KOTSCHO APONTA “TABELINHA” ENTRE MÍDIA E JUDICIÁRIO
"Já não dá para saber se é a mídia
que pauta o Judiciário, ou vice-versa, na mesma data. Nem é preciso citar
nomes, para não fulanizar a questão, tão descarada é a atuação de alguns dos
líderes desta aliança, que se autonomeou defensora da ética, do bem e dos
'brasileiros decentes'", escreve o jornalista Ricardo Kotscho, em seu blog.
247 – Em novo artigo em seu blog,
o jornalista Ricardo Kotscho aponta a existência de "uma sólida aliança
construída nos últimos tempos" entre a mídia familiar e "alguns
representantes das mais altas instâncias do Judiciário a serviço do
tucanato". Ele cita primeiramente o exemplo do chamado 'mensalão' e agora
o do 'petrolão'.
"Já
não dá para saber se é a mídia que pauta o Judiciário, ou vice-versa, na mesma
data. Nem é preciso citar nomes, para não fulanizar a questão, tão descarada é
a atuação de alguns dos líderes desta aliança, que se autonomeou defensora da
ética, do bem e dos "brasileiros decentes" (em alguns casos, parece
até brincadeira...)".
Leia
a íntegra:
A mídia livre contra a velha
mídia e a Justiça tucana
"O
Brasil vive não somente uma crise moral, mas também a da razão. Talvez prepare
o caminho para outra, maior e fatal. Algo é certo: o Brasil não está maduro
para o jornalismo honesto".
(Assim termina a coluna de Mino
Carta, na Carta Capital desta semana, publicada sob o título "Gigolette em
Estocolomo", que vale a pena ler).
***
Algo
de revolucionário anda acontecendo na relação entre produtores e consumidores
de informações em nosso país. Esta semana, por exemplo, destaquei uma
contradição entre o bombardeio sem tréguas desfechado pela velha mídia familiar
contra Dilma Rousseff e o PT, ao mesmo tempo em que a aprovação e a
popularidade da presidente subiam no Ibope.
Chamo
de velha mídia familiar os grandes grupos de comunicação comandados pelos
herdeiros de meia dúzia de barões, em contraposição à nova mídia livre que se
tornou possível, e não para de crescer, desde o advento da internet, que
permitiu a todo mundo se tornar, ao mesmo tempo, emissor e receptor de
informações e opiniões.
Trata-se,
enfim, da democratização da mídia, com a multiplicação de plataformas e
agentes, acabando com o poder dos donos da verdade e seus porta-vozes, os
antigos "formadores de opinião", hoje hospedados no Instituto
Millenium.
A
primeira vez em que notei esta clara oposição entre a nova e a velha mídia foi
na campanha presidencial de 2010, quando o então candidato tucano José Serra batizou
todos os que se opunham a ele de "blogs sujos", certamente para
diferenciá-los dos "blogs limpinhos" e seus donos, que o apoiavam.
Desta
forma, os jornalistas não alinhados ao tucanato estariam condenados ao opróbio,
blogueiros sem ccredibilidade, mas, com bom humor, muitos deles até adotaram a
classificação nos encontros que passaram a promover para unir forças.
A
divisão das mídias voltou a ser feita esta semana pelo jornal Folha de S.
Paulo, ao divulgar os gastos com publicidade feitos pelo governo federal e as
empresas estatais, no período entre 2000 e 2013.
Na
divisão do bolo, segundo o próprio jornal, os grandes grupos da velha mídia
ficaram com R$ 8,66 bilhões, restando cerca de 0,5% deste valor para o que a
Folha definiu como "mídia alinhada ao governo", ou seja,
chapa-branca.
Diante
desta disparidade colossal, Mino Carta, com a agudez de costume, comentou em
sua coluna:
"Dirá
o desavisado: alinhados e mal pagos (...). Ao listar os pretensos alinhados e
não qualificar os demais, a Folha nos atribui o papel de jornalistas de partido
e com isso fornece outra prova: como sempre, obedece aos seus naturais pendores
e, no caso, manipula a informação e omite a qualidade dos demais, alinhados de
um lado só, guiados pelo pensamento único enquanto, hipócritas inveterados,
declaram sua isenção, equidistância, pluralidade. Ou seja, inventam e
mentem".
Por
mais que estejam perdendo audiência e circulação, estes veículos da velha mídia
mantêm poder e faturamento, graças a uma sólida aliança construída nos últimos
tempos com alguns representantes das mais altas instâncias do Judiciário a
serviço do tucanato, como vimos no episódio do mensalão e se repete agora com o
que chamam de petrolão.
Na
verdade, esta tabelinha entre os nobres da mídia e da Justiça ocupa o espaço
deixado pela oposição partidária, agora mais destrambelhada e perdida do que
nunca no combate ao governo petista, como já admitiu a própria Associação
Nacional dos Jornais (ANJ).
Já
não dá para saber se é a mídia que pauta o Judiciário, ou vice-versa, na mesma
data. Nem é preciso citar nomes, para não fulanizar a questão, tão descarada é
a atuação de alguns dos líderes desta aliança, que se autonomeou defensora da
ética, do bem e dos "brasileiros decentes" (em alguns casos, parece
até brincadeira...).
Ou
alguém pode acreditar que eles estão mesmo preocupados em combater os fichas
sujas da política (até o nosso eterno Paulo Maluf voltou a ficar com a ficha
limpa, graças à Justiça) e os desmandos na Petrobras, já que o único objetivo é
privatizar nossa maior empresa, de preferência nas mãos de empresas
estrangeiras?
Como
escrevi aqui na sexta-feira, não faço nenhuma questão de ter razão. Basta-me
escrever o que penso sem pedir licença a ninguém.
Agora,
abro este espaço para que os caros leitores do Balaio ocupem meu lugar e também
digam o que pensam sobre o assunto. Não precisam concordar comigo. Mídia livre
é isso: cada um pensa e diz o que quer. Manifestem-se!
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