Tambores de Guerra Contra o Irã

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O sarcasmo dos usurpadores.
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A aliança entre o imperialismo dos EUA e o sionismo que governa Israel é a grande ameaça contra a paz no mundo, evidência que se reforçou desde a semana passada quando os tambores da guerra voltaram a soar em Tel Aviv e Washington anunciando um provável ataque militar contra instalações nucleares no Irã.

O roteiro que levou à agressão contra o Iraque, em 2003, e contra a Líbia, neste ano, é reencenado nas chancelarias do imperialismo. Acusa-se o Irã de desenvolver um programa nuclear para finalidades militares (construir uma bomba atômica), alegação tão improvável e hipócrita quanto a mentira de dez anos atrás, que acusava o Iraque de produzir armas químicas, alegação que nunca foi comprovada – ao contrário, foi cabalmente desmentida.

As ameaças podem ser explicadas por vários pretextos. A correlação de forças no Oriente Médio tem mudado. Malgrado as agressões a povos e países soberanos, como na Líbia, o ambiente político não é tão favorável à execução dos planos imperialistas. Castelos de cartas cuidadosamente construídos por uma diplomacia mentirosa e belicosa, que enfatizava a ameaça contra a segurança de Israel, ruíram fragorosamente e o realinhamento de forças na região aprofundou o isolamento de Israel e o descrédito da diplomacia hoje comandada por Hillary Clinton. A catástrofe provocada no Iraque levou ao efeito, indesejado e imprevisto pela diplomacia dos EUA, de alçar o Irã a uma potência regional que precisa ser levada em conta. Por outro lado, o levante de populações árabes fez Turquia e Egito deslizarem para posições hoje consideradas inseguras para Israel. E a ameaça de repetir, na Síria, agressão semelhante à ocorrida contra Líbia parece encontrar obstáculos não calculados pelo imperialismo. Seus planos não prosperam, embora os cães de guarda rosnem com vigor contra o governo de Damasco.

Esta é uma parte do quadro. A outra, que os analistas militares (entre eles alguns oficiais graduados inclusive de Israel) levam em conta, é o inegável crescimento da capacidade militar e logística do Irã, dotado hoje de meios (mísseis) capazes de atingir Israel e mesmo algumas capitais europeias. Configura-se uma capacidade de reação grande, inaceitável para o imperialismo, mesmo que aqueles mísseis transportem armas convencionais e não a alegada bomba atômica que acusam o Irã de pretender construir. Além disso, outro fator inesperado e desestabilizador, para Israel e para o imperialismo, é a capacidade de mobilidade alcançada pela marinha iraniana depois da liberação, pelos novos governantes egípcios, da passagem de seus navios pelo canal de Suez, dando-lhes acesso ao Mediterrâneo e, em consequência, ao litoral de Israel.

Na semana passada, os rumores crescentes de uma preparação militar israelense para atacar o Irã, com apoio dos EUA, provocaram resposta iraniana imediata. Serão recebidos a bala – este foi o tom dessa resposta.

O apoio para uma aventura irresponsável e criminosa como essa tem sido vacilante. Os falcões de Tel Aviv e de Washington puseram os dentes de fora. O governo britânico declarou-se pronto a acompanhar a agressão contra o Irã; o “moderado” presidente de Israel, Shimon Peres, defendeu a ação militar; uma pesquisa mostrou uma população israelense dividida (41% a favor, 39% contra o ataque, e 20% sem opinião); e um general dos EUA, Jack Keane, defendeu, na Câmara dos Deputados de lá, o assassinato puro e simples de chefes militares iranianos.

A tensão vai crescer depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgar seu relatório (previsto para esta terça feira, dia 8) com “demonstrações” contra o programa nuclear iraniano. Mas já não é o mesmo xadrez enfrentado pelos belicistas de Washington quando tramaram, há uma década, e com apoio de Tel Aviv, a agressão contra o Iraque. Os EUA já não são a alegada única superpotência e sua capacidade financeira e sua credibilidade estão abaixo da crítica neste mundo multipolar onde o declínio relativo do imperialismo estadunidense é nítido.

Manifestações contrárias à aventura militar no Irã começam a aparecer. Rússia e França, por exemplo, alertaram para o agravamento da instabilidade regional que viria na esteira desse ataque. Os russos foram específicos e falaram que seria um “erro muito grave de consequências imprevisíveis”, alertou o chanceler Sergei Lavrov. E mesmo graduados militares de Israel, como dois generais que já foram chefes do Mossad (o serviço secreto local) condenaram a hipótese; um deles disse que seria “uma estupidez”. Ou “um suicídio”, como disse a emissora PressTV, lembrando o conjunto de mísseis desenvolvidos pelo Irã, com capacidade para atingir todo o território israelense.

A reação iraniana reforça estes temores. O imperialismo e os sionistas “sofrerão perdas enormes”, disse um general. Terão uma “resposta arrasadora”, disse outro, lembrando a capacidade iraniana de atingir os navios e bases militares dos EUA no Golfo Pérsico, além de deterem o controle do Estreito de Ormuz, por onde circula 40% do petróleo consumido no mundo. Este seria o preço alto a ser pago por uma agressão militar que, muitos pensam, poderia não chegar aos resultados esperados, pois o projeto nuclear iraniano é disperso e algumas instalações ficam em casamatas subterrâneas praticamente inatingíveis.

O mundo mudou num ritmo acelerado e desfavorável ao imperialismo e ao sionismo. É difícil prever o desdobramento das ameaças que se acentuaram desde o início de novembro, da mesma forma como é difícil prever as consequências de um ataque aventureiro e irresponsável contra o Irã. Nestes dias, só há uma certeza: a de que a ameaça real e concreta contra a paz e contra os povos está sediada não em alguma capital árabe mas nos salões das principais capitais do imperialismo, como Londres e Washington, coadjuvada com o ladrar dos cães de guarda de Tel Aviv.
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