A Quem Pertence São Paulo?

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Bairro da Liberdade, ou Oriental.
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Os casos de racismo na internet contra migrantes nordestinos no dia da eleição presidencial ganharam notoriedade mesmo com uma discretíssima cobertura na mídia e agora se encadeiam com outro caso da mesma natureza que também pode ser conhecido através da web.

Trata-se do impressionante movimento “São Paulo para os paulistas”, que conta com um manifesto na internet que, até a noite de domingo, obteve 1536 assinaturas virtuais. Na noite de sábado, eram 1516.

O texto começa com “denúncia” de “desrespeito” derivado de hábitos nordestinos que estariam sendo “impostos” aos paulistas, de “alta criminalidade” entre os migrantes, de “hospitais superlotados” que seriam resultado da “migração nordestina” para São Paulo.

O manifesto propõe “formas de encarar o problema da Migração”. E que formas são essas? Essa é a parte mais impressionante. São vários tópicos. Um mais chocante que o outro. Eis o que o manifesto propõe, em linhas gerais:

1 – Que o acesso a serviços públicos como Saúde e Educação seja restrito a pessoas que comprovem residência e trabalho fixo no Estado de S Paulo há pelo menos dois anos.

2 – Que a cobrança de água, luz e IPTU nas favelas não seja feita mais através de taxas diferenciadas.

3 – Suspensão de distribuição de medicamentos gratuitos, de auxílio-aluguel, do programa mãe-paulistana, de quaisquer “bolsas por número de filhos”, de entrega de “casas populares”, de acesso ao “leve-leite”, de entrega de uniforme, material e transporte escolar, de cestas básicas.

4 – “Total proibição de camelôs e todo tipo de comércio ilegal, com apreensão e prisão em caso de reincidência”.

As “justificativas” desses dementes para essa insanidade são as de que “São Paulo deve cuidar dos SEUS pobres” e de que “ambulantes” têm o “total direito” de fazer “suas atividades”, mas só em suas “terras de origem”.

Se fosse só o caso daquela pobre coitada – digna de pena – garota, criada sabe-se lá como, e seus amigos doentes que infestaram a internet com seu racismo na noite de 31 de outubro, não seria nada. Poder-se-ia atribuir tudo a um pequeno grupo de dementes. Mas não é o caso.

O tal manifesto fascista vem envolto em toda uma elaboração pseudo jurídica. Basta a sua mera leitura para constatar que o “documento” não foi redigido por jovens destrambelhados. Há menções a leis – absolutamente descabidas – e os autores tomam até alguns cuidados de se “diferenciarem” de grupos neonazistas e semelhantes.

Nesse contexto, os paulistas se vêem obrigados a dar uma resposta tanto às iniciativas desorganizadas quanto às organizadas, de fazerem valer preconceitos criminosos, idéias condizentes com uma xenofobia e um racismo de inspiração legitimamente fascista.

Um movimento em sentido oposto que defenda uma São Paulo para todos cumpriria esse papel.

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Bairro do Bexiga, reduto de italianos.
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Um pouco da história da migração para São Paulo.
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Na segunda metade do século XIX, mais precisamente a partir de 1870, o principal produto de exportação do Brasil era o café, e sua produção baseada no uso da mão-de-obra escrava estava em crise - o tráfico de escravos já havia sido suspenso e a abolição total da escravatura viria em 1888. A saída encontrada pelo governo e pelos fazendeiros paulistas para substituir os trabalhadores libertos foi incentivar a vinda de mão-de-obra de fora do país. Assim, a nova geração de imigrantes chegava não para ter sua terrinha, mas para trabalhar duro nas lavouras, principalmente em São Paulo. Para atrair os estrangeiros, pagavam-se as passagens de navios e eram oferecidos alojamentos temporários até o imigrante arrumar trabalho, sendo depois entregue a sua própria sorte. No século 20, essa política de apoio à imigração passaria por altos e baixos. Em 1902, por exemplo, uma crise na indústria cafeeira levou à redução dos incentivos aos estrangeiros. Após a Primeira Guerra (1914-1918), porém, o fluxo migratório voltaria a crescer, dessa vez impulsionado também por trabalhadores de outras nacionalidades, como poloneses, judeus e russos. O período posterior à Segunda Guerra (1939-1945) seria marcado pela chegada de outro tipo de estrangeiro: os refugiados de países afetados pelo conflito, como chineses, que se deslocavam com a ajuda de organismos internacionais. A partir de 1960, outros povos, como bolivianos e coreanos, passaram a desembarcar aqui, mas o ritmo migratório para o Brasil já era bem menor e diminuiria ainda mais nas décadas seguintes. Os nordestinos sempre migraram para São Paulo, fugindo da seca e em busca de melhores condições de vida para suas famílias, que trocavam por árduo trabalho, na grande maioria das vezes em situações insalubres e escravas.
A migração em massa passou a acontecer em 1935, quando o governador Armando Salles de Oliveira, viu a vantagem de estimular a migração de nordestinos para São Paulo, estipulando contratos com empresas particulares, em que trabalhadores migrantes seriam introduzidos na produção, através do pagamento da passagem para vinda ao estado bandeirante e de um pequeno salário para sustento da família do trabalhador. Deu-se, neste momento, o “boom” migratório, originando a grande quantidade de nordestinos estabelecidos em São Paulo.

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