GLOBO E MERCADO FINANCEIRO A UM PASSO DA LAVA JATO
A herança genética de Roberto Marinho foi transmitida para William Bonner (seu nome de batismo é Boinamerd, com 'd' mudo) no dia da sua morte, quando, em prantos, o âncora - e agora também editor - do Jornal Nacional noticiou o falecimento do golpista mor. Desde então esse cafajeste não tem feito outra coisa a não ser lamber os sapatos italianos dos seus patrões num trabalho diuturno contra o povo brasileiro. Esse é o nosso maior inimigo.
Em depoimento diante do juiz Sergio Moro, nesta quinta (20), o
ex-ministro Antonio Palocci negou que tenha recebido pagamento de
vantagens indevidas em benefício próprio ou em nome do PT em troca de
defender os interesses da Odebrecht nos governos Lula e Dilma. Por outro
lado, em jogada com sua defesa, Palocci sinalizou que pode arrastar
para a Lava Jato nomes de mercado financeiro e grandes empresas de
comunicação que teriam pedido "grande montantes de recursos" no início
do primeiro mandato de Lula. Isso para mostrar que não era apenas a
Odebrecht que exercia forte lobby na política.
Na rodada de perguntas feitas por seu advogado, Palocci foi
confrontado sobre a existência de uma planilha onde constam valores que a
Odebrecht diz que seram "provisões" destinadas ao financiamento de
campanhas do PT. A planilha apresenta valores que Marcelo Odebrecht
afirmou que foram repassados ao partido em troca de aprovações de dois
projetos do interesse do grupo, pelo menos.
Palocci negou que tenha negociado propina com a empresa, mas
admitiu que "tomou conhecimento" da história de "provisões da Odebrecht
ao PT" ainda no governo Lula. Segundo ele, pouco antes da eleição de
2014, a Odebrecht fez chegar ao ex-presidente a informação de que havia,
"além daquilo que havia sido comprometido na campanha [doação oficial],
uma provisão em torno de R$ 200 milhões."
"Lula me preocurou porque essa pessoa lhe falou que eu
deveria saber disso. Ele estava surpreso, estranhando, achei ele
irritado. Eu também fiquei muito surpreso com 'previsão'. Eu disse que
não sabia de nada. Fui atrás de Marcelo e disse que nunca tratamos com a
empresa através de provisões", disse Palocci.
Segundo o ex-ministro, "nesse momento, Marcelo tentou
construir um entendimento comigo de que isso acontece, de que ele havia
me falado que eles trabalham dessa maneira na empresa, fazendo
provisões." Palocci afirma que, sentindo-se desconfortável, pediu a
Marcelo que esclarecesse a história com Emilio Odebrecht, que teria
conhecimento de que a relação da Odebrecht com o PT se dava de maneira
institucional. Depois, o petista afirmou que voltou a Lula e disse que
resolveu o "mal entendido".
"Passados dois meses, uma pessoa me procurou, numa conversa
estranha, um empresário querendo saber de contribuição de campanha,
ambientes eleitorais, como a gente lidava com isso. A pessoa é minha
amiga, achei a conversa estranha. Ele foi inconveniente, mas não foi
desrespeitoso. Ele percebeu que eu rechacei e ele parou o assunto. Eu só
fui entender dois meses depois, quando um banqueiro me procurou e disse
que estava ali mandatado por pessoa do governo, e queria dizer que vai
cuidar das coisas de financiamento de campanha, provisões, usou a mesma
palavra. Queria saber se eu poderia ajudar. Eu queria saber se a
presidente Dilma sabia que ele estava ali. Ele disse que não, mas estava
ali em nome de uma pessoa do primeiro escalão do governo", comentou
Palocci.
Nesse momento, começa o mistério. "Eu pediria para não
declinar nomes nesse momento, mas em sigilo eu falo o que o senhor
quiser. É que essa audiência é pública, mas fico à disposição para lhe
dizer o que o senhor achar adequado", disse Palocci. Moro, por outro
lado, não demonstrou interesse.
"Essa pessoa me disse que iria cuidar dos recursos [ao PT].
Eu disse tudo bem, mas não sabia como funcionava isso. Ele estranhou,
achou que eu iria dar vários dados e informações. Eu disse que não tinha
nada a informar. Ai ele entrou no assunto de provisões da Odebrecht,
dizendo que se eu falasse, a gente poderia capitalizar esses recursos.
Eu disse que ele estava mal informado."
"Você é uma grande personalidade do meio financeiro, se
procurar a Odebrecht, eles vão esclarecer isso com facilidade, não
precisa de mim", disse Palocci.
"Esse assunto deu muita cria, inclusive nos assuntos
relacionados à Lava Jato. Só peço licença ao senhor para não declinar
nomes, o senhor decide se lhe interessa ou não, e eu me prontifico a lhe
falar tudo ou a quem o senhor determinar", reforçou.
O advogado de Palocci, então, questionou uma declaração
anterior, em que o ex-ministro disse que grandes empresas de comunicação
também receberam atenção do governo, assim como a Odebrecht.
"Olhando o cenário de hoje, parece que todos os governos só
trabalham em função da Odebrecht. O que eu procurei demonstrar é que o
primeiro problema que tive quando sentei na cadeira de ministro da
Fazenda foi o setor da construção civil."
