está lá, desde
2005, com a denúncia formalizada na Procuradoria Geral da República, e
só agora se tem notícia de que o procurador Rodrigo Janot solicitou
inquérito para investigar o caso.
No ritmo da Procuradoria Geral
da República quando se trata de Aécio, pode-se apostar que, em 2029,
algum procurador surgirá, solene, pedindo a abertura de outro inquérito,
para investigar Aécio por graves denúncias em Furnas.
Pode-se apostar que, mantido o padrão, não dará em nada.
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