"A Separação" - O Filme - Vitória em Terreno Inimigo
Saímos do cinema com a certeza de que, para um excelente filme, bastam uma excelente
idéia, alguma técnica sobre todas as minúcias
dessa arte, e muita, muita sensibilidade e confiança no próprio olhar, diferentemente das grandes produções norte americanas, que não dizem nada, além de serem extremamente repetitivas.
Nadja, minha mulher, é filha de ator premiado internacionalmente, e eu, com o meu “Tâmara, a Rainha do Cacareco”, eternamente sendo roteirizado, somos quase viciados em cinema, e voltamos com nossa filha Kekel pra casa comentando que não ia dar pra simplesmente ligar a TV e assistir qualquer coisa.
Nadja, minha mulher, é filha de ator premiado internacionalmente, e eu, com o meu “Tâmara, a Rainha do Cacareco”, eternamente sendo roteirizado, somos quase viciados em cinema, e voltamos com nossa filha Kekel pra casa comentando que não ia dar pra simplesmente ligar a TV e assistir qualquer coisa.
Ainda bem que não passou nenhum trailer antes do filme.
De repente nos vemos dentro de uma copiadora que recebe um a um os documentos do casal que pede o divórcio. Em seguida eles fitam os olhos de um juiz que não aparece, através da câmera que se posiciona bem à frente de cada um dos dois, enquanto tentam convencê-lo de que seu motivo é o mais forte, o mais justo.
De repente nos vemos dentro de uma copiadora que recebe um a um os documentos do casal que pede o divórcio. Em seguida eles fitam os olhos de um juiz que não aparece, através da câmera que se posiciona bem à frente de cada um dos dois, enquanto tentam convencê-lo de que seu motivo é o mais forte, o mais justo.
Somos nós aquele invisível juiz, e assim nos posicionaremos durante toda a trama, julgando as razões de cada um daqueles personagens, uns aprisionados a raízes religiosas e culturais, outros, como o casal em separação, a motivos pessoais e laços afetivos, sobrepujados por caprichos em não ceder aos pretextos do outro.
Um tema corriqueiro para nós ocidentais é realçado por
questões morais inflexíveis, religiosas aprisionadas ao Corão sobre o qual
ninguém corre o risco de jurar falsamente, mas, principalmente, por conta de um
roteiro poderoso, atento aos detalhes imprescindíveis, e com um ritmo que nos
mantém presos à tela.
Asghar Fahardi – produtor, roteirista e diretor – deixa no ar mais questões que respostas,
levando à reflexão sobre os vários temas abordados, inclusive se uma criança,
seja lá onde for, terá um futuro melhor no seu próprio país ou fora dele. É
um filme também honesto, e em nenhum momento tenta induzir ou manipular o
grande público a ser pró ou contra a cultura milenar do seu povo. Por
isso termina da única maneira que poderia terminar para ser o grande filme que
é, em aberto, marcado pela dor da filha.
A separação estreia aqui, após ter conquistado o
Urso de Ouro de melhor filme no último Festival de Berlim, além de dois Ursos
de Prata para o conjunto das interpretações masculina e feminina e o Globo de
Ouro de melhor filme de língua estrangeira. Nada mais justo. O novo
trabalho de Farhadi, diretor do também ótimo “Procurando Ely”, é um drama
poderoso, moral e social, e chega ao Oscar no próximo domingo, em "território inimigo", com força total.
Complemento em 27 de fevereiro de 2012.
O iraniano "A Separação" ganhou o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira ontem, domingo, durante a cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Complemento em 27 de fevereiro de 2012.
O iraniano "A Separação" ganhou o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira ontem, domingo, durante a cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas em Los Angeles, nos Estados Unidos.
"Neste momento, muitos iranianos em todo o mundo estão nos assistindo e
imagino que estão muito felizes", disse Farhadi ao receber o Oscar.
"Em um momento de cabo de guerra, intimidação e
agressões trocadas entre políticos, o nome do país deles, o Irã, é falado aqui
através de sua gloriosa cultura, uma cultura rica e antiga que tem sido
escondida sob a poeira pesada da política", afirmou.
"Eu orgulhosamente ofereço esse prêmio para o povo
do meu país, às pessoas que respeitam todas as culturas e civilizações e
desprezam hostilidade e ressentimento", acrescentou, numa alusão clara à
política beligerante norte americana.
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