Salete Grisi e Luiza Erundina: Mulheres Paraibanas

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Deputada Luiza Erundina (PSOL-SP).
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A nota abaixo, divulgada pela assessoria da Deputada Luiza Erundina, além de deixar-me indignado, trouxe-me lembranças inesquecíveis da minha Paraíba... De pessoas muito queridas das quais não posso mais me aproximar, da minha juventude na praia de Tambaú, do campo de voleibol colado ao muro da casa de Salete Catão (depois Grisi, ao casar-se com Eduardo), dos livros comprados com dicas de Salete (Foucault, Nietzsche, Marilena Chauí, Darcy Ribeiro), e de um comentário seu ao surpreender-me depois com Camus embaixo do braço: “Esse Cara continua "fazendo a cabeça!...".
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Após a eleição de Erundina para a Prefeitura de São Paulo, me abriu os olhos para o significado daquela vitória:  “Uma mulher nordestina, de Uiraúna aqui na Paraíba, sem marido, militante de esquerda e pobre, conseguiu derrotar uma estrutura milionária e corrupta na maior cidade da América Latina.”
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 Michel Foucault
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Agora, vamos à nota:
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“A produção do programa Manhã Bandeirantes, na Rádio Bandeirantes de São Paulo, agendou uma entrevista por telefone com a deputada Luiza Erundina para esta quarta-feira, 9 de fevereiro, às 10h30.  A pauta seria o Projeto de Lei n° 55/2011, apresentado pela deputada Erundina na Câmara, que institui referendo popular obrigatório para a fixação dos vencimentos do Presidente da República e dos parlamentares.
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O projeto é de notório interesse público visto que o reajuste de 62% nos subsídios dos parlamentares aprovado no final de 2010 foi implacavelmente criticado por grande parte da população brasileira e pela imprensa. Inclusive, no dia anterior à entrevista com a deputada Luiza Erundina, o apresentador do programa Manhã Bandeirantes, José Luiz Datena, questionou a dificuldade para o reajuste do salário mínimo das trabalhadoras e dos trabalhadores brasileiros enquanto que, o reajuste de 62% para os parlamentares foi votado e aprovado em caráter de urgência pela Casa, com voto da imensa maioria dos congressistas.
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Nesse contexto estávamos, a deputada Luiza Erundina e sua assessoria, aguardando a ligação para  participar do programa quando, 1h antes da possível participação, recebemos uma outra ligação cancelando a entrevista. Tratava-se de um veto da direção do grupo. Questionados sobre o por que da censura, do veto à fala de uma parlamentar brasileira em um veículo da imprensa livre, sobre projeto de interesse público, fomos surpreendidos com uma justificativa de cunho absolutamente pessoal: ‘Este veto é uma resposta aos ataques que a deputada vem fazendo à Rede Bandeirantes’.”
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Erundina não teve a mesma sorte de Salete, que nasceu e criou-se em “berço de ouro”. A sétima de dez filhos de um artesão de selas e arreios de couro, ainda na infância vendia bolos feitos pela mãe para completar o sustento da família. Repetiu duas vezes a 5ª série de propósito, para não parar de estudar, já que em Uiraúna não tinha curso ginasial,  indo morar com uma tia na cidade de Patos para poder concluir o ginásio.
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Erundina graduou-se como assistente social em 1966 pela Universidade Federal da Paraíba, e em 1970 concluiu o mestrado em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
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Nesse mesmo ano voltou à Paraíba, e em Campina Grande iniciou sua atuação na esfera política, participando das Ligas Camponesas e fazendo oposição ao Golpe Militar.
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Já no ano seguinte Erundina decidiu se transferir definitivamente para São Paulo, quando foi aprovada em concurso público para assistente social da Prefeitura paulistana, indo trabalhar com os nordestinos migrantes nas favelas da periferia da cidade.
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Em 1980, é convidada pelo então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva a ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), pelo qual se elege vereadora em 1982 e deputada estadual constituinte em 1986.
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Erundina candidata-se em 1988 às prévias do partido para a decisão do candidato à prefeitura de São Paulo nas eleições daquele ano. O outro candidato das prévias é o deputado federal constituinte Plínio de Arruda Sampaio, oriundo do setor majoritário e moderado da legenda e apoiado por suas maiores lideranças: Lula, José Genoíno e José Dirceu. Erundina vence Plínio na disputa interna e se lança, destemidamente, à corrida municipal, concorrendo com o ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf, com o secretário estadual João Oswaldo Leiva apoiado pelo governador Orestes Quércia e pelo prefeito Jânio Quadros, com o deputado federal José Serra (PSDB), com o jornalista e secretário municipal de Jânio, João Mellão Neto (PL), e com o ex-secretário municipal e genro de Jânio Quadros, Marco Antônio Mastrobuono (PTB).
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Durante o processo, Erundina agregou o apoio de demais siglas de esquerda, como o PDT e o PC do B, chegando, na penúltima semana do pleito (na época não havia segundo turno), em situação de empate técnico com Leiva e atrás de Maluf.
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A vitória de Erundina em 15 de novembro de 1988, com 33% dos votos válidos, ante 24% de Maluf e 14% de Leiva, desmentiu todas as pesquisas dos dias anteriores, que davam vitória a Maluf.  Após a totalização dos votos, descobriu-se que a Rede Globo não divulgou uma pesquisa do Ibope, concluída na véspera do dia da votação, que já indicava a vitória de Erundina. Nessa época, William Bonner já era o editor e apresentador do SPTV (jornal local) e do Fantástico, demonstrando, desde então, sua parcialidade ao informar.
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As circunstâncias da eleição de Erundina para a prefeitura da maior cidade do país causaram grande impacto, não só pela significativa mudança em relação ao sistema administrativo até então constituído, como pelo próprio perfil pessoal da nova prefeita descrito por Salete.
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As diferenças entre Salete Grisi e Luiza Erundina restringem-se, quase que exclusivamente, às suas origens. Erundina não teve escolha, nasceu no campo de batalha, e trás no rosto até hoje as marcas irremovíveis da luta pela sobrevivência. Salete não, "comprou" a briga por opção. É filha de ilustre banqueiro paraibano e, como tal, teve acesso a todos os encantos que só a burguesia proporciona. Espremida entre os falsos atrativos capitalistas, e os devaneios trazidos pela onda libertária recém nascida na França e espalhada pelo mundo afora, não hesitou em permitir que seu coração adolescente optasse pelos sonhos de mudar o mundo. Mestra em Letras/Francês pela UFPB com doutorado em Paris, sempre se posicionou contra qualquer tipo de injustiça, encarando seus interlocutores com um olhar firme e frases desconcertantes, disparadas com sua “voix sans précédent”.
 
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O comentário tem o papel de dizer, finalmente, aquilo que estava, silenciosamente, articulado no texto primeiro. (Michel Foucault)
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O texto tem o papel de dizer, finalmente, aquilo que estava, silenciosamente, articulado no coração.  (Rodolfo Vasconcellos)
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