O PIOR ANALFABETO É O ANALFABETO POLÍTICO - BERTOLT BRECHT
A maior parte das pessoas teme a morte, e eu lhes diria uma única coisa – temam menos a morte do que a vida insuficiente.
Se nos perguntarem qual o texto pertencente a série
“Conversas com Escritores Mortos” que, ao longo desses anos, mais nos
marcou e mais fala ao leitor do DCM, nossa escolha repousará muito
provavelmente naquela com o dramaturgo, diretor e ativista social
alemão Bertolt Brecht (1898 – 1956). Os trechos que utilizamos constam em suas peças, poemas e tratados. A tradução foi feita pela autora da entrevista.
Herr Brecht, qual é a importância da consciência política?
Só podemos mudar a realidade quando somos instruídos por ela. Suponho que o pior dos analfabetos seja o analfabeto político.
É mesmo? Por quê?
O analfabeto político não se informa sobre política, não
fala sobre política nem participa de eventos políticos. Ele não entende
que o custo da vida, o preço do arroz, do peixe e da farinha, do
aluguel, dos sapatos e dos remédicos, tudo isso depende de decisões
políticas. O analfabeto político é tão estúpido que é com orgulho que
declara detestar política, sem sequer imaginar que é da ignorância de
pessoas como ele que nascem os criminosos, as crianças abandonadas, as
prostitutas e os políticos corruptos, lacaios de empresas
multi-nacionais e nacionais.
Por falar em ladrões e em prostitutas, não posso deixar de pensar na Ópera dos Três Vinténs, um dos maiores sucessos de sua vasta obra teatral. O anti-herói do musical, Macheath, possui um código moral bastante questionável. O senhor simpatiza com ele?
O bastante para parafraseá-lo: “Não sei o que é pior: roubar um banco ou fundá-lo”.
Essa é uma verdade incontestável?
Tenho para mim que a única verdade de fato incontestável é que a vida é uma vagabunda e então você morre.
Que verdade pessimista. Pensar em morrer não é agradável.
A maior parte das pessoas teme a morte, e eu lhes diria uma única coisa – temam menos a morte do que a vida insuficiente.
Herr Brecht, uma de suas frases mais citadas é a
seguinte: “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém
chama de violentas as margens que o comprimem”. Que margens são essas?
Uma delas é a justiça. A justiça é simples e solenemente
feita para explorar aqueles que não a compreendem e aqueles que, em
situação miserável, não podem obedecê-la.
E quanto aos juízes?
Muitos juízes são absolutamente incorruptíveis: ninguém jamais conseguirá os obrigar a fazer justiça.
Quais as medidas que o senhor pensa que devem ser tomadas para remediar essa situação?
A prioridade é sempre alimentar os pobres. Para quem está
bem de vida, falar de comida é desimportante. O motivo é óbvio: eles já
comeram. Algumas pessoas acham que têm a missão de purificar os pobres
dos sete pecados, mas deveriam alimentá-los antes de dar início à
pregação – caso contrário, que proclamem sua adorável filosofia, mas
aguardem o pior. Primeiro vem a comida, depois a moral.
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