DO BURACO DE AÉCIO, ATÉ ENTÃO INVISÍVEL, QUEM CUIDA É SUA IRMÃ
A blindagem ao buraco de Aécio feita a partir da pressão exercida por Andrea ultrapassou as fronteiras de Minas.
Mais do que indícios, há
testemunhos e até documentos que apontam Andrea Neves como operadora ou
eminência parda do senador e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves.
Já no primeiro governo de Aécio,
entre 2003 e 2007, era Andrea quem decidia onde e quanto gastar das
verbas de publicidade estatal.
Formalmente, a função dela era
cuidar da obra social, mas o empresário Marco Aurélio Carone conta que,
logo no início da gestão de Aécio, Andrea o procurou para negociar a
compra do título do jornal Diário de Minas, o mais antigo do Estado.
Foi, segundo ele, um tipo de
retribuição pelos serviços prestados durante a campanha, em que Carone
foi candidato a governador pelo pequeno PSDC e atuou como muro de
contenção de Aécio, para protegê-lo dos ataques de Newton Cardoso.
Andrea negociou a compra, mas a
fatura foi paga, segundo Carone, com cheques do sindicato da construção
civil do Estado e por fornecedores da CEMIG, a empresa de energia de
Minas Gerais.
Carone vendeu o jornal, mas
continuou na mídia. Com o dinheiro da venda, manteve o Novo Jornal, um
site de notícias que se transformou, sob a batuta do experiente e
premiado jornalista Geraldo Elísio, no único veículo de comunicação
independente do Estado.
Independência que vai custar a
Carone nove meses de prisão e a Geraldo Elísio, a humilhação de ter a
casa vasculhada por policiais civis.
O diretor de jornalismo da
Globo, Marco Nascimento, em entrevista para o documentário “Liberdade,
essa palavra”, de Marcelo Baêta, revelou que perdeu o cargo logo no
início do governo de Aécio, depois que Andrea pediu sua cabeça à direção
da emissora.
Segundo ele, Andrea estava
descontente com uma reportagem que mostrava o flagrante do consumo de
crack perto de uma delegacia de polícia.
“Andrea me disse: Marco, esta
matéria veio num momento ruim para o governo do Estado”, disse, na
entrevista para o documentário.
“A partir do momento em que eu
tenho o flagrante, se vai ser bom para o governo ou não, eu não tenho
nada com isso”, acrescentou Marco Nascimento.
O jornalista lembrou que
obrigação jornalística era ouvir o governo do Estado, e isso foi feito,
mas o que Andrea queria era evitar a veiculação de reportagens como
aquele do consumo de drogas no Estado.
Outros quatro jornalistas de
Minas Gerais, de outros veículos de comunicação, também perderam o
emprego nos primeiros meses do governo de Aécio, por publicações
interpretadas como negativas para ele.
Andrea é citada como a mão forte por trás das demissões.
A blindagem de Aécio feita a partir da pressão exercida por Andrea ultrapassou as fronteiras de Minas.
Em 2007, a Polícia Federal
esteve no apartamento de um casal de doleiros no Rio de Janeiro e
apreendeu documentos de contas abertas no exterior, entre os quais uma
fundação em nome da mãe e da irmã de Aécio.
A conta não estava declarada no
Brasil, mas o Ministério Público Federal inocentou a família Neves, com
uma interpretação elástica da lei, a de que transferências inferiores a
100 mil dólares não precisavam ser declaradas ao Banco Central (leia mais aqui).
A notícia da existência de uma
conta em nome de uma fundação da mãe e da irmã de Aécio no principado de
Liechtenstein – com Aécio sendo o beneficiário — só veio à torna muitos
anos depois, no calor da disputa entre o PSDB e PT.
Na Operação Lava Jato, Andrea foi citada no depoimento de delação do doleiro Alberto Yousseff, em outubro de 2014.
O doleiro Alberto Youssef
afirmou que o esquema de Aécio ficou com 4 milhões referentes à propina
paga pela construtora Camargo Correa como contrapartida a um contrato
para construção de barragem.
Questionado sobre quem do PSDB teria ficado com o dinheiro, Alberto Youssef afirmou: “Que
diz ter tomado conhecimento, entretanto, de que quem teria influência
junto à diretoria de Furnas seria o então deputado federal Aécio Neves, o
qual receberia recursos por meio da irmã.”
O Ministério Público Federal tomou novo depoimento de Youssef quatro meses depois.
Na ocasião, Youssef confirmou
que ouviu tanto de seu cliente na época, o deputado José Janene, quanto
de um dos pagadores de propina, Airton Daré, dono da empresa Bauruense,
que a irmã de Aécio recolhia parte do dinheiro desviado de Furnas – ele
cita valores: entre 100 mil e 120 mil dólares por mês, o equivalente
hoje a R$ 455 mil.
Andrea nem sequer foi chamada
para depor, embora, no segundo depoimento, Youssef tenha sugerido um
caminho para investigar o esquema do PSDB em Furnas: ouvir a diretoria
administrativa da Bauruense, que cuidava dos contratos com Furnas.
Isso não foi feito, e agora o
nome de Andrea aparece novamente, em outra delação, a do ex-diretor da
Odebrecht, como um painel de neon piscando no alto do Pão de Açúcar.
O que vai acontecer?
Se considerado o retrospecto, não se deve esperar nada do Ministério Público ou mesmo do Judiciário.
Já no campo político, a
consequência é evidente: com Andrea na arena, apagam-se as luzes de
Aécio e se ilumina o caminho de João Dória.
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