"O que isso tem a ver com Odebrecht?", perguntou Moro. Ao
que Palocci respondeu: "O governo muitas vezes salva empresas, em
situações de emergência, usando o limite da lei."
Palocci, nesse momento, denotou que o governo Lula recebeu
de empresas de comunicação pedidos por "grandes montantes de recursos".
No final da audiência, quando Moro abriu espaço para Palocci
falar o que quisesse, o ex-ministro reiterou a declaração enigmática.
"Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque
todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui, por
sensibilidade da informação, estão à sua disposição o dia que o senhor
quiser. Se o senhor estiver com a agenda muito ocupada, a pessoa que o
senhor determinar, eu imediatamente apresento todos esses fatos com
nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser certamente
do interesse da Lava Jato."
E completou: "Acredito que posso dar um caminho, que talvez vá dar um ano de trabalho, mas é um trabalho que faz bem ao Brasil."
ITALIANO
Palocci ainda apresentou a Moro duas provas de que ele não é
o "italiano" que aparece em comunicações da Odebrecht. A primeira é uma
mensagem em que Marcelo diz que não havia encontrado o italiano na
diplomação de Dilma Rousseff. Palocci mostrou fotos suas no evento. O
segundo indício é um e-mail de Marcelo Odebrecht para Alexadrino
Alencar, onde este último diz: "Falei com Palocci e Palocci me disse que
Itália e GM [Guido Mantega] estiveram com a presidente". Palocci disse
que a mensagem demonstra que Itália era uma terceira pessoa.
Confrontado por um e-mail que mostra que Branislav Kontic,
seu ex-assessor parlamentar, teria agendado em 2009 uma reunião entre
Marcelo e "italiano", Palocci respondeu que poderia ter sido reunião com
qualquer político. Várias vezes, disse, ele pediu a Marcelo para
conversar com outras lideranças do PT, e o então assessor fazia a ponte.
Palocci também negou que tenha tratado de pagamentos no
exterior com João Santana e Monica Moura, responsáveis pelas últimas
campanhas do PT. Ele disse que quando recebia cobranças do casal,
entrava em contrato com o tesoureiro do partido - José de Fillippi Jr ou
João Vaccari Neto - para que ele resolvesse as questões.
CONTRIBUIÇÃO
"Eu nunca operei contribuições [para campanhas do PT],
porque não era meu papel. Eu dizia aos empresários para atenderem os
tesoureiros do partido", disse Palocci. Ele também comentou que, nas
poucas vezes em que buscou apoio financeiro para eleições, chegou a
tratar desse assunto por telefone e deixava "claro" que queria "coisa
com recibo", ou seja, doação oficial.
REFIS DA CRISE
Palocci também falou sobre o chamado Refis da crise.
Delatores da Odebrecht dizem que fizeram doações ao PT em contrapartida à
aprovação desse projeto.
O ex-ministro explicou o contexto da aprovação do Refis e
disse que ele não teve participação no episódio, pois tratava-se de tema
do governo, ou seja, de competência de Guido Mantega.
Ele contou que o lobby da Odebrecht começou, na verdade,
pela aprovação da Medida Provisória 460, que tratava de revogar um
benefício que "foi dado no passado, 10% do IPI de exportações era dado
como crédito para empresas. E todas as empresas estabeleceram uma tese
jurídica de que isso não poderia ser extinto. Marcelo queria anular a
anulação desse imposto."
"Eu disse a ele [Marcelo Odebrecht] que eu não poderia
jamais apoiar a MP porque eu era contra ela e, segundo, porque minha
posição era decisiva para o processo. Porque na bancada do PT [na
Câmara], em questões econômicas, eu era consultar às vezes em caráter
decisivo. E o PT era um dos poucos partidos que se colocavam contra a
medida, que envolvia R$ 100 bilhões. Eu disse que se fosse aprovada, eu
trabalharia para ela ser vetada."
No final, a MP foi "aprovada amplamente no Congresso e eu e
Guido Mantega trabalhamos para ser vetado pela presidência". Semanas
depois, o Supremo Tribunal Federal "chamou o processo e decidiu que os
valores retidos pelas empresas deveriam ser devolvidos e que esse
crédito de exportações não existia mais. E aí no Refis da crise [foi
sugerido], se propôs o parcelamento desses pagamentos. Eu não participei
diretamente disso. Era coisa de governo."
Segundo Palocci, Marcelo mandou e-mails para ele querendo
discutir o Refis da crise. "Eu disse para ele que era uma questão muito
tecnica, que ele deveria procurar o Ministério da Fazenda."
O ex-ministro ainda disse que no caso do Refis, "ali não
estava se fazendo bondade nenhuma. Só estavam decidindo a forma que as
empresas deveriam pagar [pelo fim do crédito do IPI das exportações]. Se
não, no fundo, ninguém iria pagar."
"Há uma grande mudança no estilo e gestão da empresa até
2008, 2009, quando Marcelo Odebrecht assume. Antes, tinha a liderança
que se pode ver na pessoa de Emílio Odebrecht uma atitude diferente em
relação às suas agendas, a flexibilidade das posições. Isso mudou
bastante. Antes tinha uma empresa com percepção de Brasil e mundo, e
Marcelo já era um guerrilheiro das causas da empresa."
Comentários
Postar um comentário
comentário no blogspot