Brasil... Um Sonho Intenso, Um Raio Vívido.

É preciso estar atento e forte!...
Não temos tempo de temer a morte!...
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Para Liliane Miranda, minha querida Lili, que cutuca o Cão com vara curta.
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Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...

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"Liberdade não se ganha... Se conquista. Até porque, se lhe é dada de presente, quem a deu, pode, um dia, sentir-se com o direito de tomá-la."
Aprendi isso muito cedo, na minha puberdade ainda, e adotei como uma das “máximas” que me ajudariam a ser o homem que sou: de vida simples, incondicionalmente livre e irreverentemente feliz.

Quando em 1964 - num tempo página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações – acordamos com as ruas das nossas principais cidades tomadas por tanques de guerra apontando seus canhões para o Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Universidades, tinha início aí o que depois seria chamado de “anos de chumbo”, quando no Brasil “seus filhos erravam cegos pelo continente, levando pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais

Não foi apenas Caetano Veloso, Geraldo Vandré e, principalmente, Chico Buarque de Holanda que cerraram fileiras iniciando um movimento no meio artístico pela liberdade, pela democracia e contra a famigerada Lei de Censura. Os artistas e muitos jornalistas deste país, enquanto não foram condenados ao exílio, tidos como desaparecidos ou enforcados a contragosto em celas do DOI-Codi, cada um a sua maneira e a seu tempo, produzia nas entrelinhas das suas criações chamamentos à resistência e à luta, deixando enlouquecidos os analfabetos que tinham em suas mãos o poder de lhes censurar. Os órgãos públicos eram obrigados a estampar em suas paredes cartazes com fotos desses gloriosos brasileiros como se perigosos bandidos fossem. Nas Universidades e escolas do ensino médio o movimento estudantil borbulhava e soltava fogo em gritos com palavras de ordem contra os Gorilas e suas tropas. Dessa classe estudantil surgiu o movimento mais aguerrido, mais destemido, mais atirado ao sabor da “liberdade a qualquer preço”. Os agentes da ditadura faziam uso de todos os meios de comunicação para jogar a opinião pública contra esses quase ainda meninos idealistas, taxando-os de traidores da pátria, subversivos, assassinos frios. Dos encontros clandestinos da UNE surgiram os primeiros movimentos armados da resistência, pois não havia outro meio de combater as medidas de exceção promulgadas através de Atos Institucionais que fechavam Congresso, acabavam com eleições diretas para Presidente, Governadores, Prefeitos de Capitais e, de cada dois senadores estaduais, um teria que ser indicado pela ditadura, surgindo aí o termo Senador Biônico. Legalmente era impossível conter o avanço e a gula dos Generais e Coronéis que passaram a ocupar a direção de todos os órgãos públicos e estatais, levando nosso Brasil, através de empréstimos monstruosos no exterior, a ser um dos maiores devedores do FMI. Esses recursos, além de produzirem obras impactantes como a ponte Rio-Niterói, estufou de dólares os cofres dos militares e políticos que lhes davam apoio e que eram escondidos nos lugares mais inusitados.

Parecia que estávamos na Idade Média e em plena Inquisição. Os dedos-duros estacionavam em cada esquina produzindo calúnias que enchiam as prisões.

Enquanto a grande maioria calava e consentia, e uma outra parte agia amadoristicamente com pichações e panfletagem, apenas uma minoria conseguiu se organizar e partir para o confronto armado em defesa da nossa liberdade. Milhares destes foram mortos em seções de tortura ou, por não resistirem à dor, ganharam a liberdade após haver entregue seus pares. Pouco conhecemos desses jovens que saíram do conforto dos seus lares e dos bancos das suas escolas para se entregarem a uma luta desigual e sobre-humana pela democracia do seu país.

Após a anistia, os políticos e artistas exilados voltaram sob os holofotes dos ainda tímidos meios de comunicação, mas, a grande maioria desses bravos compatriotas, permaneceria ainda no anonimato, satisfeita apenas com prazer inigualável do dever cumprido.

Vez por outra, quando alguma indenização ganha as páginas dos jornais, ficamos conhecendo alguns desses personagens que entregaram os melhores anos da sua juventude à heróica tarefa de cuidar para que, frutos sagrados como liberdade e dignidade, vingassem.

Foi assim que em 2006 o nome de Dilma Rousseff ganhou outra dimensão na imprensa nacional, extrapolando as das suas funções como ministra chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, quando a Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio aprovou a concessão de reparação moral a Dilma Rousseff, por haver sido presa e torturada pelos carrascos dos órgãos de repressão da ditadura militar nos anos 70.

