Militares da Reserva Comemoram Assassinatos de Brasileiros
Alguns torturadores já moram em casas sem calçadas.
Em Campinas, no interior de São Paulo, trabalhadores que
ocupam uma fábrica, fundada durante o regime militar (década de 1970),
organizam o ato “Médici nunca mais!”, na quinta-feira (29), às 18 h. A
manifestação é um protesto contra a "festa" promovida pelo Círculo
Militar de Campinas, com o lançamento do livro “Médici – a verdadeira
história”, que terá a presença do filho do ex-presidente ditador Emílio
Garrastazu Médici. Outro grupo com envolvimento no evento militar é o Grupo
Inconfidentes, de militares da reserva saudosistas dos anos de chumbo.
“Mais do que o lançamento de um livro, trata-se de um ato político organizado
por militares com o fim de vangloriar a memória de um período autoritário
marcado por torturas, mortes, censura e desaparecimentos políticos.
Consideramos que o Brasil superou a ditadura de maneira oficiosa. Publicamos a
Lei da Anistia, que foi importante. Mas, infelizmente, muitas práticas surgidas
na ditadura ainda permanecem como a tortura, a repressão aos movimentos
sociais, e muitos representantes daquela época permanecerem nos setores das
forças de segurança, forças armas e setores políticos”, destacou Filipe Jordão
Monteiro, 25 anos, do Conselho de Fábrica da Flasko, na cidade de Sumaré, e
militante do movimento Juntos, de Campinas.
Durante o ato, que deve reunir nomes ligados aos direitos humanos da região,
diversos manifestantes se pronunciarão, além de panfletagem e de faixas de
protesto. Filipe enfatizou que o objetivo é criar um fato político e estimular
o debate na sociedade.
“Queremos criar um fato e estimular o debate na região. Mas, infelizmente, por
incrível que pareça, não é um tema que mobiliza tanto como algo mais palpável,
como uma reivindicação salarial, por exemplo. Mas, chegou o momento da
sociedade pressionar pela abertura dos arquivos da ditadura para conhecer a
verdadeira história e os nomes dos responsáveis por um período tão difícil para
o país”, completou o militante, que atua na mobilização de uma fábrica ocupada
por cerca de 70 trabalhadores, na cidade de Sumaré.
Segundo Filipe, o antigo proprietário da Flasko fugiu há nove anos quando
percebeu que estava falido, deixando os trabalhadores a própria sorte. Após uma
série de mobilizações, os funcionários se uniram e reergueram a produção
industrial de embalagens plásticas. Atualmente, apesar de ainda acumular
dívidas, a comercialização do material cobre as despesas com fornecedores e
paga os salários.
Há cerca de dois anos, a figura de Médici também mobilizou estudantes da
Pontifícia Universidade Católica (PUC) da cidade. Uma praça construída no
interior da Instituição de Ensino Superior (IES) levava o nome do ex-presidente
militar como uma homenagem ao terreno doado pela ditadura à instituição. Depois
de muita mobilização, os universitários rebatizaram a praça com o nome de Frei
Tito de Alencar Lima.
“A renomeação da praça não foi oficializada pela PUC, foi simbólica. Mas, a
universidade pelo menos retirou o nome do Médici da praça”, lembrou Filipe, que
se formou em Direito no ano passado.
Jovens organizados pelo movimento Levante Popular da Juventude promoveram
protestos na segunda-feira (em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte,
Fortaleza, Rio de Janeiro, Belém, Curitiba, Sergipe e Marabá, nesta
segunda-feira (26/3) contra agentes da ditadura militar que torturaram,
mataram, perseguiram militantes e pela instalação da Comissão da Verdade. Os
jovens fizeram uma ação, já bastante utilizada em países como Argentina e
Chile, chamada de “escracho”, quando são realizados protestos para denunciar a
participação de agentes dos regimes autoritários em perseguições, torturas e
assassinatos. No Brasil, os jovens apelidaram a ação de esculacho.
Outras ações que não foram de escracho, como colagem de cartazes, foram
realizadas em São Carlos, Rio de Janeiro, Salvador , Curitiba e Lages (santa
Catarina).
O movimento defende a Comissão da Verdade, criada para esclarecer situações de
violação aos direitos humanos, ocorridas entre 1946 e 1988, como tortura, morte
e ocultação de cadáveres. O órgão deve identificar os responsáveis pelas
violações. Os jovens manifestantes apoiam a presidente Dilma Rousseff na
indicação dos sete conselheiros que coordenarão os trabalhos.
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