O Livro de Amaury Ribeiro: A Porcaria Tucana Já Fede Há Muito
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O silêncio da Mídia comprometida
com a banda podre da política.
com a banda podre da política.
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Em apenas
quatro dias, a primeira edição do livro “A Privataria Tucana” estava esgotada,
com 30 mil exemplares vendidos. As primeiras 15 mil cópias do livro do
jornalista Amaury Ribeiro Jr., desapareceram em menos de 24 horas das
principais livrarias do País. Um sucesso inegável. O êxito editorial é um
reconhecimento do esforço de apuração do repórter, que passou mais de dez anos
investigando as maracutaias das privatizações na era Fernando Henrique Cardoso.
“Mas se esta mesma obra tivesse sido lançada dez ou 15 anos atrás, ela poderia
ter amargado um fracasso de vendas”, especula o jornalista e sociólogo Venício
Artur de Lima, professor aposentado da Universidade de Brasília. “A chamada
grande mídia ignorou solenemente as denúncias do livro e, não fosse pela
repercussão na internet, em blogs e redes sociais, dificilmente teria entrado
para o debate público como ocorreu.”
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A omissão dos principais
veículos de comunicação revelou, sobretudo, a seletividade da mídia tradicional
na cobertura dos escândalos políticos. As exceções,como de hábito, foram raras.
A Revista Semanal CartaCapital antecipou aos leitores, em reportagem de capa
com 12 páginas, as principais denúncias feitas por Ribeiro Jr., fartamente
documentadas no livro, além de -divulgar com exclusividade trechos da obra. A
TV Record, que emprega o repórter-autor, também dedicou parte significativa do
seu noticiário ao tema, assim como a revista eletrônica Terra Magazine, editada
por Bob Fernandes. Ficou por aí. Enquanto os principais jornais e telejornais
se calavam, quem cuidou de manter o debate aceso foram os internautas, tanto em
textos publicados em blogs,como nos incalculáveis comentários que se alastraram
pelo Facebook, Twitter e outras redes sociais. Diante da dificuldade de
encontrar o livro nas prateleiras das livrarias, multiplicaram-se os boatos
sobre um possível boicote. E também versões -digitalizadas da obra na web.
“Muita gente baixou cópias.
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O silêncio dos jornalões
impressionou até mesmo profissionais calejados, acostumados a combater o jogo
rasteiro da mídia tradicional. “Sete ministros da presidenta Dilma já caíram,
sempre em razão de denúncias de corrupção ou de tráfico de influência. Em todos
os casos, a mídia cumpriu o seu papel. Investigou e mancheteou...
Impiedosamente. A oposição botou a boca no trombone,como lhe cabe fazer. Mas,
desde sexta-feira 9, o que se ouve é um estrondoso silêncio”, criticou
Fernandes no Jornal da Gazeta, três dias após o lançamento do livro.
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“Alguém invocou a
credibilidade do Sombra, aquele que recebia e pagava (propina) e que levou à
queda do governador José Roberto Arruda (do Distrito Federal)? Ou dos motivos
que levaram Roberto Jefferson a denunciar o mensalão? E o policial João Dias,
que recebia dinheiro,como confessou há pouco, mas levou à queda do ministro do
Esporte, Orlando Silva?”, indagou?“ Os citados no livro A Privataria Tucana
seguem em profundo silêncio. A mídia, sempre pronta a investigar e
manchetear,como é de seu ofício, também segue em silêncio. Um silêncio
estrondoso. Se continuar assim, um silêncio revelador.”
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Entrincheirado em seu blog, o
jornalista econômico Luis Nassif foi um dos primeiros a repercutirem a última
reportagem de capa de CartaCapital e esmiuçar as denúncias do livro, ao lado de
Luiz Carlos Azenha, Paulo Henrique Amorim e Rodrigo Vianna. “Ao juntar todas as
peças do quebra-cabeça e acrescentar documentos relevantes, Amaury escancara a
história recente do País. Fica claro por que os jornais embarcaram de cabeça na
defesa de Daniel Dantas, Gilmar Mendes e outros personagens que os indispuseram
com seus próprios leitores”, escreveu. Na avaliação de Nassif, a mídia firmou
um grande pacto com Serra em 2005, com duplo objetivo: um, não alcançado, de
ajudá-lo a se tornar presidente da República; o outro, levado a cabo, foi a
blindagem contra qualquer tipo de denúncia. “Foi um comprometimento tão amplo,
orgânico, que agora a velha mídia não repercute mais nada que deponha contra
Serra. De um modo geral, a imprensa brasileira sempre teve uma cobertura
partidarizada, mas havia um espaço mínimo de debate. Um colunista podia,
eventualmente, discordar da linha editorial do jornal. Havia mais sensibilidade
para oferecer informações de interesse do leitor. Goste ou não do livro do
Amaury, não se pode ignorá-lo. Deve ser debatido nem que seja para rebater o
que está escrito lá. Isso expôs os próprios jornalistas da mídia tradicional ao
ridículo. Quem tem perfil em redes sociais está sendo cobrado pelos leitores.”