O brilho próprio da ministra Dilma começara a incomodar uma parte da imprensa comprometida com os restos fétidos daquela época negra da história nacional. Seu nome agora surgia como possível candidata à sucessão do presidente Lula, dando início à temporada de caça à sua cabeça. E o primeiro ataque veio da revista Veja em conluio com os partidos que fazem oposição ao governo no Congresso Nacional. Depois esses próprios partidos, aterrorizados com a possibilidade de ver na cadeira presidencial alguém do quilate de Dilma Rousseff, criaram a CPI dos cartões corporativos e conseguiram, num ato regimental escuso, convocar a ministra para depor nessa CPI. Melhor palanque não poderiam lhe ter conseguido. Em resposta a uma desastrada investida do senador Agripino Maia, Dilma falou com orgulho dos anos em que esqueceu de si para viver perigosa e clandestinamente a luta armada pela volta da democracia ao Brasil, na flor dos seus 19 anos, ao contrário de muitos dos que estavam ali a interrogá-la, que morreriam de vergonha se seus passados viessem à tona. Confirmou que mentiu sim sob tortura, para que seus companheiros de luta não fossem entregues aos criminosos que estavam no poder, e que sentia muito orgulho por haver mentido, pois, só os fortes e corajosos mentem sob tortura.

O próximo passo é a venda da Varig, e outros virão, não tenham dúvidas. A oposição acredita na miragem de que Dilma Rousseff alçou vôo agora, e que assim, ainda em decolagem, poderá ser facilmente abatida com o requentamento de matérias, invenção de outras e criação de detalhes dando origem às mais estapafúrdias interpretações.

Por falta de opção e pela certeza de que não conseguirão abatê-la nas urnas, a parte mais nojenta do senado e da câmara dos deputados tenta encobrir a interessante e pouco explorada biografia de Dilma.

Quando ainda garotinha nos seus dez anos assistia ao maior espetáculo da terra em um circo na então pequena Uberaba, encantara-se com a bailarina de roupa brilhosa verde que executava malabarismos no dorso de um elefante. A década de 60 ainda não havia chegado e aquele espetáculo caía no colo da extasiada garotinha fazendo-a sonhar em um dia ser uma bailarina e trabalhar em um daqueles circos: “Ela era linda, fazendo piruetas lá em cima. Eu adorava circo e queria ser bailarina”, lembra hoje, com os olhos iluminados pela recordação. Aos 59 anos, passando um rápido olhar sobre o circo da vida brasileira, que acompanhou, aos saltos e sobressaltos, nas últimas quatro décadas, atravessando crises, golpes, renúncias, cassações, prisões, torturas, ditadura, cassações, democracia e cassações, Dilma chega em 2008 ao topo de sua longa e atribulada carreira como economista, executiva, militante política, ministra e mais forte candidata à sucessão presidencial.

Aos 15 anos, quando trocou o conservador colégio Sion, onde as moças só falavam francês com as professoras, pelo inquieto Colégio Estadual, escola pública mista onde se geravam contestações, Dilma já desabrochara: “Aí fiquei bem subversiva. Percebi que o mundo não era para debutante”.

Ainda nos seus 19 anos, juntamente com seu marido à época, planejou, monitorou e coordenou o assalto à casa da amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. Do cofre da residência, foram roubados US$ 2 milhões e 400 mil dólares - algo em torno de 25 milhões de reais hoje. Dilma alega que ajudou sim no planejamento. "Se tivesse tido participação na ação, não teria nenhum problema em admitir", diz a ministra, com orgulho de seu passado de combatente. Donde teriam vindo todos aqueles dólares escondidos no quarto da amante de um ex governador senão de ações fraudulentas contra os cofres públicos, fato comum entre os que apoiavam a ditadura?

Segundo depoimento de ex companheiros, "a Dilma era tão importante que não podia ir para a linha de frente. Ela tinha tanta informação que sua prisão colocaria em risco toda a organização.”

