Prenhez e Parto - Ou o Dia em que Nietzsche me Fez Sêmen, Ovo e Rebento.,










A Carol Caldeira, uma menina de braços abertos para a vida.



A vida marcha em minha direção sedenta e incontida, e deita sua escolha sobre mim sem me oferecer tempo para questionamentos e sem ouvidos que lhe permitam saber se estou pronto para o que me trás. E, entre perplexo e curioso, vejo, vivo, ouço e... Suspeito, espero. 

Sereno, sonho sonhos extraordinários, e os acolho em meus próprios pensamentos como raios espermáticos; e me iludo ao supor que vêem de fora, de baixo ou de cima, constituindo-se agora em meus próprios acontecimentos, em minhas próprias singularidades, em minhas próprias experiências, gozos e sofrimentos, como se calmarias e tempestades fossem. 

E agora já sou eu mesmo um temporal caminhando prenhe de novos raios e coriscos que tanto ferem como acariciam. Um vento cortante me conduz, aparentemente a ermo, levando minha carga de prótons a inteirar-se para daí acender silenciosos e fantásticos relâmpagos. Minha prenhez me faz agora um homem fatal com o destino irrevogável de parir, em torno do qual há sempre murmúrio, bramido, rompimento, susto, expectativa, inquietude. 

E aí, eu e a vida parimos juntos o mesmo parto, embora apenas ela acolha o rebento que nasce atroadoramente, e que some de mim chispando faíscas que irão acariciar e ferir. E o homem que sou agora é o de antes, o do princípio, que tantas vezes fugiu de si mesmo, que muitas vezes teve medo de si mesmo, mas, cuja extrema curiosidade, me fez voltar sempre ao cinzento das minhas entranhas e abri-las à vida disfarçadamente sem dor, para que ela, certeiramente, me emprenhasse outra vez.





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