A Revista Veja, de Cachoeira Abaixo
Se existia dúvida quanto à inclusão da revista Veja
no rol dos que serão investigados pela CPI do Cachoeira, a partir do vazamento
na internet do inquérito que foi enviado ao Congresso pelo ministro do STF
Ricardo Lewandowski, tal dúvida virou pó.
Quem deu o furo foi o controverso site
Brasil 247, que tem comprado briga com a Veja, com blogs progressistas,
reacionários e que, entre seus colunistas, conta com figuras antagônicas como o
petista José Dirceu e o tucano Artur Virgílio.
A importância do furo é tão grande e o conteúdo do inquérito tão explosivo que
o Jornal Nacional citou a fonte, de onde eclodiu uma cachoeira de acusações
contra o já exangue Demóstenes Torres e o governador Marconi Perillo, que
mantém ar impoluto apesar da lama que já lhe chega à cintura.
E é aí que entra a revista Veja, apesar de, por enquanto, continuar de fora dos
telejornais. A publicação aparece mal na fita, ou melhor, nas fitas das
gravações da Polícia Federal que figuram no inquérito.
Em um dos trechos largamente divulgados na internet, Cachoeira e companhia
aparecem decidindo em que seção da revista deverão ser publicadas informações
que passaram ao editor Policarpo Jr., informações que a quadrilha pretendia que
prejudicassem seus adversários nos “negócios”.
Como se não bastasse, a transcrição das escutas revela que as imagens do
ex-ministro José Dirceu se encontrando com membros do governo federal em um
hotel de Brasília que Veja publicou, foram fornecidas pelo esquema de
Cachoeira.
E essas são só algumas das muitas garimpagens que estão sendo feitas por uma
legião de internautas no material divulgado pelo 247, que ainda não inclui os
contatos do editor da Veja com a quadrilha apesar de ele e a publicação
aparecerem nos diálogos, o que sugere que ainda há material oculto.
Torna-se impossível, assim, que a CPI deixe de convocar, se não o dono da Veja,
Roberto Civita, ao menos o seu editor Policarpo Jr. a fim de dar explicações,
pois o que já vazou deixa claro que a mera relação fonte-repórter que a revista
alega era muito mais do que admite.
Diante da confirmação de maior envolvimento da Veja no escândalo, parece lícito
especular que, se a chapa esquentar, Policarpo pode receber uma proposta do
patrão: assumir sozinho ônus dessa relação inexplicável que fez de Cachoeira
uma espécie de ghost-editor da revista.
Esse tipo de proposta se baseia em pagamento de alta soma e apoio jurídico
integral. Como o bode expiatório, supõe-se, não tem passagens pela polícia,
torna-se réu primário, ou seja, não vai para a cadeia. E, depois de
ultrapassado o desgaste do processo, sai rico dele.
A Veja sairia chamuscada, mas sem responsabilização criminal. É o que está
acontecendo na Inglaterra, no caso Murdoch. Ele diz que “não sabia” de nada e
empurra a culpa para os funcionários. Só que não está funcionando. Mas isso é
na Inglaterra e estamos no Brasil.
Texto de Eduardo Guimarães, na Carta Capital.
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