Sobre Verdades, Mentiras, e o uso delas nas Redes Sociais
Debates incendiários têm
marcado a vida agitada no universo virtual do Facebook já há algumas semanas. O alto grau de octanagem destes debates e sua amplitude confirma a relevância do efervescente processo eleitoral brasileiro
e, por tabela, comprova o inacreditável sucesso da rede social que, com
apenas dez anos de existência, é
dona de um portfólio formado por
um bilhão de almas no planeta e mais de 80 milhões no Brasil. O Facebook
é, com toda justiça, a “jóia da coroa” do mundo virtual.
Talvez seja justamente essa
capacidade de garantir visibilidade em escala inimaginável a cidadãos
ignorados pelo mass media que,
somada à sanha verborrágica de alguns, explique
seu sucesso no Brasil e ajude a entender porque os usuários postam em suas páginas uma paleta de propósitos com tons tão variados:
fofocas, desabafos, brincadeiras, confissões, ofensas, desejos, cretinices, medos,
frustrações, provocações, cantadas, sacanagens, mentiras, propostas de pesquisas antiéticas e, enfim, verdades sobre miudezas e grandezas
profundas da condição humana.
Neste rol infindável de motivações, o Facebook, tanto pode ser
um divã de psicanalista virtual
quanto um diário de bordo no qual os usuários fazem questão de compartilhar com seus iguais (e muitas
vezes também com os diferentes), na tentativa de perpetuar suas conquistas, expor convicções, amenizar as dores
provocadas pelas chagas da alma que a
vida lhes impõe ou apenas exercer uma pretensa vocação para a
chacota no intuito de desacreditar as opiniões divergentes.
Isto ocorre porque, inaptos para reunir todos os elementos da vida social capazes de lhes propiciar uma análise realista e objetiva do mundo real, rendem-se às emoções
(principalmente as mais fortes, frutos de tragédias) e bebem de fontes contaminadas pelo senso comum mais raso possível (não raro os “hoaxes”, boatos de internet reproduzidos à exaustão) e que, por isso mesmo, são
incapazes de traduzir uma realidade per si profundamente densa. É um achismo temperado com uma
vocação irresistível à intolerância e, neste caso específico relacionado às
eleições, abruta-se a intolerância do status social, onde o anel no dedo, os endereços
chiques, os sobrenomes conhecidos da mídia – embora na maioria contaminados – e os saldos
bancários, passam a fazer toda a diferença.
Não falta quem guarde um desapreço crônico ao esforço de praticar os fundamentos que a vida em sociedade exige. É que dá muito trabalho fazer a lição de casa: pensar, debater com argumentos
sólidos, reconhecer erros mesmo
quando o interlocutor tinha tudo para se “dobrar” aos argumentos do “eu doutor”.
É duro mudar condutas, como fiz durante a copa do mundo quando misturei a
paixão pela “pátria de chuteiras” com as eleições presidenciais, até ser
alertado por um dos meus filhos sobre o equívoco que estava comentendo. Muito
mais fácil e divertido é
condenar, ignorar, satirizar, amedrontar e hostilizar
os que pensam de modo diferente e que não pertencem ao nosso grupo de interesse,
independentemente do desconhecimento que se tem da história de vida do outro, quais
as lutas que ele venceu sozinho e contra quais “poderosos”, quantas vezes teve
que se reerguer e caminhar destemidamente em frente
É o que temos na República Federativa
do Brasil. E, por extensão, no nosso mundo virtual paralelo,
a República Federativa do Facebook. O segundo não exatamente feito sob medida para o primeiro. Mas
com a sua cara. A mesma que precisamos
reinventar (começando por nós mesmos) para sermos a Nação socialmente desenvolvida e igualitária que um dia seremos
plenamente, pois esse processo já começou, para desespero dos que se acham
poderosos o suficiente para satirizar e ameaçar quando a verdade lhes inquieta.
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