Quem Torturou?... Quem Matou?

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Vladimir Herzog foi jornalista, professor da USP e teatrólogo. Intimado, apresentou-se em 24 de outubro de 1975 ao DOI/CODI-SP para esclarecer supostas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). Taxado de subversivo, Herzog foi encarcerado, humilhado, torturado e assassinado por agentes do regime militar. Conforme a versão oficial da época, o jornalista teria se suicidado, enforcando-se com um cinto.
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Jornais como “O Globo”, com foto de primeira página, deram sustentação à versão de suicídio, mas, o artista plástico Cildo Meireles carimbava nas notas de cruzeiro uma dúvida: “Quem Matou Herzog?”.
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Dilma Rousseff foi estudante de economia, militante política e professora. Presa em janeiro de 1970 acusada de coordenar setores operário e estudantil da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), foi encarcerada, humilhada e torturada pelos abutres do golpe militar.
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Tito de Alencar Lima, conhecido como Frei Tito, foi um frade dominicano e ativista político. Acusado de subversão, foi preso em 1969 e torturado, ininterruptamente, durante três dias. As agonias no cárcere não abriram a boca do frade, mas estilhaçaram sua lucidez, pois, mesmo no exílio, nunca recuperou a paz que lhe fora sequestrada. Rotineiramente vendo o espectro de seus algozes, Frei Tito se enforcou, em 1974, em L`Arbresle, próximo à cidade francesa de Lyon.
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Alexandre Vannucchi Leme, sorocabano, foi estudante de geologia da USP e militante do movimento estudantil. Acusado de integrar os quadros da ALN (Ação Libertadora Nacional), foi detido em 16 de março de 1973 pelos “encapuzados” da OBAN (Operação Bandeirante) – organização paramilitar que ganhou as ruas a partir de 1969 –, sendo barbaramente torturado e assassinado nas dependências do DOI/CODI-SP. Foi enterrado como indigente. Conforme a versão oficial da época, o estudante morreu atropelado por um caminhão, quando fugia da polícia.
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 O que ocorreu com eles foi uma regra durante o regime de exceção: são raros os presos políticos que não sofreram nenhum tipo de tortura. Como Dilma, Tito e Alexandre, centenas de cidadãs e cidadãos brasileiras foram atrozmente torturadas e assassinadas, do Norte ao Sul, da Paraíba ao Acre. Como Virgílio Gomes da Silva e Aylton Adalberto Mortati, muitas morreram dentro da sala de torturas, ou saíram dela com deficiências físicas ou distúrbios psíquicos irreparáveis. Outras tantas, como João Carlos Haas Sobrinho, Isis Dias de Oliveira, Heleni Telles Ferreira Guariba e Mario Alves de Souza Vieira, simplesmente “desapareceram”, sendo que o contexto desses desaparecimentos, bem como o destino dos corpos, nunca foi esclarecido.
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Sobre esses fatos, os jornais e a imprensa em geral se calaram, e até hoje mantêm seu silêncio. As cédulas de reais carimbadas com as inscrições “Quem torturou Dilma Rousseff?”, “Quem torturou Frei Tito?” e “Quem matou Alexandre Vannucchi Leme ?”, reformulam a dúvida lançada por Cildo: “afinal, quem foram os vermes da ditadura que cometeram tais atentados contra os direitos humanos e os jovens idealistas deste país?”.
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Se ainda não foram punidos e conseguem esconder-se sob os mais hilários disfarces, isso só ocorre por conta do desrespeito e da omissão do Estado brasileiro em garantir o inalienável Direito à Memória e à Verdade às vítimas, a seus familiares e a toda sociedade.
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Mesmo que reparações econômicas às vítimas e seus familiares tenham ocorrido nos últimos anos, o Brasil até agora não realizou os demais mecanismos e estratégias tidos como imprescindíveis para enfrentar o legado de violências de um regime autoritário – que ainda se perpetua em alguns órgãos da administração pública. Os sintomas são claros: os violadores de direitos humanos não foram investigados, processados e punidos; os criminosos envolvidos em instituições relacionadas ao exercício da lei, bem como os que ocupavam outras posições de mando e autoridade, não foram afastados de seus respectivos cargos públicos. É certo que algumas poucas instituições responsáveis por disseminar a violência foram extintas, mas outras não foram sequer reformuladas. Enquanto outros torturadores, prevendo que um dia os acossaríamos, demitiram-se desses órgãos com o rabo entre as pernas, e assim permanecem até hoje, tentando disfarçar seu passado de horrores com um sorriso amarelo.
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A ditadura continua presente! O que fazer?
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Resgatar, atualizar e reconfigurar manifestações artísticas de resistência à ditadura?
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As cédulas carimbadas com as frases “Quem torturou Dilma Rousseff?”, “Quem torturou Frei Tito?” e “Quem matou Alexandre Vannucchi Leme?” marcam o início desta experiência.
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Comentários

  1. O livro BRASIL NUNCA MAIS não faz alusão alguma à Dilma Rousseff (com este ou outro nome qualquer) nem mesmo quando comenta sobre o assalto ao cofre de Ademar de Barros. Isso será feito nas próximas edições?

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