Caso Eloá Deve Ser Enquadrado na Lei Maria da Penha
Desde o início da manhã de ontem - segunda-feira 13 – teve
início o julgamento de Lindemberg Alves Fernandes, acusado de matar a
ex-namorada Eloá Pimentel, aos 15 anos, em 2008, em Santo André, ABC Paulista.
Para o movimento de mulheres, o caso é um exemplo de violência doméstica, que
evidencia a desigualdade entre homens e mulheres e precisa ser tratado como
tal. E não um fato isolado, mais um crime que chocou a opinião pública, como
vende a grande imprensa.
“A grande mídia cobre com a perspectiva policialesca, isolando a violência
doméstica. Falta a compreensão da cultura patriarcal , de dominação sobre o
corpo da mulher, como se fosse propriedade privada. Ele a manteve sob cárcere
privado. Por isso, é preciso fazer uma crítica sobre o papel de formadora da
mídia. Ao invés de informar, somente reforça estereótipos”, afirmou Elza
Campos, coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM),
referindo-se à cobertura na ocasião da morte e agora.
As circunstâncias da morte de Eloá, em 15 de outubro, teve um forte
protagonismo da imprensa. A jornalista Sonia Abrão chegou a entrevistá-lo na
TV, durante cerca de 20 minutos, ao vivo, em rede nacional, enquanto ele
mantinha a menina na mira da sua arma.
Questionado se estava com medo de que algo acontecesse a ele, respondeu: “Eu
não estou com medo não. Antes de entrar aqui eu já sabia do risco que eu ia
correr, o que eu iria passar, já sabia mais ou menos o que iria acontecer”,
admitiu Lindemberg durante a entrevista.
“Eu queria acertar as contas com ela. Eu tentei sentar com ela na boa, para
conversar, e ela sempre virava as costas para mim. Então, tive que usar a força
para fazer ela me ouvir”, justificou o ex-namorado, ao ser questionado sobre o
porquê de sua ação.
Ou seja, desde o início a intenção era de “acertar as contas com ela”. Na
ocasião, diversas organizações de mulheres e de saúde assinaram uma carta onde
responsabilizavam a sociedade, que não acreditava que ele pudesse ser capaz de
matá-la.
O sequestro durou 101 horas, tornando-se o mais longo caso de cárcere privado
no Estado de São Paulo. Inconformado com o fim do relacionamento, o motoboy
invadiu o apartamento em que ela morava com a família, rendeu a adolescente e
um grupo de amigos que estudava em sua casa. Entre eles, sua amiga Nayara
Rodrigues da Silva, primeira testemunha a depor depois do recesso do almoço, na
tarde desta segunda-feira.
Nayara foi libertada depois dos dois colegas, na ocasião. No entanto, retornou
ao cativeiro para negociar com Lindemberg, com aprovação da Polícia. Segundo
declarações de agentes que acompanhavam o caso, a Polícia invadiu o cárcere
após um disparo ter sido ouvido de dentro do local. O saldo: Eloá baleada na
cabeça e na virilha, morrendo horas depois no hospital, e Nayara atingida de
raspão por uma bala no rosto.
"A Eloá falava o tempo todo que sabia que ia morrer", disse Nayara
durante o depoimento nesta segunda. Tanto é o medo que sente do acusado, que pediu
para depor sem a presença dele.
A advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, que mostrou vídeos sobre a cobertura
da imprensa e entrevistas feitas com os envolvidos, antecipou que usará em sua
argumentação a mídia e a polícia como principais elementos que contribuíram
para a tragédia. Mais cedo, a juíza Milena Dias autorizou a inclusão da mãe e
do irmão de Eloá na lista de testemunhas de defesa. Também foram dispensadas
outras cinco testemunhas, entre elas Sônia Abrão. Como deve ser triste, para as
pessoas de bem, serem advogados de defesa de seres como Lindemberg!...
Outros casos emblemáticos da violência contra a mulher ganharam as páginas
policiais e não tiveram o tratamento correto. Como o da cantora Eliana de
Grammont, então esposa do cantor Lindomar Castilho, que em 1981 matou Eliane
com um tiro no peito; e de Maristela Just, assassinada em abril de 1989, pelo
ex-marido José Ramos, em Jaboatão dos Guararapes, aqui no Grande Recife. O
cantor foi condenado a 12 anos e dois meses e cumpriu parte da pena em
liberdade. Já o assassino de Maristela está foragido desde quando foi anunciada
sua sentença, em 2010. Ele foi condenado a 26 anos de reclusão pelo homicídio
duplamente qualificado; por mais 39 anos e 2 meses pela tentativa de homicídio
qualificado contra seus dois filhos; e 14 anos pela tentativa de homicídio
contra seu cunhado.
Lindemberg Alves, hoje com 25 anos, é acusado de homicídio qualificado,
tentativa de homicídio qualificado, disparo de arma de fogo e cárcere privado
em um total de 12 acusações. Nos próximos dias, sete jurados irão ouvir 19
testemunhas, no Fórum de Santo André (SP), sendo cinco de acusação e 14 de
defesa. São eles que darão a sentença se Lindemberg é ou não culpado. A
expectativa é que haja algum veredito até quarta-feira.
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