TEMER E SUA GANG PARTEM PARA O ENFRENTAMENTO CONTRA A VONTADE DE 98,2% DOS BRASILEIROS
Peritos famosos, quando contratados
por particulares – exemplo da Folha de S. Paulo ou da defesa de um acusado de
crime –, mentem à vontade, sem risco de serem responsabilizados criminalmente.
Parecer é opinião, e opinião cada um
tem a sua.
Já o laudo, quando parte integrante
da investigação, deve ser verdadeiro, sob pena do crime de falsa perícia.
Daí porque laudo, em geral, não é
feito em dois dias, sem todos os elementos de análise.
A seguir, texto de Joaquim de Carvalho no DCM
Quando conspirava para derrubar a
presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2015, Michel Temer disse que o País
precisava de alguém que o reunificasse:
“É preciso que alguém tenha
capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos, de fazer esse apelo. Eu
estou tomando essa liberdade de fazer esse pedido, porque, caso contrário, nós
podemos entrar numa crise desagradável para o país.”
Hoje, quase dois anos depois de fazer
esse pronunciamento, durante uma entrevista na saída de uma reunião no
Congresso Nacional, Temer reafirmou sua disposição de ficar à frente do
governo, apesar dos apelos para que renuncie:
“O Brasil não sairá dos trilhos, eu
continuarei à frente o governo”
Temer nunca demonstrou capacidade de
reunificar os brasileiros e ele se recusa a entregar a única coisa que poderia
ajudar a pacificar o País – sua renúncia.
Faz isso porque ainda tem seus
trunfos e aliados.
Toda a fala dele de hoje teve como
argumento principal a manchete da Folha de S. Paulo, segundo a qual a fita
entregue pelo empresário Joesley Batista foi editada.
Pode ser, pode não ser.
Mas não é preciso muito esforço para
concluir que o texto do jornal foi exagerado na defesa de Michel Temer.
O perito Ricardo Caires dos Santos
fez o que pode ser considerado, no máximo, parecer – uma opinião técnica, sem
compromisso com a verdade.
Mas o jornal apresenta esse trabalho
como laudo.
E há diferença substancial entre
laudo e parecer.
O laudo é um estudo minucioso, em
geral demorado, e Caires dos Santos não teria condição de produzi-lo sem
examinar, também, o aparelho em que o áudio foi captado.
Atente-se para as credenciais de
Caires do Santos apresentadas pela Folha de S. Paulo: perito do Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Não existe perito do Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Não existe essa carreira no
Judiciário.
O que existe é perito particular,
nomeado pelo juiz, e nesse caso são muitos, inclusive Caires dos Santos.
Embaralhar uma investigação fazendo
uso de pareceres técnicos é um recurso de muitos criminalistas.
O promotor Edilson Mougenot Bonfim,
que atuou no 1º Tribunal do Júri em São Paulo durante muitos anos, conta em seu
livro “No Tribunal do Júri” como desmascarou essa farsa, no julgamento de uma
mulher acusada de matar o marido.
Um caso rumoroso à época, conhecido
como Viúva Negra.
Um perito contratado por um
criminalista deu parecer que justificava a presença de elementos de pólvora na
mão da cliente com fotos dela enxugando lágrimas com um lenço.
A conclusão do perito é que o lenço
era do cunhado, que havia manuseado uma bateria de automóvel no dia e
contaminado aquele pedaço de pano com componentes que poderiam ser encontrados
também na bala de um revolver.
Daí porque, no exame residuográfico,
a perícia oficial (esta existe, como departamento da Polícia Civil) concluiu
que ela havia feito disparo com revólver.
O parecer continua citações em
francês e apresentava gráficos, era bonito na aparência.
O promotor chamou o perito para depor
e começou a fazer perguntas em francês, idioma que o perito não conhecia.
— O senhor não sabe francês, mas faz
um parecer, que o senhor chama de laudo, porque quer impressionar o júri e o
juiz, para confundi-los e tirar a atenção do essencial: esta mulher matou o
marido.
O promotor conseguiu a condenação da
acusada – que, por sinal, fugiu depois, quando pode recorrer em liberdade.
Este caso, conhecido entre os
criminalistas, trouxe à tona a chamada indústria dos pareceres.
Peritos famosos, quando contratados
por particulares – exemplo da Folha de S. Paulo ou da defesa de um acusado de
crime –, mentem à vontade, sem risco de serem responsabilizados criminalmente.
Parecer é opinião, e opinião cada um
tem a sua.
Já o laudo, quando parte integrante
da investigação, deve ser verdadeiro, sob pena do crime de falsa perícia.
Daí porque laudo, em geral, não é
feito em dois dias, sem todos os elementos de análise.
A Folha de S. Paulo embarcou no
Titanic de Michel Temer por razões que não se conhece – pode ser que queira apenas
se descolar da Globo, difícil, mas é possível.
Nessa embarcação, fazendo muito
barulho, se encontra Reinaldo Azevedo, e pode apostar que, no Supremo Tribunal
Federal, se o caso chegar lá, Gilmar Mendes também fará muito barulho – talvez
faça mesmo que o caso não chegue lá.
E por quê?
Porque ambos são tucanos, e o PSDB
tem e terá muita dificuldade de abandonar Temer.
Afinal, sem o PSDB, o governo Temer
não existiria.
O golpe é deles e talvez seja mais
vantajoso ao PSDB do que a Temer, porque o golpe devolveu ao partido o poder
que ele perdeu para o PT em quatro eleições.
Fernando Henrique Cardoso já recuou
da sugestão que fez a Temer para renunciar.
João Doria, o prefeito de São Paulo,
pressionado a se posicionar diante da crise, diz que é preciso investigar, que
o momento é sério, mas não pronuncia o nome de Temer nem a palavra renúncia.
Eu vi dois vídeos com a manifestação
de Doria sobre a crise política, disponíveis na própria página dele no youtube
– João Doria News.
O homem que se diz gestor, um não
político, aprendeu rápido o ofício – se é que não sabia – e se mostra mais liso
que bagre ensaboado
Na homenagem que Doria recebeu nos
Estados Unidos há três dias, estava lá, como convidado de honra e provavelmente
representando o chefe, o homem que transporta as malas de dinheiro de Temer.
O golpe fez de Temer e do PSDB irmãos
siameses.
Separá-los será difícil.
E, graças aos tucanos, Temer ainda
respira e pode dizer, de boca cheia, que continuará à frente do governo
brasileiro, para evitar que ele saia dos trilhos.
Temer chegou à presidência com o
discurso de que pacificaria o Brasil, mas o que ele e o PSDB fazem hoje é lutar
contra o País, na defesa de um projeto particular de poder.
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