O Homem, Esse Egocêntrico.

Chegamos há apenas 32.000 anos.
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O homem é extremamente pretensioso. Antes que Copérnico estabelecesse as bases científicas da astronomia moderna, os nossos antepassados acreditavam que o seu lar, a Terra, era o centro do Universo. Apesar de Darwin haver demonstrado que somos apenas um ramo recente de uma árvore evolutiva, a maioria das pessoas ainda acredita que os seres humanos são biologicamente superiores a todas as outras formas de vida. Em seu ensaio “A Maldita Raça Humana”, censurado na época, Mark Twain, diz o seguinte:

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“Daí em diante, os preparativos prosseguiram a passos rápidos por mais quase trinta milhões de anos. Do pterodáctilo, surgiu a ave; da ave, o canguru; do canguru, outros marsupiais; dos marsupiais surgiram o mastodonte, o megatério, o bicho-preguiça-gigante, o alce-irlandês e todos os outros que se transformaram em fósseis e são estudados hoje em dia – depois veio a primeira grande calota polar e todos esses animais recuaram ante o seu avanço, atravessaram a ponte do estreito de Bering, vagaram pela Europa e pela Ásia e morreram. Quase todos, para dar seqüência aos preparativos. Seis períodos glaciais, intercalados por períodos interglaciais mais brandos de dois milhões de anos, afugentaram esses pobres órfãos para todos os cantos da Terra, expostos a todos os tipos de clima – do calor sufocante das regiões polares ao frio ártico do equador, de um lado para o outro, sem nunca saber o clima que encontrariam pela frente. Quando se fixavam em algum lugar, de repente o continente inteiro afundava sob os seus pés sem mais nem menos, e eles tinham de trocar de lugar com os peixes e passar a viver em locais antes ocupados por mares. E quando tudo estava sereno, um vulcão entrava em erupção e os expulsava novamente. Eles levaram essa vida instável e irritante por 25 milhões de anos, metade do tempo na água e metade em terra firme, sempre imaginando por que, sem jamais suspeitar, obviamente, de que essa era uma preparação para o surgimento do homem, e de que tinha de ser exatamente assim ou ele não teria um lugar adequado e harmonioso para viver quando chegasse.

Por fim apareceu o macaco, e qualquer um podia ver que o homem não tardaria a chegar. E assim foi. O macaco evoluiu durante cerca de cinco milhões de anos e depois se transformou em homem – ao que tudo indica.

Esses foram os fatos. O homem está na Terra há 32.000 anos. O fato de ter levado 100 milhões de anos para preparar o mundo para a sua chegada é uma prova de que essa era a sua finalidade. Suponho que sim, sei lá. Se a Torre Eiffel representasse a idade do mundo, a camada de tinta que recobre a saliência do seu pico representaria a participação do homem moderno; e qualquer um perceberia que a torre foi construída para essa camada de tinta. Acho que sim, sem lá.”

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Como sugere o sarcasmo de Mark Twain, o Homo sapiens não representa o apogeu do pregresso. Aqueles que agem como porta-vozes dos interesses especiais do ser humano não entendem o quanto a vida na Terra é interdependente. Não podemos ter uma visão equilibrada da história evolutiva se a encararmos apenas como um preparativo para o aparecimento dos seres humanos. Oitenta por cento da história da vida foi microbiana. Somos recombinações dos processos metabólicos de bactérias aeróbicas e de outros tipos de bactérias que surgiram durante o período em que o oxigênio se acumulou na atmosfera, há cerca de 2.000 milhões de anos. Neste exato momento, vestígios de bactérias, cujo DNA foi considerado pelos biólogos moleculares extremamente semelhante ao DNA das bactérias de vida livre, estão se dividindo em mitocôndrias no interior das células nucleadas das pessoas.

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Os seres humanos não são criaturas particularmente especiais, à parte ou isoladas. A extensão biológica da teoria copérnica de que não somos o centro do Universo nos priva também da condição de forma de vida dominante no planeta. Embora possa ser um golpe para o nosso ego coletivo, não somos os senhores da vida instalados no último degrau da escada evolutiva. A nossa é uma permuta da sabedoria da biosfera. Não inventamos a engenharia genética – mas nos insinuamos nos ciclos vitais das bactérias que já há algum tempo vêm, sozinhas, trocando e copiando genes diretamente. Não “inventamos” a agricultura nem a locomoção a cavalo, mas nos envolvemos nos ciclos vitais das plantas e dos animais, cujos números aumentaram ao mesmo tempo que os nossos.

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De acordo com Lynn Margulis e Dorion Sagan, cujo livro Microcosmos aqui parafraseio, a teoria da natureza bacteriana do intelecto faz com que a alta tecnologia não seja nossa, mas sim planetária por natureza. Temos nos isolados das outras criaturas, incubando forma de organização que, em última análise, são maiores e mais significativas do que nós. Conseguimos nos separar de outros organismos e explorá-los, mas parece pouco provável que essa situação possa durar. A realidade e a recorrência da simbiose no processo evolutivo indica que ainda estamos num estágio “parasitário”, invasivo, e que temos de ir com mais calma, de compartilhar e de nos unir às outras criaturas se quisermos alcançar a longevidade evolutiva.

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