Ocupação de Wall Street Redescobre a Imaginação Radical
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Os jovens
que protestam em Wall Street e além rejeitam esta ordem econômica vã. Eles
vieram para resgatar o futuro
Por que
as pessoas estão ocupando Wall Street? Por que a ocupação — apesar da mais
recente repressão policial — espalhou fagulhas através dos Estados Unidos,
inspirando em alguns dias centenas de pessoas a mandar pizzas, dinheiro,
equipamento e, agora, a começar seus próprios movimentos chamados
OccupyChicago, OccupyFlorida, Occupy Denver ou Occupy LA?
Existem
razões óbvias. Estamos vendo o começo de uma desafiadora auto-afirmação de uma nova
geração de norte-americanos, uma geração que está vendo um futuro de educação
sem emprego, sem futuro, mas sob o peso de uma dívida enorme e sem perdão. A
maioria, descobri, é da classe trabalhadora ou de origem modesta, meninos e
meninas que fizeram tudo o que foi recomendado a eles: estudaram, entraram na
faculdade, e agora não apenas estão sendo punidos, mas humilhados — diante da
perspectiva de serem tratados como zeros à esquerda, moralmente reprovados.
É
realmente surpreendente que eles gostariam de trocar uma palavra com os
magnatas financeiros que roubaram seu futuro?
Assim
como na Europa, estamos vendo o resultado colossal de um fracasso. Os ocupantes
são pessoas cheias de ideias, cujas energias uma sociedade saudável deveria
aproveitar para melhorar a vida de todos. Em vez disso, elas estão usando a
energia em busca de ideias para derrubar todo o sistema.
Mas o
fracasso maior aqui é da imaginação. O que estamos testemunhando pode ser
também uma demanda para finalmente ter um debate que todos nós supostamente
deveríamos ter tido em 2008. Aquele era um momento, depois do quase-colapso da
arquitetura financeira do mundo, em que qualquer coisa parecia possível.
Tudo o
que havia sido dito a nós nas décadas anteriores provou-se mentira. Os mercados
não eram auto-reguláveis; os criadores de instrumentos financeiros não eram
gênios infalíveis; e as dívidas não tinham de ser verdadeiramente pagas — na
verdade, o dinheiro em si mostrou-se um instrumento político, trilhões de
dólares podendo ser inventados durante a noite quando os bancos centrais ou
governos assim quisessem. Mesmo a [revista britânica] Economist deu manchetes
como “Capitalismo: Foi uma boa ideia?”.
Parecia o
tempo para repensar tudo: a própria natureza dos mercados, do dinheiro, da
dívida; de se perguntar para que serve uma ‘economia’. Isso durou talvez duas
semanas. Então, numa das mais colossais faltas de coragem histórica, nós todos,
coletivamente, colocamos nossas mãos sobre as orelhas e tratamos de tentar
colocar as coisas o mais próximas do que tinham sido antes.
Talvez
não seja surpreendente. Está se tornando crescentemente óbvio que a verdadeira
prioridade daqueles que dirigiram o mundo nas últimas décadas não era criar uma
forma viável de capitalismo, mas, em vez disso, nos convencer de que a atual
forma de capitalismo é a única forma possível de sistema econômico, e que seus
defeitos, portanto, são irrelevantes. Desta forma, todos assistimos sentados
enquanto o aparato desaba.
O que
aprendemos agora é que a crise econômica dos anos 70 na verdade nunca acabou.
Foi superada com crédito barato e pilhagem maciça no Exterior — esta última, de
nome “crise da dívida do Terceiro Mundo”. Mas o sul global lutou de volta. O
movimento de ‘alter-globalização’ foi, no fim das contas, bem sucedido: o Fundo
Monetário Internacional foi expulso do Leste da Ásia e da América Latina, assim
como agora está sendo expulso do Oriente Médio. Como resultado, a crise da
dívida chegou à Europa e à América do Norte, repleta do mesmo tipo de solução:
declare uma crise financeira, indique tecnocratas supostamente neutros para
gerenciá-la e em seguida se engaje numa orgia de pilhagem em nome da
‘austeridade’.
A forma
de resistência que emergiu parece marcadamente similar ao velho movimento de
justiça global, também: vemos a rejeição da antiga política partidária, a
adoção da mesma diversidade radical, a mesma ênfase em inventar novas formas de
democracia de baixo para cima. O que é diferente é o alvo: se em 2000 os
protestos eram dirigidos ao poder das novas burocracias planetárias sem
precedentes (Organização Mundial do Comércio, FMI, Banco Mundial, Nafta),
instituições que não prestavam contas democraticamente, que existem apenas para
servir aos interesses do capital transnacional; agora, é contra toda a classe
política de países como a Grécia, a Espanha e agora, os Estados Unidos —
exatamente pelas mesmas razões. É por isso que os manifestantes tem hesitado em
fazer demandas formais, já que isso significa o reconhecimento implícito dos
políticos contra os quais eles se revoltam.
Quando a
história for finalmente escrita, no entanto, é provável que todo este tumulto —
começando com a Primavera árabe — será lembrado como o tiro de largada de uma
onda de negociações sobre a dissolução do Império Norte-Americano. Trinta anos
de insistente prioridade na propaganda sobre a substância, do solapamento de
qualquer coisa que pudesse parecer base política de uma oposição, pode fazer
parecer aos jovens manifestantes que suas perspectivas são sombrias; e está
claro que os ricos estão determinados a garantir uma fatia tão grande quanto
possível das sobras, jogando uma geração inteira de jovens aos lobos para
garantir isso; mas a História não está do lado deles.
Talvez
seja bom a gente considerar as consequências do colapso dos impérios coloniais
europeus. Não levou ao sucesso dos ricos em agarrar toda a comida disponível,
mas à criação do estado de bem-estar social. Não sabemos exatamente o que vai
acontecer agora. Mas se os ocupantes finalmente conseguirem romper o controle
exercido durante 30 anos sobre a imaginação humana, como aconteceu nas
primeiras semanas depois de setembro de 2008, tudo vai novamente estar em jogo
— e os manifestantes de Wall Street e de outras cidades dos Estados Unidos
terão feito por nós o maior dos favores.
O
Movimento já atingiu 1015 cidades dos Estados Unidos ate hoje, 09/10/11.
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