A TAPERA DE PERRELA E A QUÍMICA DE AÉCIO
A cracorrela de Perrécio começa a ser aspirada pelo MPF e Polícia Federal.
A seguir, texto de Joaquim de Carvalho no DCM
No pedido para que o ministro Edson Fachin, do STF,
reconsidere sua decisão e mande prender o senador afastado Aécio Neves, a
Procuradoria Geral da República diz que uma das empresas da família de Zezé
Perrella era usada com frequência para lavar dinheiro do presidente licenciado
do PSDB.
O procurador geral Rodrigo Janot escreveu em seu recurso:
“Há fortes indícios de que a empresa ENM AUDITORIA E
CONSULTORIA e a empresa TAPERA PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS AGROPECUÁRIOS
LTDA fazem parte do esquema para lavar recursos recebidos ilicitamente pelo
Senador AÉCIO NEVES.” (as maiúsculas estão no original).
A Procuradoria refez o caminho de uma parcela de 500 mil
reais da propina de 2 milhões paga por Joesley Batista. Ela saiu da JBS em
dinheiro vivo através de Frederico Pacheco de Medeiros, primo de Aécio, foi
para as mãos de Mendherson Souza Lima, assessor de Zezé Perrella no Senado
Federal, passeou por uma conta da ENM Auditoria e Consultoria e foi parar na
conta da Tapera Participações e Empreendimentos Ltda, empresa da família de
Zezé Perrella, que tem como acionista o filho, Gustavo Perrella.
A ENM, de Euler Nogueira Mendes, é uma empresa de
contabilidade que presta serviços também para Federico Pacheco de Medeiros,
administrador da Fazenda das Lajes Agroflorestal Ltda.
Frederico, Mendherson, Euler, Gustavo, Zezé têm em comum
não apenas a liderança de Aécio Neves, mas também o Cruzeiro Esporte Clube. Os
seis, incluindo Aécio, são conselheiros do clube.
O papel da Tapera na lavagem de dinheiro sujo recebido
por Aécio trouxe à tona uma antiga investigação, também por lavagem de
dinheiro, que envolveu o Cruzeiro na gestão de Zezé Perrella como presidente.
O caso está parado no Supremo Tribunal Federal, para onde
o inquérito criminal foi levado quando Zezé tomou posse como senador e ganhou
foro privilegiado.
Mas um desdobramento dessa investigação criminal deu
origem a um inquérito civil, em Minas Gerais, o de número 0024.11.003.118-4,
que apura ilícitos cometidos na gestão de entidades ligadas ao futebol no
Estado de Minas Gerais.
É nesse inquérito civil que apareceu o nome da Tapera
como suspeita de ser usada para encobrir dinheiro recebido por fora na venda do
jogador Luisão.
Em 2012, nove anos depois da venda do atleta, Gustavo
Perrella foi chamado para depor e disse que a Tapera, já naquela época, era uma
empresa sem atividade, uma fachada, empresa de papel.
Segue um trecho do depoimento, obtido com exclusividade
pelo DCM:
Que a empresa Tapera, atualmente, não está em atividade;
que a empresa Tapera detinha cotas da empresa Limeira Agropecuária; que, no ano
de 2008, o declarante e sua irmã Carolina Perrella Amaral Costa adquiriram,
através da Tapera, as cotas da empresa Limeira Agropecuária Ltda., ficando
47,5% de participação para cada um; que a Tapera, embora continue existindo,
encontra-se praticante inoperante.
Se estava inoperante já em 2012, como explicar depósitos
e saques elevados recentemente?
É Rodrigo Janot quem responde, no recurso apresentado ao
ministro Fachin: lavar dinheiro de Aécio.
Janot relaciona várias operações suspeitas da Tapera
entre 2014 e 2017:
Ainda sobre o envolvimento da empresa TAPERA como
possível instrumento de lavagem de dinheiro dos recursos destinados ao Senador
AÉCIO NEVES, no Relatório de Inteligência Financeira (RIF) 26521 do COAF há
informação de que, no dia 12.04.2017, ou seja, no mesmo dia da entrega da
segunda parcela de R$ 500.000,00 em São Paulo, MENDHERSON provisionou junto ao
Banco BRADESCO um saque de R$ 103.000,00 da conta da empresa TAPERA para o dia
seguinte. O referido saque fora feito no valor provisionado por GUSTAVO
HENRIQUE PERRELLA AMARAL DA COSTA no dia 13.04.2017. Consta ainda no mencionado
RIF que, no dia 22.04.2017, poucos dias após a entrega da terceira parcela de
R$500.000,00 referente à propina de R$ 2.000.000,00, GUSTAVO HENRIQUE PERRELLA
AMARAL COSTA depositou R$ 220.000,00 em espécie na conta da empresa TAPERA.
Além dessas movimentações, no RIF há menção a diversas
outras operações suspeitas em anos anteriores, vejamos. Em 2014, MENDHERSON, na
qualidade de procurador da empresa TAPERA junto ao Banco BRADESCO provisionou
um saque de R$ 910.000,00, no mês de maio; vários outros saques que totalizaram
R$ 1.020.000,00 no mês de julho (sacou efetivamente R$ 400.000,00),e outros, em
agosto, que totalizaram R$ 680.000,00 (sacou efetivamente R$ 520.000,00); depositou
R$ 100.000 neste mesmo em julho. Cumpre ressaltar que, no ano de 2014, o
Senador AÉCIO NEVES recebeu muitos recursos da empresa J&F (controladora da
JBS) a titulo de propina. Em 2015, MENDHERSON, na qualidade de procurador da
empresa TAPERA, provisionou junto ao Banco BRADESCO R$ 300.000,00 em julho; R$
500.000,00 em agosto; e R$ 340.000,00 em setembro. Em 2016, consta que a
empresa FREDERICO PACHECO EMPREENDIMENTOS, empresa de FREDERICO PACHECO DE
MEDEIROS, recebeu R$ 165.000.00 da empresa TAPERA.
Édson Fachin registrou na decisão em que afastou Aécio do
Senado, mas negou a prisão:
O conjunto cognitivo, sob outra ótica, mostra-se mais
amplo e permite depreender, em tese, a percepção dos 2 milhões de reais não
como um fato único, em tese, criminoso, mas sim, inserido numa cadeia delitiva
maior e que já se prolongaria no tempo.
Se a propina da JBS não é um fato isolado, mas parte de
uma sequência de crimes e Aécio tem desrespeitado a determinação de se manter
afastado de outros investigados pelo crime de corrupção, o que falta para o
Supremo Tribunal Federal mandá-lo para a cadeia?
Hoje à tarde, Fachin decidiu desmembrar o inquérito
resultante da delação de Joesley Batista. Temer será investigado em um
inquérito e Aécio em outro. O inquérito sobre Aécio foi encaminhado para a
presidente do Supremo, ministra Carmen Lúcia.
O pedido da prisão do senador afastado será decidido por
outro ministro, relator do inquérito, a ser escolhido mediante sorteio.
Por enquanto, é esperar.
Para Aécio, o melhor dos mundos seria ter seu amigo
Gilmar Mendes na relatoria desse inquérito.
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