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De fato, sobram exemplos de
jornalistas constrangidos na web. No Twitter, por exemplo, diversos colunistas
e analistas políticos perderam a esportiva quando indagados por internautas
sobre o seu silêncio em relação às denúncias. Lúcia Hippolito, comentarista da
Rádio CBN, justificou que ainda não havia tido tempo para ler o livro e
disparou contra um seguidor do seu microblog: “Por favor, não gosto de ser
pautada. Não gostava na ditadura, não vou aceitar na democracia. Vou ler o
livro com atenção e comentar”. Ricardo Noblat, colunista do jornal O Globo,
afirmou que comprou um exemplar, mas o lê “sem pressa”. Cobrado por leitores,
fugiu pela tangente: “Lula disse mais de uma vez que a grande imprensa não
forma opinião. Não é levada em conta. Portanto, o livro do Amaury não precisa
de resenhas na grande imprensa para vender bem. As redes sociais se
encarregarão disso. Não é?” Também Dora Kramer, colunista do Estado- de S.
Paulo, viu-se numa saia justa diante das cobranças na internet: “Se a ‘mídia
golpista’ não tem a menor importância, por que querem tanto que a imprensa
comente o livro?” A jornalista perguntou e ela própria sabe qual é a resposta.
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Na avaliação de Venício Lima,
esse tipo de embate deve se intensificar ainda mais, conforme a internet é
popularizada no Brasil. “A verdade é que a mídia perdeu o monopólio para ditar
a pauta do debate público. Novas fontes de informação política surgiram na web,
com a possibilidade de interação com os leitores, e essas fontes são
consultadas. Independentemente da vontade da grande mídia, o tema tem sido
debatido intensamente nos últimos dias, o que forçou alguns jornais, como a
Folha de S.Paulo e o Estadão, a se pronunciarem, ainda que timidamente, numa
tentativa de desqualificar o autor do livro”, afirma. “Eles sabem que precisam
entrar nesse debate, porque o que está em jogo é a credibilidade deles. Não dá
para continuar atuando como um partido político, atacando os rivais e
protegendo os amigos, porque esse tipo de postura é denunciado na internet. Não
é à toa que há muito tempo eles perdem leitores e audiência.”
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Para o jornalista Paulo
Henrique Amorim, apresentador do Domingo Espetacular, da TV Record, e editor do
site Conversa Afiada, o fenômeno pode ser comparado à Primavera Árabe. Apenas a
sua página na internet viu a audiência crescer 20% desde o lançamento do livro
de Amaury, passando de 42 mil acessos diários para mais de 52 mil. “A internet
ajudou a desmascarar Serra e a imprensa golpista, que está se enterrando
agarrada às entranhas do nosso Mubarak. Digo isso porque o Serra está com a
mesma saúde política do Mubarak. As farsas do tucano durante a campanha de
2010,como o espetáculo da bolinha de papel, foram desmascaradas na web. A mídia
sempre deu respaldo às calhordices dele, e agora perdeu a credibilidade.”
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Amorim foi um dos primeiros a
revelarem que Ribeiro Jr. preparava um livro contundente sobre as maracutaias
das privatizações. Quando ficou sabendo da disputa interna na cúpula da
campanha de Dilma, entre os grupos de Rui Falcão e de Fernando Pimentel,
procurou Amaury para perguntar sobre o suposto dossiê que preparava contra
Serra. “Ele negou a existência de um dossiê, mas confirmou que estava
escrevendo um livro sobre as privatizações. Na época, cheguei a publicar um
prefácio da obra, que nem chegou a ser aproveitado na versão final, mas que
resumia as denúncias. Desde então, passei a ser alvo de intensos ataques. Não
faltou quem dissesse que o livro não existia, era uma peça de ficção, mas eu
voltei a conversar com ele diversas vezes e ele me mostrava documentos, provas
do que dizia e às vezes deixava eu ler um capítulo concluído”, afirma. “Pois
bem, não era ficção. O livro está aí. E a mídia se recusa a falar sobre ele,
até porque não sabe como rebater as acusações. Essa é a pior imprensa de todas
as novas democracias. E sempre foi assim, covarde, partidária. É a mesma
imprensa caluniosa do tiro no peito de Getúlio Vargas, o boletim interno da
Casa Grande.”
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Na avaliação do jornalista
Rodrigo Vianna, que mantém o blog O Escrevinhador, “o livro fatalmente ficaria
restrito aos poucos veículos de comunicação mais críticos se os internautas não
fizessem barulho na web”. A audiência em seu blog cresceu de 20% a 30% após
noticiar o caso, um crescimento semelhante ao do site de CartaCapital. Em ambas
as páginas, os textos relacionados à “privataria tucana” foram recordistas de
comentários. “É evidente que a grande mídia tem um peso muito forte para
mobilizar a opinião pública. Consegue derrubar ministros e motivar
investigações oficiais com facilidade, mas ela não detém mais o monopólio da
agenda pública. Não consegue mais esconder um tema como esse. CartaCapital
chegou às bancas na sexta-feira 9 e em menos de 12 horas o Brasil inteiro
discutia a sua matéria de capa e o livro do Amaury. Quem tem acesso à internet
não ficou sem informação. Já os leitores da velha mídia não tiveram a mesma
sorte. Essa omissão pode sair caro.”
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Parafraseando o texto "O ruído virtual do silêncio"
Parafraseando o texto "O ruído virtual do silêncio"
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