Mas, no início de janeiro de 1970, após escapar do cerco policial em Porto Alegre, foge com o marido para o Rio de Janeiro. Em seguida é presa, seguindo a sina de outros companheiros: “Entrei num ponto, às 4 h da tarde, em São Paulo, e o companheiro estava cercado. Tentei fugir, entrando numa loja de móveis, mas fui pega na rua de trás”. Dilma Rousseff, aos 22 anos, foi levada pelo antecessor do DOI-Codi, a Oban (Operação Bandeirante), para a rua Tutóia, o mesmo destino de Wladimir Herzog cinco anos depois. Vlado agüentou um dia de tortura, e morreu. Dilma suportou 22 – e sobreviveu. “Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram choque, muito choque. Comecei a ter hemorragia, mas eu agüentei. Não disse nem onde morava. Um dia, tive uma hemorragia muito grande, hemorragia mesmo, como menstruação. Tiveram que me levar para o Hospital Central do Exército. Encontrei uma menina da ALN: ‘Pula um pouco no quarto para a hemorragia não parar e você não ter que voltar’, me aconselhou ela,” segundo o dramático relato que Dilma fez, dois anos atrás, ao repórter Luiz Maklouf Carvalho.

“Tortura é uma das coisas mais vis que existem”, reflete Dilma hoje, com o distanciamento possível. “O sentido mais profundo da democracia significa necessariamente acabar com a tortura”, diz a ex-torturada, hoje aflita com a sorte dos presos comuns nas delegacias de polícia. A tortura ainda aflige Dilma, aqui e lá fora: “Aquelas cenas de homens presos em Guantánamo (Cuba) e em Abu Ghraib (Iraque) não têm justificativa. Aquilo é a barbárie”, condena.

Condenada pela Justiça Militar a seis anos de prisão, cumpriu três e, com recurso, acabou punida com dois anos e um mês de cadeia. “Ou seja, sobraram 11 meses, que eles não devolveram. Sou credora do País”, contabiliza Dilma.

Libertada em 1973, o jogo político tradicional parecia o caminho para as mudanças que sonhava para seu país quando ela voltou a Porto Alegre, ainda sozinha - o marido, Carlos Araújo, também preso pela Oban, cumpria pena na Ilha das Flores, prisão da Marinha no rio Guaíba, na capital gaúcha. Dilma integrou-se então à juventude do MDB e militou na luta pela anistia. Punida pelo Decreto 477, que bania subversivos da universidade, foi obrigada a prestar novo vestibular. Formou-se em economia pela Universidade Federal do RS e foi, mais uma vez, atropelada pelo arbítrio: em 1977, o ministro linha-dura do Exército, Sylvio Frota, reagiu à demissão do cargo pelo general Ernesto Geisel divulgando uma lista de 99 comunistas infiltrados no governo – um dos três economistas delatados na Fundação de Economia e Estatística (FEE) era Dilma, que acabou demitida. “Completei minha cota – fui presa, cassada, condenada, punida pelo 477 e incluída na lista do Frota”, brinca Dilma, hoje, rindo da própria sorte.

O PDT levou Dilma para a Secretaria da Fazenda de Porto Alegre, quando Alceu Collares se elegeu em 1985. Numa pirueta digna de bailarina, voltou como presidente à mesma FEE de onde saíra pela delação de Frota, indicada pelo governador Collares, eleito em 1990. Acabou secretária de Minas e Energia do Estado com Collares e repetiu a dose, no governo seguinte, de Olívio Dutra. Dois dias depois, deu um apagão no Estado – e durante 31 dias a luz ia e vinha, com black-outs de até sete horas. Dilma executou uma operação de emergência, concluiu uma linha de distribuição para canalizar a energia que vinha da Argentina – e a luz se fez. Quando bateu o apagão no governo FHC, o Rio Grande do Sul não teve nenhum problema, a região Sul já era superavitária. E ainda “botou o dedo na tomada” para punir denúncias de corrupção na Companhia Estadual de Energia Elétrica, abrindo sindicâncias que levaram a uma CPI na Assembléia gaúcha.

Portanto, não foi apenas com malabarismos de bailarina ou com o destemor de militante guerrilheira que Dilma Rousseff chegou à ante-sala do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto... Sua história de vida, sua discrição e competência a mantêm lá, e com grandes chances de abrí-lo com sua própria chave em 2010.


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Comentários

  1. Quem, senão TU, daria voz,ritmo e força a minha indignação silenciosa?
    beijos e minha admiração. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Anônimo5:30 PM

    Nadja:
    Que maravilha de texto!

    "Hoje você é quem manda
    Falou, tá falado
    Não tem discussão
    A minha gente hoje anda
    Falando de lado
    E olhando pro chão, viu
    Você que inventou esse estado
    E inventou de inventar
    Toda a escuridão
    Você que inventou o pecado
    Esqueceu-se de inventar
    O perdão"... Nosso amigo Chico define bem essa "triste e gloriosa" fase.
    Gostaria de registrar também a situação de Vandre, que encontra-se esquecido na memória do pais.

    Muito feliz com o reconhecimento do blogger...vai longe. Beijo revolucionário!

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