Juca Kfouri e os paneleiros das varandas gourmet
De Juca Kfouri,
hoje à tarde, em seu blog no UOL:
“O panelaço nas
varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.
Foi contra o
incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente
diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e
disputando vaga na universidade. ”
Como muita
clareza, ele observa:
“Nos dois últimos
anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.
Não por parte dos
trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.”
Verdade, Juca, e
como as forças que defendem os trabalhadores ficaram prisioneiras da geléia
geral do “país de todos” têm dificuldade de compreender que a grita dos ricos é
contra eles, como você mesmo diz.
Até porque os
pobres não apenas são tolerantes com os ricos como, é natural, os admiram, mais
que invejam.
Ao texto do Juca:
Nós, brasileiros,
somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano
passado.
Como somos capazes
de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal
vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf,
no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.
O panelaço nas
varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.
Foi contra o
incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente
diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e
disputando vaga na universidade.
Elite branca que
não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo
criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas
enxerga.
Como Luís Carlos
Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
“Um fenômeno novo
na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra
os pobres.
O pacto nacional
popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a
se unificar.
Surgiu um fenômeno
nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um
partido e a um presidente.
Não é preocupação
ou medo. É ódio.
Decorre do fato de
se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de
esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou.
Continuou
defendendo os pobres contra os ricos.
O governo revelou
uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.
Nos dois últimos
anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.
Não por parte dos
trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.
Quando os liberais
e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente,
continuaram de armas em punho.
E de repente,
voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”
Nada diferente do
que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem
que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou
tanto no país.
“Santa
hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não
ia parar nas redes sociais”.
Sejamos francos:
tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de
quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon,
como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
Ou a falta de
educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia
Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa
do Mundo.
Aliás, como bem
lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro
rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.
Já na zona leste,
em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta,
porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da
Eletropaulo e da Sabesp.
Dilma Rousseff,
gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
Que as vozes de
Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se
pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
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